ARTIGO – Não ao medo no ambiente de trabalho!

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20/04/2018

 

Lourival Figueiredo Melo

Será que o ambiente de trabalho é igual para homens e mulheres no que se refere a pressão? Evidentemente a pressão sobre cada profissional varia em função do ramo da empresa que este trabalha, da hierarquia do cargo que ocupa e uma série de outras variantes. Porém os diversos tipos de pressões como a pressão estética, pressão em relação a seu temperamento no decorrer do mês, pressão em relação a sua taxa de natalidade entre outras tem como alvo apenas as trabalhadoras do sexo feminino.

Para a mulher não basta ser uma excelente profissional, cumpridora de suas atribuições e metas propostas por seu empregador. Ela também deve ser bonita, ter boa aparência. As vezes esse é um atributo que consta até mesmo na especificação de uma vaga quando se determina que o profissional a ser contratado será uma mulher.

E o currículo dos profissionais? São analisados igualmente? Pesquisas observam que currículos com nomes masculinos costumam avançar por mais fases nos processos seletivos caso a competência explicitada nestes sejam semelhantes. Ainda nos dias de hoje a uma preocupação se a mulher contratada possui filhos ou não, se deseja ou não os ter, se os tiver pergunta-se quem cuidará deste caso seja contratada. As vezes há entrevistas que são tão invasivas que até se pergunta sobre o temperamento da candidata durante o seu ciclo menstrual.  As perguntas referentes a filhos dificilmente são realizadas pelo selecionador quando os profissionais entrevistados são homens. Situação vivida por Larissa dos Reis, 26 anos, formada em Gestão de Tecnologia da Informação que viu uma vaga quase garantida por sua formação em uma empresa no ramo de Prestação de Serviços escorrer pelos seus dedos quando o entrevistador perguntou se ela possuía filhos e ela responder que era mãe do Miguel na época com 1 e 8 meses. “Você tem alguém para cuidar do seu filho caso ele adoeça? O seu marido também trabalha?” afirma. Situação que o pai da criança nunca passou.

Após a contratação, para os profissionais masculinos a exigência é que se apresente ao trabalho com roupas limpas e bem alinhadas e com cabelo adequado ao ramo do empregador, todavia para as mulheres as exigências vão além. Se exige que a profissional esteja constantemente em busca de um padrão de beleza definido pela sociedade. Para elas não basta serem inteligentes e competentes elas devem ser belas, ou pelo menos aparentar beleza.

Mesmo que não seja explicitado em muitas empresas há uma pressão para que elas usem maquiagem e salto alto, mesmo que isso prejudique sua saúde, estejam com as unhas feitas e a depilação em dia. Se espera que tenha um corpo magro, afinal quilos a mais demonstra desleixo com a própria saúde ou falta de empenho em manter a dieta. Pensa-se: se ela não se empenha nem na dieta irá se empenhar no trabalho? Os seus cabelos devem sempre estar bem penteados, de preferência conforme a moda, e sem a aparição dos famosos fios brancos (comuns aos mais experientes) pois na mulher estes as envelhecem e nos homens normalmente são vistos como sinais de maturidade e até os deixa mais charmosos. Até se brinca: “Um homem sem barriga é um homem sem história”. Porém quando nesta afirmação trocamos o sujeito homem pela palavra mulher, a frase se torna falsa, pois mulheres com uma barriguinha um pouco maior são impelidas diariamente a fazerem lipoaspiração e outros procedimentos estéticos para só assim terem resgatadas sua autoestima.

Quando a empresa não adota uniforme as exigências aumentam. Pois ela deve sempre desfilar com roupas bonitas e não deve repeti-las constantemente e não só limpas e bem passadas como as do trabalhador. Esta roupa deve evidenciar aquilo que ela tem de melhor fisicamente, usos de decotes e roupas bem justas são até solicitados em funções que a mulher vai apenas entregar folders e folhetos da empresa, porém essa profissional não deve ter comportamento considerado vulgar pela sociedade machista e patriarcal. Este comportamento é apenas admitido caso a mulher tenha pretensões de crescimento profissional não baseado em seus atributos profissionais, mas em seus atributos físicos.

As trabalhadoras muitas vezes devem provar não apenas que são competentes naquilo que fazem, entretanto que são resistes a um ambiente de trabalho não só ruim, repleto de assédio moral e em muitos casos até assédio sexual pois temem retaliação. Resistem a tudo isso caladas pois desejam provar o seu valor profissional. Se mostram muito diferente do que é taxado pela sociedade paternalista e machista que as considera “sexo frágil”, e quando denunciam o assédio sexual, visto que muitas nem chegam a denunciar, essa denúncia em algumas ocasiões não é levada para instancias superiores e a trabalhadora deve conviver com o seu assediador correndo até o risco de perder seu emprego, caso esse seja seu chefe e decida mandá-la embora ao saber da denúncia.

Estes e outros são apenas indícios que a tão desejada igualdade de gênero é algo que estamos longe de alcançar na sociedade brasileira atual mesmo com todos os avanços que foram conquistados. Pois a discrepância não se apresenta apenas na questão salarial, onde verifica-se que muitas mulheres recebem em média 30% a menos que os homens no mesmo cargo, mais em outras diversas formas.

Portanto, companheiras, não vamos deixar que essa cultura machista de seleção ao emprego e o progresso profissional sejam repetidas, vamos tentar nos policiar para não reproduzirmos essas atitudes que verificamos ser tão opressoras. Dessa maneira cabe a cada uma de nós nos tornamos mais atuantes e modificadoras dessa triste realidade feminina.

Como a Janaína Flores Silva, 43 anos, que hoje é administradora no posto de combustíveis localizado no Distrito Federal. Ela começou a trabalhar em 2004 como frentista, engravidou duas vezes, trabalhou até ganhar seus bebês por opção dela, teve seus filhos, tirou o período de licença e emendou com férias para ficar mais tempo com as crianças. Após seu retorno foi promovida a caixa, passando por chefe de pista até que há 4 anos ela foi promovida a administradora da empresa.

Essa é a realidade não só dela mais de várias outras trabalhadoras pois esse posto em específico até prefere contratar mulheres no período do dia pois verificou-se que os clientes as consideram mais atenciosas. Todavia a quantidade de homens e mulheres contratados nesse posto é equivalente demonstrando que a instituição está preocupada em garantir a igualdade de gênero e diante da administração do posto, Janaína tenta sempre manter a equidade entre os gêneros oferecendo direitos e até certos benefícios aos empregados independentes do seu sexo. Afirma que “de forma alguma a empresa faz diferença entre homens e mulheres” e que “a empresa está sempre pensando não só no bem-estar da empresa, mas no bem-estar do trabalhador principalmente”. Com essa cultura a empresa tem pouca rotatividade o que é o único empecilho para o crescimento profissional dos atuais frentistas tanto mulheres quanto homens, pois quem está nos cargos acima tem muito tempo de casa e na visão da atual administradora não pretendem sair da instituição.

 

Brasília, 20 de abril de 2018.

Lourival Figueiredo Melo

Diretor Secretário Geral da CNTC

 

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