Mesmo com recessão de 3,8%, demissões caíram em 2015

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16/01/2017

O ano de 2015, marcado pela maior recessão desde 1990, de 3,8%, foi o ano que teve a menor parcela de demissões desde 2004, num movimento a princípio surpreendente. O economista da PUC Gustavo Gonzaga, a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, mostra o paradoxo desse comportamento no mercado de trabalho. O saldo só ficou negativo em 1,5 milhão de vagas porque as admissões caíram muito. Em 2015, foram menos 542 mil demissões. Em relação ao estoque de trabalhadores com carteira assinada, as dispensas sem justa causa representaram 30,4% desse montante em 2015, menor que os 32,2% em 2014, cenário que deve se repetir em 2016, mais um ano de crise.

Gonzaga diz que esses números indicam a quantidade de falsos acordos de demissão no mercado de trabalho. Quando a economia está aquecida e há possibilidade de se encontrar um novo emprego com mais facilidade, os trabalhadores acabam entrando em acordo com os patrões para conseguir tirar o FGTS, única maneira de ter acesso ao fundo, sem estar doente, se aposentar ou comprar casa própria. Em tempos de crise, o movimento diminui:

— Os salários são muito baixos, a perspectiva de crescimento é pequena. Não tem perspectiva de ascensão salarial, e o trabalhador tem vários benefícios a receber. Se for período de crescimento, ele vai valorizar mais esses benefícios. E o empregador se livra de possível passivo trabalhista.

Além disso, nos acordos, os trabalhadores costumam devolver a multa de 40% sobre o fundo.

João Saboia, da UFRJ, diz que o número à primeira vista surpreende, mas já era esperado:

— É o famoso jeitinho brasileiro funcionando no mercado de trabalho. O grosso da rotatividade no Brasil vem desses acordos. Em algum momento, o trabalhador vai tentar tocar no FGTS, por ver que está perdendo dinheiro.

Gonzaga diz que as regras do Fundo devem mudar. O governo permitirá saque de conta inativa:

— É preciso desvincular o Fundo da demissão. Por exemplo, quanto mais tempo na empresa, maior a remuneração. Criar um fundo de proteção ao emprego e não do desemprego. São 30% dos trabalhadores sendo demitidos todos os anos. O saque é enorme. Muitos por causa do sistema.

Fonte: O Globo.