Em 2013, 87% dos acordos salariais tiveram reajuste real

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03/04/2014

Com inflação alta e indústria enfraquecida, a maior parte dos reajustes reais de salários em 2013 ficou abaixo do crescimento da economia brasileira no período, de acordo com estudo divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O levantamento, que tem como base 671 acordos coletivos realizados no ano passado, mostra que 67% das negociações salariais na indústria, comércio e serviços no Brasil resultaram em ganho real inferior a 2%. Neste período, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,3%.

Reajustes reais acima de 2% foram verificados em 20% dos acordos salariais firmados em 2013, menos da metade dos 41% contabilizados em 2012 e o menor percentual desde 2009, quando o país sofria os reflexos da crise internacional. No ano passado, 7% dos acordos salariais terminaram com reajuste igual à variação do INPC, indicador de inflação utilizado como base para as negociações. Em outros 6%, o aumento não foi suficiente para compensar a inflação.

Segundo o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, a forte queda na participação dos reajustes reais acima de 2% é reflexo da inflação, que tem permanecido em patamar elevado. “Se neste ano a inflação se elevar ainda mais, as negociações serão mais difíceis e haverá um risco de não se conseguir manter os atuais ganhos”, diz. “Mas o nosso maior problema não é a inflação em si. É a estrutura salarial, com preços muito elevados e salários baixos”, acrescenta.

O Banco Central estima que a alta no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerará de 5,9% em 2013 para 6,1% neste ano. Os economistas consultados pela autoridade monetária para o boletim Focus esperam avanço ainda maior, com a inflação chegando a 6,3% em 2014.

Presentes na apresentação do estudo, representantes das centrais sindicais enfatizaram que a tendência não é positiva para as negociações salariais. Além da influência da inflação, a rotatividade nas empresas e a defasagem na tabela do Imposto de Renda minimizam os ganhos para os trabalhadores, segundo eles.

Em 2013, 87% dos acordos coletivos resultaram em reajuste real de salários, abaixo dos 95% verificados em 2012 – melhor ano para negociações da série histórica preparada pelo Dieese, que tem início em 2008. Mas o desempenho no ano passado foi semelhante ao observado em 2010 e 2011, quando 89% e 87,5%, respectivamente, dos acordos salariais apresentaram aumentos acima da inflação. Em média, o reajuste real dos salários no ano passado foi de 1,25%.

O setor que apresentou maior percentual de negociações salariais com aumento real no ano passado foi o comércio, com 98% dos 111 acordos analisados com aumento real. Na indústria, os aumentos acima da inflação foram observados em 89% das 343 negociações pesquisadas e, nos serviços, em 78% de 217 acordos. Nos três setores, no entanto, a maior parte do ganho real ficou abaixo de 2%. Na indústria e no comércio, os aumentos reais mais frequentes ficaram entre 1% e 2% e, nos serviços, não chegaram a 1%.

Oliveira destaca que o comércio e os serviços são muito influenciados pelo salário mínimo, que em 2013 subiu 2,7% acima da inflação. Já a indústria, segundo ele, exerce influência indireta sobre as negociações em todos os segmentos. “Quando a indústria vai bem, ela não só dá reajustes maiores, como também influencia outros setores. Mas o quadro inverso também é válido.”

Nos acordos com abrangência nacional ou inter-regional, o percentual de reajustes acima da inflação foi menor (69%), enquanto nas negociações circunscritas a uma única região superaram 80%. O melhor resultado foi visto no Sul, onde 94% das negociações salariais resultaram em aumentos acima da inflação. No Sudeste, esse percentual foi de 90%, no Norte de 82%, no Nordeste de 81% e no Centro-Oeste de 87%. Houve redução, porém, no valor médio do reajuste real em todas as regiões. A queda mais expressiva foi verificada no Centro-Oeste, de 2,37% em 2012 para 0,97% em 2013. No Sudeste, o aumento médio real passou de 1,87% para 1,23% neste período.

Fonte: Valor Econômico.