Brasil consome o equivalente a 35,4 bi de caixas d’água para produzir PIB de um ano

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16/03/2018

Uma pesquisa inédita divulgada pelo IBGE na manhã desta sexta-feira revela que o Brasil consumiu o equivalente a 35,4 bilhões de caixas d’água (de 1 mil litros cada) para produzir o PIB do ano de 2015. Esse montante diz respeito a toda a água consumida por famílias, governo e empresas naquele ano para gerar os R$ 5,9 trilhões correspondentes ao PIB em valores correntes. O estudo Contas Econômicas da Água foi realizado em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA).

Isso significa que, na média geral, para cada mil litros (m³) de água que consome, a economia brasileira gera R$ 169,00. Essa relação funciona como um indicador de eficiência hídrica, onde é mais eficiente quem consome menos água para gerar mais riqueza. Entre as atividades, a agricultura se mostrou a menos eficiente, pois, para cada mil litros de água consumidos por ela, gerou apenas R$ 11 de riqueza, em 2015. Por outro lado, o setor de eletricidade e gás foi o mais eficiente, gerando R$ 846 para cada m³ consumido. As indústrias de transformação geraram R$ 269 e as extrativas, R$ 393.

Dos 6,2 trilhões de m³ de água disponíveis no país em 2015, cerca de 3,2 trilhões de m³ foram retirados da natureza para serem usados em alguma atividade econômica. Mais de 99% dessas retiradas foram devolvidas à natureza. Um exemplo disso são as hidrelétricas, que em 2015 devolveram ao meio ambiente o mesmo volume de água que retiram e usaram em sua atividade.

DESIGUALDADE NO ACESSO

Somente 0,5% dos recursos hídricos (ou 30,6 bilhões de m³) são, de fato, consumidos pelas famílias e pelas empresas. Número que, à primeira vista, sugere que o país tem estoque suficiente para atender a toda a população e atividades com igualdade. Na prática, isso não ocorre porque os recursos hídricos brasileiros estão muito concentrados no Norte, segundo a ANA. O que explica porque os moradores das regiões Nordeste e Sudeste sofrem tanto com desabastecimento.

— A seca no brasil é concentrada numa região com pouca chuva e água disponível, o caso do Nordeste. A abundância do Norte coloca esse estoque lá para cima, mas há um desequilíbrio entre as regiões — disse Michel Lapip, um dos coordenadores da pesquisa pela IBGE, complementando que um dos desdobramentos do estudo será mapear a quantidade de água disponível em cada região do país.

O superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, Sérgio Soares, complementa avaliando que também há um desequilíbrio de uso entre as atividades. Mas que, com os dados disponíveis a partir dessa pesquisa, podem ser trabalhados e corrigidos ao longo do tempo:

— Temos 12% da água doce do mundo. Estoque não é nosso problema, mas o desequilíbrio frente aos usos.

A agropecuária, além de ser a atividade menos eficiente na relação entre consumo e geração de riqueza, é a que tem a maior captação: em 2015 foram 32,5 bilhões de m³ retirados da natureza, depois vêm as empresas de captação, tratamento e distribuição da água, como a Cedae, que captaram 17,1 bilhões de m³, seguidas da indústria de transformação (6,1 bilhões de m³).

SETOR PRODUTIVO CAPTA A PRÓPRIA ÁGUA

No geral, os setores econômicos, diferentemente das famílias que pagam pelo serviço às empresas de abastecimento, captam água diretamente do meio ambiente para suas atividades: 95,7% da água usada nas indústrias de transformação e construção são captados diretamente da natureza. Praticamente o mesmo ocorre nas indústrias extrativas (99,3%) e na agropecuária (96,6%). Já entre as famílias, 91,1% da água vem das empresas de captação, tratamento e distribuição.

Soares, da ANA, esclarece que, apesar destas empresas terem captação própria, o uso dos recursos hídricos pode ser cobrado. Isso depende da existência de uma agência de água ou de bacia onde está localizada. Essas agências são entidades formadas por representantes da sociedade civil, empresas e Estado, que recebem e aplicam os recursos arrecadados naquela própria bacia. Estão autorizadas a funcionar por meio de uma lei, de 2004, mas ainda não foram regulamentadas pelo governo federal.

Em 2016, dado mais recente da ANA, dez agências atuavam no país, em diferentes bacias. Naquele ano, o valor arrecadado com a cobrança pelo uso de recursos hídricos foi de R$ 296 milhões.

— Esse comitê da bacia estabelece um valor a ser cobrado e esse valor arrecadado tem de ser investido na própria bacia, em projetos de infraestrutura de saneamento, melhoria do monitoramento da qualidade da água e outras ações — exemplifica Soares.

CRISE HÍDRICA FEZ FAMÍLIAS PAGAREM MAIS PELA ÁGUA

Os efeitos da crise hídrica ocorrida no país em 2015, reflexo da diminuição do volume de chuvas, ficam evidentes na pesquisa, que captou a relação entre água e atividade econômica nos anos de 2013 a 2015. O total de recursos hídricos renováveis no país – ou seja, toda a água disponível na superfície de nosso território – era de 7,4 trilhões de m³ em 2013, cresceu para 7,6 trilhões de m³ em 2014 e caiu, em 2015, para 6,2 trilhões de m³.

— Em 2015, as empresas de água e esgoto retiraram menos água do meio ambiente por conta da diminuição do volume de chuvas, que reduziu o volume de água disponível, e da crise econômica, que levou a um menor consumo de água. E, com a oferta menor de água, as famílias pagaram mais por ela, pois os reajustes aplicados nas tarifas cresceram — explicou Lapip.

O volume de água retirada do meio ambiente pelas empresas de distribuição sofreu uma queda acumulada de 3,8%, de 2013 para 2015. No mesmo período, o fornecido pela atividade água e esgoto para uso das famílias recuou 4,3%. Com a diminuição da oferta de água nesse período, as despesas das famílias com o consumo final de água de distribuição aumentaram 8,8%.

A PESQUISA

Pela primeira vez o IBGE divulgou as Contas Econômicas Ambientais da Água. O estudo segue as recomendações da Divisão de Estatísticas das Nações Unidas. Segundo o IBGE, poucos países no mundo já elaboraram suas contas econômicas da água. Por isso, a comparabilidade internacional dessas informações ainda está sendo construída. O instituto de pesquisa brasileiro informou, ainda, que planeja desenvolver contas econômicas sobre a energia, as florestas e os ecossistemas do Brasil, também seguindo as recomendações da ONU.

Fonte: O Globo