Painel Econômico

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Diretor: José Francisco de Jesus Pantoja Pereira
Gerente de Relações Institucionais: Sheila Tussi da Cunha Barbosa
Analistas de Relações Institucionais: Renan Bonilha Klein
Tamiris Clóvis de Almeida
Victor Velú Fonseca Zaiden Soares
Assistente Administrativa: Quênia Adriana Camargo
Estagiária: Letícia Tegoni Goedert

Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilio

No final do mês passado uma fila de 3 mil desempregados se formou nos portões de uma construtora na Zona Norte do Rio de Janeiro para concorrer a 200 vagas, o que causou tumulto e um portão derrubado.

Cenas como esta retratam o quadro de crise econômica no país.

A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio elaborada pelo IBGE, a PNAD Contínua, confirmou mais uma alta na taxa de desemprego no país. A taxa, que na pesquisa anterior estava a 8,3%, passou para 8,6% no trimestre móvel finalizado em julho, sendo este o maior resultado desde quando a pesquisa começou a ser formulada. A gravidade do cenário de desemprego é verificada ao observar o nível de desemprego estimado no mesmo período do ano passado, quando a taxa se encontrava em 6,9%.
A massa de trabalhadores penalizada pelo fraco desempenho da atividade econômica do Brasil atinge o número de 8,6 milhões de pessoas a procura de um emprego. O expressivo crescimento no contingente de desempregados pode ser atribuído ao corte nos postos de trabalho com carteira assinada no setor privado. A redução corresponde a 337 mil trabalhadores neste setor.

Se por um lado a crise prejudica milhões de trabalhadores, por outro lado este momento de adversidade está forçando os trabalhadores a se reinventarem. O percentual de empregadores apresentou crescimento de 8,1% frente ao trimestre de maio a julho de 2014. Já os trabalhadores por conta própria registraram crescimento de 4,2%.
O rendimento médio real do trabalhador brasileiro não denotou variação significativa neste ano. A pesquisa estimou o rendimento de R$ 1.881 no trimestre de maio a julho de 2015 contra os R$ 1.897 no trimestre móvel de fevereiro a abril. Na comparação com o mesmo período do ano imediatamente anterior, houve aumento de 2% no poder de compra do trabalhador brasileiro (R$ 1.844), em especial os empregados da iniciativa privada tiveram seus rendimentos acrescidos em 2,9%.  Em contrapartida os trabalhadores domésticos e os empregados no setor público apresentaram variação negativa em seus rendimentos, reduções de 1,6% e 1,8%, respectivamente.

Volume de vendas no Comércio

As vendas no Comércio Varejista caíram no mês de agosto em 0,9% na comparação com o mês anterior ajustado sazonalmente. A receita nominal das empresas do setor acompanhou a variação negativa no volume de vendas com retração de 0,2%. No ano já é o sétimo resultado negativo consecutivo, correspondendo à perda acumulada de 6,4% no volume de vendas.

No caso do Comércio Varejista Ampliado, que inclui as atividades ligadas à venda de Veículos, motos, partes e peças e Material de Construção, a queda foi mais agressiva. No mês, a retração frente a julho foi de 2% para o volume de vendas e, 0,9% para a receita nominal na série com ajuste sazonal. Se comparado a agosto de 2014, o varejo ampliado apresentou recuo de 9,6% no volume de vendas e 2,5% na receita nominal. O resultado disso é reflexo do baixo desempenho do setor automotivo, em virtude da elevação do crédito e, principalmente, pelo endividamento das famílias.

A Gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Isabella Nunes, classificou a queda nas vendas comparadas a 2014 como um dos piores resultados já registrados.

“Esses sinais de menor ritmo da atividade das vendas no Varejo também são expressos na comparação com 2014, quando você tem uma queda de 6,9% disseminada na maior parte das atividades, sendo esta taxa a quinta taxa consecutiva nessa comparação e a maior queda desde março de 2003” disse Nunes.

Apesar das vendas terem assumido trajetória descendente desde dezembro de 2014, os varejistas apostam na Black Friday, que contribui para o crescimento das vendas no Natal. No Brasil a Black Friday vai para sua sexta edição neste ano. Na sua última edição chegou a impulsionar mais de 2,2 milhões de vendas.

Apenas duas atividades avaliadas pela Pesquisa Mensal do Comércio demonstraram variação positiva nas vendas, sendo elas: Artigos farmaceuticos, médicos, ortopedia e de perfurmaria (0,6%) e de equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação (1%). Os piores resultados foram registrados nas vendas de Veículos e motos (-5,2%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-2,6%) e Material de construção (-2,3%).

Renan

Saldo do Emprego no Comércio e Serviços

A crise volta a prejudicar os comerciários brasileiros. Em agosto o Comércio realizou mais de 331 mil admissões contra 344 mil demissões. O setor registrou o corte de quase 13 mil postos de trabalho. Somente o Comércio Varejista é responsável por mais de 10 mil cortes. Mesmo com a data comemorativa de Dia dos Pais não foi o bastante para impulsionar as vendas no mês, repercutindo diretamente na demanda de trabalhadores no setor.

No ano o Comércio acumula a perda de 224 mil postos de trabalho, figurando o segundo pior resultado do ano, perdendo apenas para a Indústria de Transformação. O resultado indica a contração de 2,38% do emprego no setor.

A justificativa para o péssimo resultado do mercado de trabalho se resume pela diminuição da renda disponível das famílias brasileiras e a elevada taxa de juros, o que afeta o consumo.

Sob outra perspectiva, o setor de Serviços verificou saldo positivo com a criação de quase 5 mil postos de trabalho.

Inflação

Poupança

O Banco Central do Brasil registrou no último mês a retirada de R$ 163,47 bilhões da poupança, o que proporcionou uma captação líquida negativa de R$ 5,29 bilhões. Somente neste ano o ativo acumula saldo negativo de R$ 53,79 bilhões.

Fatores como o aumento da taxa Selic, o avanço da inflação, a menor disponilidade financeira do trabalhador para a formação de poupança e o desemprego contribuem para o aumento nos saques da poupança. Pela nova regra aplicada ao investimento, que é de 0,5% a.m. mais a T.R., a poupança se tornou pouco atrativa para os investidores, visto que outros investimentos proporcionam retornos superiores a da poupança.

O patrimômio total da poupança caiu de R$ 645,11 bilhões em agosto para R$ 644,04 bilhões no mês de setembro. A queda dos rescursos disponíveis no investimento penalizam os programas de crédito habitacional, pois é a principal fonte de recursos do Sistema Financeiro de Habitação.

Cesta Básica

O valor médio da cesta básica diminui em 13 das 18 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatísiticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no mês de setembro. As maiores quedas podem ser observadas em Belém (-4,56%), Fortaleza (-3,88%) e Recife (-3,50%). Se nessas capitais os itens da cesta básica sofreram retração, em Florianópolis subiu 2,77% seguido por Vitória (0,99%) e Rio de Janeiro (0,74%).

A cesta básica mais cara para o trabalhador foi encontrada em Porto Alegre (R$ 385,70) e a mais barata em Aracaju (R$ 280,26). De acordo com o instituto de pesquisa, para que o trabalhador e sua família possam custear todas as despesas básicas estabelecidas na Constituição Federal com moradia, alimentação, transporte, educação e outras, o salário mínimo deveria estar em R$ 3.240,27, ou 4,11 vezes o salário mínimo vigente (R$ 788).

Os itens da cesta que ficaram mais caros foram: pão francês, café em pó, manteiga, carne bovina e batata. A alta registrada no pão francês é explicada pela desvalorização do real em relação ao dólar, o que encareceu a importação do trigo. O café teve variação positiva no preço em razão da diminuição da sua oferta, também motivado pela desvalorização do câmbio, pois estimulou as exportações do grão. Outros fatores como as chuvas no mês de julho e o menor desenvolvimento do grão contribuíram para a elevação do preço do café.

Assumindo direção oposta, o tomate, óleo de soja e a mandioca demonstraram redução nos preços pesquisados na maioria das regiões metropolitanas avaliadas.
De acordo com os dados coletados pela Food and Agriculture Organization (FAO) da ONU, o índice de preço dos alimentos no mundo conferiu alta em setembro frente a agosto. O índice registrava quedas desde março do ano passado. A alta foi motivada pela subida nos preços do leite e seus derivados e do açúcar.

Endividamento Familiar

O nível de brasileiros endividados apontou variação positiva no mês de setembro segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No mês anterior, o percentual de famílias endividadas estava em 62,7%. Já em setembro 63,5% das famílias consultadas pela pesquisa declarou possuir dívidas com cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro, ou seja, avanço de 0,8 p.p. em apenas um mês. Outro indicador que merece preocupação é o de famílias com dívidas ou contas em atraso. No mesmo período de 2014, a relação era de 19,2% e agora o percentual subiu para 23,1%.

E o aperto nas contas do lar é refletido na dificuldade de pagar as contas no final do mês e muitas famílias já estão deixando de honrar com algumas despesas. Quando em setembro do ano passado 5,9% das famílias entrevistadas na época declararam não possuir condições financeiras de pagar suas dívidas, a situação se agrava agora e sobe para 8,6%. A alta foi influenciada principalmente pelas famílias de baixa renda. Na faixa de renda até 10 salários mínimos o percentual apresentou elevação de 10%, em agosto, para 10,2% em setembro. No entanto a situação das famílias com renda superior a 10 salários mínimos é favorável, se mantendo estável ao observado no ano passado, em 2,7%.

O período das dívidas e contas em atraso também aumentou. Antes o tempo médio de atraso era de 58,4 dias e agora é de 61,2 dias. As dívidas com cartão de crédito aparecem em primeiro lugar no endividamento das famílias, seguida pelas dívidas com carnês e financiamento de carro.

A diminuição da renda real média dos trabalhadores e o encarecimento do crédito favoreceram o aperto no orçamento familiar. Caso o desempenho da atividade econômica do país não sofra uma forte mudança nos próximos meses, é provável que esta situação de endividamento das famílias permaneça.

Selic

As perspectivas do mercado se confirmaram na reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) que aconteceu nos dias 20 e 21 deste mês. O COPOM decidiu manter por unanimidade a taxa Selic em 14,25% a.a. A decisão não surpreendeu o mercado já que o Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, havia confirmado na semana passada em um evento do Fundo Monetário Internacional realizado no Peru a intenção de segurar a taxa básica de juros. Na ocasião Tombini afirmou que “o BCB entende que manter o nível atual da política de taxa de juros, por um período prolongado, é necessário para convergir a inflação para a meta até o final de 2016”.
No comunicado divulgado pelo Banco Central, a meta de convergir a inflação para 4,5% até o fim de 2016 foi abandonada e passou aceitar esta possibilidade somente para o final de 2017. O comportamento adotado pela autoridade monetária sugere que os juros devem se manter neste patamar por “período suficientemente prolongado”.
A atual política monetária adotada pelo Banco Central visa controlar o avanço da inflação por meio da inibição do consumo. Por outro lado, juros altos não estimulam a atividade econômica, o que compromete a geração de emprego.

A última reunião do ano está marcada para os dias 24 e 25 de novembro.

Dívida Pública

O Governo Federal está encabeçando medidas para conter o endividamento público, apesar dos esforços, não foram suficientes para limitar o avanço da dívida. Em agosto a Dívida Pública Federal (interna e externa) registrou elevação de 3,16%. O estoque da dívida alcançou a quantia de R$ 2,68 trilhões, sendo a maior parte pertencente à Dívida Pública Mobiliária Interna (95% do total da dívida).

No mês as emissões corresponderam a R$ 66,11 bilhões e os resgastes atingiram o valor de R$ 20,67 bilhões, resultando nas emissões líquidas (emissões – resgastes) de R$ 45,44 bilhões.

No final do ano passado a Dívida Pública Federal estava avaliada em R$ 2,29 trilhões, o que confere aumento de 13,28% só neste ano. A elevação de títulos da dívida interna e a desvalorização do real frente ao dólar contribuíram para essa situação. Isso indica que o Governo não está se esforçando suficientemente para reverter este quadro.
Os maiores detentores da dívida brasileira são as instituições financeiras (25,48%) seguidas pelos fundos de investimentos (20,53%) e pela Previdência (20,11%).

Indicadores de Mercado

Brasília, 23 de outubro de 2015.

Renan Bonilha Klein
Analista Econômico

Diretor: José Francisco de Jesus Pantoja Pereira
Gerente de Relações Institucionais: Sheila Tussi da Cunha Barbosa
Analistas de Relações Institucionais: Claudia Fernanda Silva Almeida
Renan Bonilha Klein
Assistente Administrativa: Quênia Adriana Camargo
Estagiárias: Tamiris Clóvis de Almeida
Letícia Tegoni Goedert

Entendendo a Dívida Pública e o porquê do ajuste fiscal

Quem acompanha os meios de comunicação deve se deparar todos os meses com notícias relacionadas à situação da dívida pública brasileira. Entretanto, a questão ainda é desconhecida por parte da população. Perguntas como “O que é a Dívida Pública Federal?” ou “Por que a Dívida Pública cresce a cada ano e o que o Governo está fazendo para conter o avanço dessa dívida?” são de interesse de toda a população.

Mesmo quem não compreende a questão da Dívida Pública sabe do crescimento do endividamento dos países, em especial os países europeus. No começo deste ano o mundo passou a prestar mais atenção ao cenário econômico turbulento da Grécia, que teve início em 2010 quando o país europeu teve de buscar ajuda financeira junto ao Banco Central Europeu (BCE) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para financiar o déficit público.

Os credores então concederam ao país o equivalente a € 240 bilhões, e em contrapartida a Grécia teria de cumprir um programa de reformas e ajuste fiscal a fim de reduzir sua relação dívida/PIB. Contudo o país postergou seu compromisso até o começo de 2015, quando começou um violento ajuste fiscal.

Na época a Dívida Pública grega era de 130% de seu Produto Interno Bruto (PIB) e hoje é superior a 180%. O PIB refere-se ao valor de todos os bens e serviços produzidos por um país. Ou seja, mesmo que todo resultado da atividade econômica do país em um ano fosse destinado ao pagamento da dívida ainda assim não seria suficiente para quitar a dívida.

Como disse uma vez o Ministro da Fazenda do período militar, o economista Delfim Neto, “dívida não se paga, administra-se” não foi um conselho seguido pelos gregos. Estima-se que a dívida tenha saltado de pouco mais de 20% na década de 80 para o patamar atual, principalmente logo após o acordo com os credores.

Diante de tamanho descontentamento da população com a condução da política fiscal imposta pelos bancos, a população se voltou às urnas para decidir se aceitariam continuar com as medidas de ajuste fiscal ou se não. O voto pelo “não” venceu com 61,31% de apoio, fortalecendo o apoio ao primeiro ministro grego, Alex Tsipras.

Pronto, o parlamento tem o aval da população para não seguir as regras impostas pelos bancos e poderá dar o calote na dívida, o chamado “default”. Todavia, a questão não é tão simples como parece, pois o futuro para a Grécia é incerto. Mas alguns cenários são possíveis de prever. O primeiro é a saída do país da zona do euro, obrigando o país a abandonar o euro e voltar a circular sua antiga moeda, o dracma. Com isso o Banco Central Europeu cortaria as linhas crédito ao país, e com uma moeda fraca levaria a inflação. Outro possível cenário é que o calote forçaria os credores a repensar as medidas impostas ao país grego e concedesse um novo resgate.

Mas então depois de toda essa explicação o trabalhador se pergunta: “E como essa crise na Grécia pode me afetar?”. Se a Grécia decidir não pagar mais seus credores, a crise que lá se instalou, acabaria por contagiar outros países europeus e em seguida poderia chegar aos países que ainda estão se recuperando dos efeitos da crise econômica, no caso o Brasil.

O que gera maior atenção ao crescimento da Dívida Pública brasileira para não se repetir o caso Grego ou o Argentino de 2001.

O que é a Dívida Pública Federal?

A Dívida Pública Federal (DPF) é composta pelas Dívidas Interna e Externa. A dívida é apropriada pelo Tesouro Nacional com o propósito de financiar operações definidas em lei e para refinanciar a dívida pública. Basicamente quando ocorre o décit orçamentário (receitas do governo são inferiores aos gastos) o Tesouro pode fazer dívida emitindo títulos públicos, conhecido como dívida mobiliária, ou pela celebração de contratos, chamada de dívida contratual.

Quando o pagamento e recebimento dos títulos ou contratos são realizados em moeda nacional, a dívida é caracterizada como interna. Já quando é emitida em moeda estrangeira, normalmente em dólar norteamericano, a dívida é classificada como externa.

Em junho de 2015, a Dívida Pública atingiu o montante de R$ 2,583 trilhões, sendo que 95% da dívida são de títulos públicos ofertados no mercado interno. Já a Dívida Pública Federal Externa (DPFe), que contempla a dívida mobiliária e contratual, fechou o mês de junho a R$ 121,28 bilhões.

O gráfico abaixo ilustra melhor essa ideia.
Distribuição da Dívida Pública

Fonte: Tesouro Nacional
Elaboração: CNTC

 

folha

Fonte: Folha de S. Paulo

 

A edição do Jornal Folha de S. Paulo de 14 de dezembro de 2005 dizia em sua capa que o país havia quitado sua dívida externa com o Fundo Monetário Internacional. Na época o Partido dos Trabalhadores utilizou o “feito” como propaganda, criando assim a falsa ideia de que o Brasil se livrou dos credores internacionais.

O que aconteceu foi o resgate antecipado de US$ 15,5 bilhões de parte da dívida junto ao FMI, por meio da emissão de títulos da dívida interna e externa a juros superiores ao que vinha sendo praticados pelo FMI.  Naquele período a dívida com  juro anual cobrado pelo FMI era de 4%, já os novos títulos emitidos variavam entre 8% (dívida externa) e 15% (dívida interna). A moral da história é que o Governo do ex-presidente Lula trocou uma dívida barata por outra mais cara.

Segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional, em janeiro de 2003 o estoque de Dívida Externa era de R$ 270,15 bilhões e a Interna equivalia a R$ 575,01 bilhões, totalizando uma Dívida Pública Federal de R$ 845,17 bilhões. Oito anos depois, a Dívida Externa caiu para R$ 88,22 bilhões, porém a Interna aumentou para R$ 1,55 trilhão. Enquanto a Dívida Interna aumentou 171% em apenas dois mandatos, a Dívida Externa caiu 67%.

Se a Dívida Pública for bem administrada, pode trazer benefícios para sociedade e melhorar o funcionamento da atividade econômica. Mas se for mal administrada pode comprometer boa parte do orçamento da União, tornando o Estado refém das medidas estabelecidas pelos credores.

O que são títulos públicos?

Como já mencionado acima, a Dívida Pública é formada, principalmente, por títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional. Os títulos são ativos de renda fixa (investidor é informado no ato da compra quanto irá receber no futuro) e podem ser qualificados de baixo risco, considerando que o risco do Governo aplicar “calote” é baixo.

Os títulos podem ser divididos em duas categorias:

  • Títulos Pré-fixados: o investidor sabe exatamente quanto irá receber até o final da aplicação;
  • Títulos Pós-fixados: o investidor é informado de quanto irá receber de acordo com a variação de um indexador.

Os títulos públicos mais conhecidos são:

  • Letras Financeiras do Tesouro (LFT): é um título pós-fixado atrelado à variação da taxa básica de juros (Selic). É indicado para o momento atual, já que o Banco Central realizou sete aumentos consecutivos na taxa e pretende continuar elevando a Selic até o final do ano;
  • Letras do Tesouro Nacional (LTN): é um título pré-fixado, pois permite o investidor conhecer com precisão no momento da compra quanto irá receber até o final da aplicação;
  • Notas do Tesouro Nacional Série F (NTN-F): é similar as Letras do Tesouro Nacional, entretanto este investimento paga juros semestralmente;
  • Notas do Tesouro Nacional Série B Principal (NTN-B Principal): é um título pós-fixado indexado pela variação da inflação oficial, ou seja, remunera em função de variações no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA);
  • Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B): A única diferença para o NTN-B Principal é que este título paga juros semestralmente.

Posto isto, os títulos públicos estão em alta, visto que apresentam rendimentos superiores a outros investimentos de mesmo risco. Os investidores estrangeiros encontram na Dívida Pública brasileira uma oportunidade para especular. Os títulos da dívida norteamericana, os Treasury Bond (T-Bond), remuneram bem abaixo dos títulos brasileiros.

Por que a Dívida Pública cresce a cada ano?

Segundo dados do Banco Central do Brasil, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que inclui o Governo Federal, INSS, governos estaduais e municipais, registrou no mês de junho o equivalente a 63% do PIB, sofrendo elevação de 0,5 p.p. em relação ao mês anterior. A autoridade monetária ainda divulga o resultado nominal, que contempla os gastos do setor público e pagamento de juros, apresentou um déficit de R$ 462 bilhões ou 8,12% do PIB nos últimos 12 meses. O resultado sugere que a arrecadação diminuiu e que o Governo ainda encontra dificuldades em reduzir suas despesas correntes.

Além do descontrole das contas do Governo, outros fatores influenciam o aumento da dívida brasileira. O avanço da inflação no país em conjunto ao aumento da taxa Selic, contribuem para o crescimento da dívida, tendo em vista que os títulos NTN-B Principal, NTN-B e LFT são indexados por esses índices.

A emissão de títulos públicos com o objetivo de pagar juros da dívida também influencia o crescimento da dívida.

Só para entender melhor a evolução do estoque da Dívida Pública, no intervalo entre junho de 2014 a junho de 2015 a Dívida Pública Federal saltou de R$ 2,202 trilhões para os atuais R$ 2,583 trilhões, refletindo em um aumento de R$ 381 bilhões ou o equivalente a 17%.

Fonte: Siga Brasil
Elaboração: CNTC

O gráfico acima demonstra o quanto do orçamento público o Governo Federal destinou por grupo de despesas neste ano. As partes em vermelho e verde correspondem ao pagamento de juros e encargos da dívida como também a amortização e refinanciamento da dívida que juntas equivalem a 46% das despesas do Governo.

O que o Governo está fazendo para conter o avanço dessa dívida?

Para tentar diminuir a relação dívida/PIB o Governo Federal lançou um pacote de medidas que visam economizar recursos. A tão falada meta de superávit primário corresponde ao compromisso do Governo em economizar um determinado percentual do PIB para o pagamento dos juros da dívida.

Incialmente, a meta de superávit primário era de 1,19% do PIB ou R$ 66,3 bilhões. Agora o Governo decidiu reduzir a meta para 0,15% do PIB o equivalente a economia de R$ 8,7 bilhões. O movimento do Governo sugere a dificuldade em equilibrar as contas públicas, diante da queda na arrecadação tributária e os gastos continuarem altos.

Até o momento o Governo Federal não conseguiu lograr êxito na tentativa de conter o endividamento público.

E como o crescimento da dívida pode afetar o trabalhador?

Conforme a Dívida Pública cresce, menos recursos públicos ficam disponíveis para o Governo realizar em investimentos. Investimentos em saúde, transportes e educação são exemplos de despesas que podem ser contigenciadas. Os investimentos que não são realizados hoje podem impactar negativamente no futuro, contribuindo para o agravamento dos serviços prestados pelo Estado.

Por isso a administração da Dívida Pública é de interesse de todos os trabalhadores brasileiros.

Brasília, 04 de agosto de 2015.

 

Renan Klein
Analista Econômico

Diretor: José Francisco de Jesus Pantoja Pereira
Gerente de Relações Institucionais: Sheila Tussi da Cunha Barbosa
Analistas de Relações Institucionais: Claudia Fernanda Silva Almeida
Renan Bonilha Klein
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Estagiárias: Letícia Tegoni Goedert
Tamiris Clóvis de Almeida

 

Pesquisa Mensal do Emprego (PME)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) referente a maio. A pesquisa confirmou o aumento no número de pessoas desempregadas no país. De acordo com o IBGE, a taxa de desocupação em maio registrou 6,7% da força de trabalho brasileira. É a maior taxa de desemprego para o mês de maio desde 2010. A taxa é estimada mensalmente em seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre).

No mês anterior, a pesquisa havia calculado a relação de desempregados em 6,4%. Para o mesmo período no ano imediatamente anterior a taxa registrada foi de 4,9%, demonstrando o crescimento de 1,5 p.p. Mais de 454 mil pessoas foram inseridas na população desocupada em relação a maio de 2014.

A diminuição do consumo das famílias, em razão do aumento do endividamento familiar, e a retração do investimento no país contribuem para o péssimo cenário atual do mercado de trabalho. Ao mesmo tempo em que mais pessoas estão à procura de um emprego, o número de vagas por outro lado diminui, contribuindo para o agravamento do quadro de desemprego. Em conjunto ao baixo desempenho das empresas, é notável o crescimento do contingente de pessoas entrando no mercado de trabalho.

A taxa de desocupação apresentou variação significativa em todas as regiões metropolitanas abordadas pela pesquisa na comparação com maio de 2014. No ano passado Porto Alegre registrava uma taxa de desemprego de 3%, agora a taxa para a região é de 5,6%. Apesar do aumento de 2,6 p.p. em apenas um ano, a cidade apresenta a segunda menor taxa no país. As duas maiores taxas de desemprego se encontram na região nordeste. Salvador passou de 9,2% para 11,3%, enquanto que Recife passou de 7,2% para 8,5%.

A pesquisa ainda confirma a retração no poder de compra do trabalhador brasileiro. O rendimento médio real dos ocupados em maio foi de R$ 2.117,10 contra o rendimento médio de R$ 2.158,74 em abril, indicando recuo de 1,9%. Para o Comércio, o rendimento médio real dos trabalhadores do setor caiu 1,5% frente a abril, chegando a R$ 1.661,40. No ano a perda no poder de compra desses trabalhadores é de 7,5%.

 

 

 

Saldo do Emprego no Comércio e Serviços

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o resultado atípico conferido em maio deste ano reflete o cenário de pessimismo no mercado de trabalho brasileiro. No mês o saldo do emprego (admissões – demissões) confirmou a eliminação de 115.599 empregos celetistas, ou seja, retração de 0,28% comparada ao mês anterior. Já pode ser considerado como o pior resultado para os meses de maio desde o início da série histórica.

O ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, falou sobre os rumores de que o ciclo de emprego no Brasil havia acabado, e tentou minimizar o resultado ruim do indicador. “Ainda não é um mês bom, mas toda essa redução do discurso de que parece que o emprego acabou representa 0,9% do estoque que nós temos, não é um desastre” – disse o ministro.

E justificou a retração do emprego como fator sazonal do mercado de trabalho. “Historicamente, o primeiro semestre nunca é o melhor período para a geração de empregos. A economia se avoluma geralmente no segundo semestre” afirmou Manoel Dias.

 

Contudo, de acordo com o gráfico acima é possível notar a evolução da criação de emprego no país para o período de janeiro a maio em 13 anos, o que não se confirma a afirmação do ministro. A partir de 2010, a criação de emprego chegou ao máximo e continua a cair até o período atual.

Quando observada a série ajustada, que considera informações declaradas fora do prazo, o período de janeiro a maio deste ano já soma a exclusão de 243.948 postos de trabalho em todo o Brasil. Para os últimos 12 meses, o quadro de desemprego se agrava ainda mais, reproduzindo a redução de 452.835 empregos formais.

Só para o setor de Serviços foram eliminados 32.602 postos de trabalho. Os empregos ligados à atividade imobiliária registraram o pior resultado do setor, prejudicado pela maior dificuldade de acesso ao crédito imobiliário.

O setor de Comércio registrou, em maio, retração de 19.351 empregos com carteira assinada.

 

 

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

O contingente de pessoas desempregadas voltou a crescer, de acordo com a PNAD Contínua. Para o trimestre avaliado pela pesquisa, que contempla os meses de março a maio deste ano, a taxa de desemprego se situou em 8,1%, apontando elevação de 1,1 p.p. frente ao mesmo trimestre de 2014. Quando comparado ao trimestre móvel de dezembro a fevereiro de 2015, o montante de pessoas desocupadas avançou 10,2%, passando de 7,4 milhões para 8,2 milhões.

Segundo o IBGE, por trimestre são investigados 211.344 domicílios dispersos em 3.500 municípios.

A fim de conter o avanço do desemprego no país, o Governo lançou na segunda-feira (6), por meio de medida provisória, o Programa de Proteção ao Emprego (PPE). A medida permite a redução de 30% da jornada de trabalho e do rendimento dos trabalhadores. O Governo se comprometeu em financiar metade dessa redução por meio do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), reduzindo parte do ônus ao trabalhador. O programa já está valendo e tem previsão de vigorar até o final de 2017.

Apesar do quadro de piora no mercado de trabalho, o rendimento médio do trabalhador brasileiro assumiu direção contrária nesse ciclo de pessimismo. No trimestre móvel relativo a dezembro, janeiro e fevereiro, o empregado formal no setor privado registrou rendimentos de R$ 1.762 e agora passou para R$ 1.788. Entretanto, para o setor de Comércio a renda do comerciário caiu 1,4%.

Volume de vendas no Comércio

As vendas no Comércio Varejista caíram 4,5% no mês de maio comparado ao mesmo período de 2014, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio divulgada pelo IBGE. Na evolução mensal, o setor apresentou o quarto recuo no ano, chegando a -0,9% em volume de vendas. Para o acumulado no ano, o Comércio atingiu retração de 2% para as vendas e variação positiva de 4,1% para a receita nominal. O resultado propõe que mesmo em situação de baixa nas vendas, o setor continua a registrar receita positiva.

O Comércio Varejista Ampliado, que inclui todas as atividades do Comércio Varejista mais às ligadas a venda de Veículos, motos, partes e peças e de Material de Construção, demonstrou queda de 1,8% frente ao mês imediatamente anterior, sendo este o sexto resultado negativo consecutivo em 2015. A receita nominal manifestou retração de 0,9% no período. O setor automotivo é o principal determinante para a queda no Comércio.

Inflação

inflacao

Poupança

A saída de recursos da poupança em junho foi o maior já registrado pelo Banco Central para o mesmo período desde o início da série histórica. De acordo com a autoridade monetária, a captação líquida (depósito – retirada) registrou saída líquida de R$ 6,26 bilhões. No ano a poupança já acumula retirada de R$ 38,51 bilhões.

Para equilibrar o orçamento doméstico o brasileiro passou a utilizar as reservas disponíveis na poupança, com isso os saques aumentaram, evitando assim a utilização do cartão de crédito e outras modalidades de crédito. Outro fator que contribui para a saída de capital do investimento foi a fuga para outras aplicações com rendimento superior a inflação a fim de preservar o poder de compra do investidor.

Cesta Básica

Acompanhando o crescimento no nível geral de preços do país, os itens alimentícios que compõem a cesta básica exibiram elevação nas 15 das 18 cidades metropolitanas avaliadas pela pesquisa mensal elaborada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

O maior custo da cesta básica continua sendo na capital paulista custando, em média, R$ 392,77, seguido por Florianópolis (R$ 386,10) e Porto Alegre (R$ 384,13). Os menores valores médios foram observados em Aracaju (R$ 275,42), Natal (R$ 302,76) e João Pessoa (R$ 309,48).

O Dieese mensura também o salário mínimo necessário para o trabalhador brasileiro custear as despesas com alimentação, moradia, saúde, educação e outras despesas básicas. Para a entidade o salário mínimo seria de R$ 3.299,66 ou 4,19 vezes o salário mínimo vigente (R$ 788).

cesta basica

Endividamento Familiar

O número de famílias endividadas sofreu queda no mês de junho segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O percentual de famílias que declararam possuir dívidas com cartão de crédito, cheque pré-datado, carnê de loja, cheque especial, prestação de carro, empréstimo pessoal e seguros recuou de 62,4% em maio para 62% em junho. A redução do indicador de endividamento pode ser observado em ambas as faixas de renda das famílias endividadas. As famílias com renda acima de 10 salários mínimos, a retração foi de 1 p.p. frente a maio. Nas famílias com renda até 10 salários mínimos recuou apenas 0,2 p.p.

O resultado indica o esforço financeiro das famílias em pagar as dívidas, contudo o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso e as que não terão condições de quitá-las teve crescimento. 7,9% dos entrevistados afirmaram não ter condições de pagar as dívidas e que continuariam inadimplentes. Em junho de 2014 esse percentual era de 6,6%.

Dívida Pública

A Dívida Pública Federal voltou a crescer em junho é o que diz a última divulgação do Relatório Mensal da Dívida Pública Federal da Secretaria do Tesouro Nacional. Em abril a dívida pública federal, que contempla as dívidas interna e externa do Governo, fechou o mês em R$ 2,45 trilhões, já em maio a dívida subiu 1,89% passando para R$ 2,49 trilhões. A elevação da dívida está ligada ao crescimento das emissões líquidas, ou seja, o Governo emitiu mais dívida do que pagou.

Somente no mês de maio foram emitidos R$ 86 bilhões em títulos da dívida pública federal e foram pagos outros R$ 73 bilhões. Resultando em uma emissão líquida de R$ 13,55 bilhões. A despesa com o pagmento de juros colaborou para o aumento da dívida, que correspondeu a R$ 31 bilhões.

Indicadores de Mercado

indicadores de mercado

Brasília, 20 de julho de 2015.

Renan Bonilha Klein

Diretor: José Francisco de Jesus Pantoja Pereira

Gerente de Relações Institucionais: Sheila Tussi da Cunha Barbosa

Analistas de Relações Institucionais: Claudia Fernanda Silva Almeida

Renan Bonilha Klein

Assistente Administrativa: Quênia Adriana Camargo

Estagiárias: Tamiris Clóvis de Almeida

Letícia Tegoni Goedert

Grandes Grupos Econômicos

No final do século XVII com a consolidação da Revolução Industrial na Inglaterra, observa-se a principal característica do modo de produção capitalista, sendo esta a acumulação de capital por meio do mercantilismo. O homem transformou a forma de se organizar e produzir com a crise do sistema feudal, iniciada no século XIV, influencida pelo crescimento da atividade comercial pela burguesia. As Revoltas Camponesas (séc. XIII), período de levante contra a nobreza em virtude da exploração sofrida no campo, favoreceram esse período de transição do feudalismo para o capitalismo, que forçaram os senhores feudais e burgueses a traçarem estratégias em prol do desenvolvimento de suas atividades econômicas.

Apesar da falência do feudalismo e a ascensão do capitalismo terem sido desencadeados no mesmo período, não pode ser atribuído causalidade o surgimento do capitalismo com a queda do feudalismo.

Com a Revolução Burguesa, a servidão foi substituída pelo trabalho assalariado, fundamentado nos dois pilares da revolução, a propriedade e a liberdade. O conjunto dessas ideias constituem as bases do liberalismo econômico.

O século XX se caracteriza por variadas inovações tecnológicas e por marcantes períodos históricos. Os pequenos artesãos do século XIII foram substituídos por trabalhadores na linha de montagem na fabricação de automóveis da Ford. A década de 80 foi marcada pela criação de empresas de tecnologia dentro de garagens e que hoje dominam o mercado global. Exemplos como a Apple, a Microsoft e a Hewllet-Parker iniciaram com produção primitiva dentro de garagens no Vale do Silício e hoje figuram como as marcas mais caras do mundo.

O mercado predatório proporcionou as grandes empresas a aumentar ainda mais as fatias de mercado (market-share) oprimindo as pequenas e médias empresas a se fundirem a grandes conglomerados ou fechar as portas. Com isso o mercado passou a se concentrar entre um seleto grupo econômico, os novos burgueses.
A globalização permitiu que o consumidor pudesse ter acesso a produtos desenvolvidos por uma equipe de profissionais nos Estados Unidos e produzidos por trabalhadores chineses. A busca incessante pelo lucro forçou as empresas expandirem seus negócios e diminuirem seus custos de produção. O trabalhador passou a ser apenas uma peça da estrutura produtiva, conferindo ao administrador a tarefa de alocar de maneira mais eficiente o “recurso”.

Para fugir dos custos trabalhistas e dos altos salários dos países desenvolvidos, a produção das multinacionais foi terceirizada para Ásia. Como consequência, os países asiáticos presenciaram um rápido crescimento econômico. Somente nos últimos sete anos a China experimentou crescimentos entre 7% e 13%. Com o favorecimento da atividade econômica desses países foram acompanhados de um aumento da pressão do capital sobre os trabalhadores.

Para elucidar essa ideia, as férias de um trabalhador brasileiro são de 30 dias consecutivos a cada ano trabalhado e para um trabalhador chinês são de apenas 5 dias. Apesar de a legislação chinesa estabelecer uma jornada máxima de trabalho de 44 horas semanais, não é incomum casos de extensas jornadas de trabalho. E o resultado disso são problemas de saúde ligados ao trabalho, aumento do risco de acidentes de trabalho e menor tempo com a família.

Hoje a forma de organização do trabalho no Brasil está passando por reformas assim como ocorreu na Europa no passado. A externalização do trabalho, ou como é conhecida por terceirização, surgiu como uma opção do empresário em ampliar a sua produção e baratear seus custos. No atual cenário, de acordo com a Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, as empresas podem contratar empresas terceirizadas na execução de atividades que não caracterizam como a atividade da contratante, no caso são serviços ligados à segurança e limpeza. Se aprovado o projeto de lei 4330/2004 permitirá as empresas de terceirizar indiscriminadamente qualquer área da atividade da empresa-mãe.

O cenário mundial e nacional indica um potencial risco aos direitos dos trabalhadores e requer maior atenção dos sindicalistas brasileiros e da América do Sul.
A breve análise visa levantar informações sobre os grandes grupos econômicos instalados no país e apreciar a situação dessas empresas.

Companhia Brasileira de Distribuição (GPA)

Controlada pelo Grupo francês Casino, a Companhia Brasileira de Distribuição é dividida em 5 Unidades de Négocios, sendo estas a Multivarejo, Via Varejo, Assaí Atacadista, Cnova e GPA Malls. Esse tipo de estrutura organizacional, denominada Unidade de Negócios, é aplicado à medida que as organizações crescem e com isso as áreas de atuação das empresas tendem a diversificar. Usualmente aplicado à organizações que atuam em diversos países ou atende a mercados desiguais com necessidades particulares.

A Multivarejo opera no mercado brasileiro atuando no segmento de hiper e supermercados. A Unidade de Negócio administra as marcas Extra (Hipermercados e Supermercados), Pão de Açúcar e Proximidade (Minimercado Extra e Minuto Pão de Açúcar). Assim como possui unidades de postos de combustíveis e drogarias.

Em 2014, o Pão de Açúcar abriu 13 lojas enquanto que o Extra fechou 7 lojas entre Hipermercados e Supermercados. Portanto o Extra possui 344 lojas entre hipermercados e supermercados e o Pão de Açúcar, 181 lojas. O gráfico abaixo ilustra melhor essa evolução.

lojas Multivarejo

É possível inferir que o Minimercado Extra e o Minuto Pão de Açúcar são o foco de investimentos da unidade de negócio nos últimos três anos, enquanto que as lojas das demais marcas se mantiveram constantes no período.

O Ticket médio (valor total das vendas dividido pelo número de cupons fiscais emitidos) das empresas teve crescimento superior acima da inflação. O Pão de Açúcar auferiu R$ 53 por ticket (10,45% superior a 2013) e o Extra Hipermercado R$ 80,7 (9,5% superior a 2013). Demonstrando que mesmo em um ano de baixa atividade econômica no país o segmento continua a crescer.

Isso também pode ser confirmado pela relação vendas por trabalhador. Quando divido a receita bruta das lojas pelo número de funcionários no padrão full-time equivalent (trabalhador em período integral), cada funcionário do Pão de Açúcar responde por R$ 32,41 mil em vendas por mês e no Extra Hipermercado a R$ 51,55 mil. Nas lojas Proximidade onde o volume de vendas é inferior, a relação vendas por funcionário é de R$ 25,97 mil por mês.

vendas funcionario

Já a Via Varejo é responsável pela administração de duas grandes redes varejistas do país, a Casas Bahia e o Ponto Frio. Com a união das duas empresas, a Via Varejo consegue atingir mais de 400 municípios com mais de 1.000 lojas e 66 mil funcionários. Somente em 2014 a empresa informou a inauguração de 88 lojas e um lucro líquido ajustado de R$ 964 milhões (34,1% superior a 2013).

Na parte de logística a Via Varejo usufrui de 24 Centros de Distribuição e Entrepostos para melhor distribuição dos produtos em todo território nacional, suportando uma média mensal de 1 milhão de entregas.

lojas varejo

Ao passo que a quantidade de lojas Ponto Frio diminuiu entre 2012 e 2014, foram inauguradas 95 lojas da rede Casas Bahia. Essa tendência de queda das lojas Ponto Frio e um rápido aumento das Casas Bahia, está se repetindo no começo de 2015. Até maio, 7 lojas Ponto Frio fecharam suas portas sendo que a Casas Bahia abriu 12 lojas.

A redução pode ser explicada pelo acordo entre a GPA e o CADE em virtude da fusão entre as lojas. A medida visa diminuir concentração de poder do grupo no setor varejista, que em 2013 era superior a 40% do mercado em 117 cidades brasileiras.

vendas funcionario2

Reflexo do recuo na quantidade de lojas, as vendas por funcinário do Ponto Frio registraram R$ 55,53 mil por mês (diminuição de 4% em relação ao ano anterior). A rede varejista Casas Bahia por outro lado se manteve constante de um ano para o outro e fechou 2014 com receita bruta de R$ 55,18 mil por funcionário por mês.

A rede atacadista de autosserviço Assaí Atacadista finalizou o ano de 2014 com 84 lojas, representando um crescimento de 12%. Segundo a rede, neste ano já somam 87 lojas em 13 estados brasileiros com cerca de 1.600 checkouts e todos os anos passam pelo Assaí Atacadista mais de 120 milhões de clientes.

A Companhia Brasileira de Distribuição no geral emprega mais de 160 mil trabalhadores, sendo considerado o maior empregador do setor varejista. O grupo informa que houve uma redução de 2 p.p. em turnover, indicando maior compromisso com a fidelização do colaborador.

No ano o lucro líquido ajustado (lucro líquido após os descontos com inflação) da Companhia atingiu R$ 2,084 bilhões, 20% superior a 2013 e 76% superior ao resultado de 2012. A margem líquida ajustada (corresponde a cada unidade monetária de vendas que resultou em lucro líquido) foi de 3,2% ou 0,9 p.p. a mais do que em 2012. Isso indica que a companhia está alavancando seu crescimento e utilizando seus recursos de maneira eficiente. Enquanto a Receita Bruta avançou 12,8%, as Despesas Operacionais Totais cresceram apenas 6,6%.

Em relação às causas trabalhistas, algumas ações foram movidas contra as empresas do grupo. De acordo com o Tribunal Superior do Trabalho (TST) até o momento existem 750 processos trabalhistas contra o grupo. O crescimento do grupo foi acompanhado pelo aumento de condenações na justiça. Em 2012 o grupo sofreu 56 autuações, subindo esse número para 286 em 2014. O caso mais recente ocorreu neste ano quando uma funcionária do Ponto Frio foi demitida sem justa causa por ter comparecido à Justiça do Trabalho como testemunha em um processo contra a empresa. A Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho entendeu que a medida adotada pela empresa foi movida por retaliação e condenou a Via Varejo a indenizar a funcionária em 50 salários mínimos.

numero de autuacoes

Uma ocorrência mais antiga ocorreu em 2010. O Extra Hipermercado de Campo Grande foi condenado a pagar R$ 1 milhão em danos morais coletivos. A ação civil pública foi movida por fraudes no registro da jornada de trabalho dos funcionários, jornada exaustiva e assédio moral.

Walmart

Neste ano o Walmart Brasil completa 20 anos do início de suas atividades no país. A empresa atua no setor sobre o formato de hipermercados e supermercados, bem como clube de compras, lojas de atacado e vizinhança. O Walmart Brasil é uma empresa de capital fechado (não negocia ativos na bolsa de valores) com sede nos Estados Unidos. No mundo a Wal-Mart Stores Inc. tem em seu quadro mais de 2,2 milhões de funcionários em 27 países.

No segmento de hipermercados atua com as marcas Walmart, Hipermercados Big e Hiper Bom Preço. As marcas Bompreço, Mercadorama e Nacional representam atuação do grupo no segmento de supermercados.

A rede também possui as seguintes marcas: Maxxi Atacado (Atacado), Todo Dia (Loja de Vizinhaça) e Sam’s Club (Clube de Compras).

E o Walmart não se limita apenas a venda, também possui linhas exclusivas de produtos. As principais são da marca Sentir Bem, Bom Preço, Great Value e Equate.

Devido à carência de dados, serão utilizadas informações oficiais divulgadas pela empresa de 2010 a 2013, e em seguida agregado a série dados referentes ao ano de 2014 disponíveis no Ranking SuperHiper – Abras.

O crescimento do faturamento da rede no país é acompanhado pelo surgimento de novas lojas. Em 2014 a rede auferiu um faturamento de R$ 29,6 bilhões contra os R$ 28,47 bilhões registrados no final de 2013. Em 2014, o Walmart teve seu faturamento de acrescido em 14% comparado a 2012.

Segundo a organização, o número de unidades da rede saltou de 521 em 2011 para 544 lojas em 2014. Quando comparado a 2010, esse crescimento se mostra mais agressivo, pois naquele ano a rede possuía 479 lojas no Brasil, logo isso representa a implantação de 65 lojas no país em apenas 5 anos.

numero de lojas

Em primeiro lugar aparecem as lojas de vizinhança (Todo Dia) com 175 unidades, seguido pelos supermercados (149 lojas) e pelos hipermercados (143 lojas).

No ano de 2013 o quadro de pessoal da empresa encolheu de 82,4 mil colaboradores para 75,5 mil. No ano seguinte essa tendência de queda no número de trabalhadores voltou a acontecer. Em 2014, o saldo de trabalhadores da rede foi registrado em 74,7 mil. O Walmart não divulgou a relação de terceirizados trabalhando nas dependências das lojas. Entretanto, acredita-se que houve um aumento na contratação de mão de obra terceirizada em virtude da diminuição do número de colaboradores da rede e pelo aumento no número de lojas nos últimos anos.

O Walmart Brasil ainda declarou que 54,2% dos seus funcionários são do sexo feminino (2013).

As vendas por funcionário em um mês atingiram uma média de R$ 396,68 mil em 2014 contra a média alcançada de R$ 377,30 mil no ano de 2013. O resultado apresentado ocorreu em consequência da diminuição do quadro de pessoal (contrato direto) da rede e pelo crescimento do faturamento entre 2012 e 2014.

No ano passado o Bompreço Supermercados foi condenado a indenizar em R$ 20 mil por danos morais a um empregado que se sentiu ofendido pelo processo de revista adotado pela empresa. A rede é campeã de autuações no Tribunal Superior do Trabalho. Foram 39 autuações em 2012, 151 em 2013 e 222 em 2014.

numero de autuacoes2

A WMS Supermercados que engloba os Hipermercados Big, Supermercados Nacional, Supermercados Mercadorama, Maxxi Atacado e Todo Dia (Rio Grande do Sul) aparece com 463 autuações em 2014 no TST.

Carrefour

O grupo francês Carrefour estabeleceu sua primeira unidade no Brasil em 1975 na Marginal Pinheiros (SP). No ano seguinte a segunda loja foi inaugurada no Rio de Janeiro e a partir de então instalou no país 258 unidades até o final de 2014. Atua no mercado brasileiro administrando as marcas Carrefour Hiper, Carrefour Bairro, Carrefour Express, Atacadão e Supeco.

No mundo o grupo possui mais de 10 mil lojas espalhadas por 34 países e emprega quase 365 mil pessoas. O grupo informa que em 2013 desembolsou € 7,67 bilhões para custear despesas com salários, seguro social e benefícios a seus trabalhadores. Ainda informa que sua força de trabalho se concentra em hipermercados (72,7%) e trabalhadores entre 18 e 25 anos de idade.

Somente na América Latina, em especial no Brasil e na Argentina onde o grupo concentra a maior parte das suas atividades, são mais de 88 mil trabalhadores em 762 lojas.
O Atacadão foi adquirido pelo grupo em 2007 e hoje é um dos maiores atacadistas do país com 98 lojas (2013). Os números sugerem que o Atacadão despertou o interesse do grupo francês que em 2011 havia informado a abertura de 13 lojas, sendo 7 novas e 6 unidades convertidas de Carrefour Hiper para Atacadão.

numero de lojas2

No ano de 2013 as vendas líquidas (receitas líquidas) foram de € 10,9 bilhões (R$ 31,3 bilhões). Para 2014, a empresa divulga faturamento de quase R$ 38 bilhões, o equivalente a um crescimento de 11,5% frente a 2013. De acordo com o Ranking SuperHiper em 2014 o grupo empregava 70 mil trabalhadores. O faturamento por trabalhador representava R$ 541,82 mil. O salário bruto mensal de um trabalhador da rede varia entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, assumindo que o custo médio para o grupo por colaborador (salário bruto, benefícios e encargos trabalhistas) seja de R$ 45 mil ao ano, logo a riqueza gerada pelo trabalhador é 11 vezes superior ao que é recebido por empregado.

O faturamento bruto do grupo francês no país equivale a 17% do faturamento acumulado das 500 maiores empresas do segmento.
Entre 2012 e 2014 o grupo Carrefour sofreu 318 autuações segundo o TST.

Ceconsud

A Ceconsud é uma rede de supermercados de origem chilena e dispõe de operações na Colômbia, Peru, Brasil, Chile e Argentina. A estratégia de penetração no mercado brasileiro utilizado pela empresa foi pela aquisição de redes varejistas nacionais, como o Prezunic (Rio de Janeiro), Bretas (Minas Gerais), Gbarbosa (Sergipe), Perini (Bahia) e Mercantil (Bahia e Sergipe).

O grupo, em 2014, auferiu um faturamento bruto no país de R$ 9,795 bilhões (0,16% inferior a 2013). Apesar da expansão do número de lojas no Brasil, não foi o suficiente para alavancar as vendas e criar ligação com o consumidor brasileiro. O resultado é desastroso se comparado as concorrentes do segmento de hiper e supermercados.

É o quarto maior grupo em relação à faturamento.

A empresa possui mais de 220 estabelecimentos em oito estados e emprega 33,5 mil trabalhadores.

dados ceconsud

O quadro acima ilustra melhor o desempenho do grupo entre 2012 e 2014. Em razão da pequena evolução do faturamento bruto, a relação faturamento/trabalhador diminuiu 14% em 2013, entretanto com a baixa no quadro de pessoal empregado pelo grupo essa relação voltou a subir até atingir um faturamento bruto de R$ 291,99 mil por trabalhador em 2014.

No que diz respeito às causas trabalhistas, o grupo Ceconsud sofreu apenas cinco autuações entre 2011 e 2015, segundo o TST. Das marcas do grupo, a com maior número de autuações foi o Mercantil Supermercados, com 18.  Prezunic foi autuado duas vezes e o Perini sofreu quatro autuações.

Visão Geral

Os quatro grupos econômicos abordados nesta análise figuram os maiores do segmento de hiper e supermercados do Brasil. Juntos concentram 51% do faturamento acumulado das 500 maiores empresas do segmento. Somente a Companhia Brasileira de Distribuição e o grupo Carrefour dominam 34% do mercado.

O quadro a seguir confirma a concentração de mercado pelas 50 maiores empresas do segmento supermercadista. As 50 maiores empresas, ou seja, 10% delas faturam 80% do total, confirmando o alto poder de controle de mercado dessas empresas. Em especial, o mercado está concentrado entre as 20 maiores. A média de crescimento das vendas para as empresas avaliadas foi de 12,4% em 2014 quando comparado a 2013. Como já sugerido nesta análise, o grupo Ceconsud teve retração de 0,16%, ficando muito abaixo da média das maiores empresas do segmento. Isso reforça a ideia de que a empresa ainda não se adaptou ao mercado consumidor brasileiro. Os fatores tradição e competitividade parecem comprometer o desenvolvimento do grupo no país, tendo em vista que as redes Pão de Açúcar, Carrefour e Extra estão instaladas no país a mais tempo.

ranking redes supermercadistas

No que se refere à força de trabalho, em 2014, é confirmado o aumento no número de trabalhadores. As 500 maiores empresas formalizaram mais de 46 mil postos de trabalho, registrando um total de 662,7 mil trabalhadores distribuídos em hipermercados, supermercados, lojas de atacado e lojas de conveniência. Quase 40% dessa força de trabalho é empregada pelos cinco maiores do segmento.

Quanto ao número de lojas, os grandes grupos econômicos continuam a pressionar os menores por uma fatia cada vez maior do mercado. No total foram inauguradas 468 lojas, sendo que somente a Companhia Brasileira de Distribuição e o Carrefour respondem por 124 unidades.

O poder de barganha exercido pelos grandes grupos econômicos sobre os fornecedores é maior do que o dos pequenos e médios empresários do segmento, em virtude do montante comerciado por essas empresas. A competitividade entre o grande e o pequeno supermercadista não é equilibrado, e consequentemente obriga o pequeno e médio empresário a decretar falência ou a se fundir a esses grupos.

O que se observa é o avanço da dominação do mercado pelos grandes grupos e a dependência maior do trabalhador por essas empresas, consequentemente também se observa a elevação de causas trabalhistas contra os abusos cometidos por essas empresas respaldadas pela busca de lucros maiores.

Brasília, 16 de junho de 2015.
Renan Bonilha Klein

ANEXOS

Acesse os anexos aqui

Diretor: José Francisco de Jesus Pantoja Pereira
Gerente de Relações Institucionais: Sheila Tussi da Cunha Barbosa
Analistas de Relações Institucionais: Claudia Fernanda Silva Almeida
Renan Bonilha Klein
Assistente Administrativa: Quênia Adriana Camargo
Estagiárias: Letícia Tegoni Goedert
Tamiris Clóvis de Almeida


Pesquisa Mensal do Emprego (PME)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou a taxa de desemprego para o mês de abril em 6,4% (avanço de 0,2 p.p. no nível de desemprego referente ao mês de março). Em março o instituto havia confirmado a taxa de 6,2%. Para o mesmo mês de referência no ano anterior, a taxa se situava em 4,9% (crescimento de 1,5 p.p.). A taxa mede o montante de pessoas desempregadas à procura de emprego em relação à força de trabalho do país. O baixo desempenho do mercado de trabalho está relacionado ao desaquecimento da atividade econômica do país, e consequentemente as medidas recentes do governo só contribuem para o avanço da taxa.

A Indústria, terceiro maior empregador do país, está passando por uma das maiores crises já experimentada. Os pátios de veículos das grandes montadoras do país estão lotados, o que leva algumas montadoras a suspender ou reduzir suas atividades. O ritmo lento do consumo obriga a Indústria a adotar medidas drásticas. Ações como férias coletivas e contratos de lay-off (suspensão de contratos) objetivam evitar demissões no curto prazo, porém não são eficazes em  longos períodos de crise. Recentemente o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo informou que desde o começo do ano a montadora de veículos General Motors (GM) da região mantém 778 trabalhadores sobre o regime de lay-off.

E quando tais medidas se esgotarem? Mais demissões? Infelizmente, sim!

Taxa básica de juros elevada, baixa confiança do empresário e alto endividamento dos consumidores são fatores que colaboram para a retração do mercado de trabalho.

Similar ao modelo adotado na Alemanha o Governo estuda lançar o Programa de Proteção ao Emprego (PPE). O PPE visa frear o avanço das demissões no país retirando os custos do salário do trabalhador de cima do empresário e transferindo para o Governo, mais precisamente para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A proposta já foi entregue a Presidente Dilma Roussef e conta com o apoio das centrais sindicais e do setor patronal.

No meio sindical as opiniões sobre a adoção do programa divergem. O Diretor Secretário da CNTC e Presidente da Federação dos Empregados de Agentes Autônomos do Comércio do Estado de São Paulo (FEAAC), Lourival Figueiredo, diz não acreditar nos benefícios do programa e o compara ao resultado das desonerações tributárias. “Tais incentivos foram utilizados para estimular a produção e sob a alegação de preservar o emprego do brasileiro. Hoje o que vemos é a taxa de desemprego aumentando e ameaças de demissões em massa na Indústria e no Comércio.” afirmou o líder sindical.

A pesquisa ainda divulga o contigente de desocupados no país. O montante chega a 1,6 milhões de pessoas nas seis regiões investigadas. A região metropolitana de Porto Alegre apresentou o pior resultado quando comparado a abril de 2014. O contigente de desocupados em Porto Alegre cresceu 61,6%, seguido por Belo Horizonte (51,1%) e Rio de Janeiro (49,5%).

O poder de compra do trabalhador, segundo o IBGE, diminui em 0,5% frente a março (passando de R$ 2.148 para R$ 2.138). A massa de rendimento médio real do trabalhador caiu 3,8% no ano.

Taxa de desemprego

Saldo do Emprego no Comércio e Serviços

Os avanços sociais conquistados na última década, em razão das baixas taxas de desemprego e o aumento da renda real do trabalhador brasileiro, agora estão correndo perigo. De acordo com a edição de abril do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o país fechou mais de 137 mil postos de trabalho nos primeiros quatro meses do ano (retração de 0,33 p.p.). Somente em abril o país apresentou queda de 97.828 no estoque de emprego formal. É o pior resultado desde abril de 1992, na época o saldo registrado para o período atingiu – 63 mil.

O segundo maior empregador do país, o setor de Comércio, acumula mais de 1,47 milhões de desligamentos em 2015. No ano o setor apresentou saldo negativo (admissões – desligamentos) de 142 mil empregos. Para abril deste ano as demissões superaram em 14,6 mil as admissões.

O pessimismo no mercado de trabalho se estendeu ao setor de Serviços. No mês passado a edição do Informe Econômico havia confirmado a criação de mais de 53 mil postos de trabalho no setor. Porém a situação em abril se inverteu. O estoque formal de emprego entre março e abril registrou retração de 0,04% (retração de 7,5 mil postos de trabalho). Mesmo assim o acumulado no ano continua positivo. Até abril foram criados mais de 105 mil empregos no setor de Serviços.

saldo emprego comercio

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

O contingente de desempregados cresceu no país no trimestre finalizado em abril deste ano. O número de pessoas desempregadas, de acordo com a PNAD Contínua, alcançou 8 milhões. No trimestre anterior o contingente de desocupados era de 6,8 milhões de pessoas, o que indica elevação de 1,2 milhões de trabalhadores à procura de emprego no país. O trimestre móvel de novembro a janeiro de 2015 registrou uma taxa de desocupação em 6,4%, e agora para o trimestre de fevereiro a abril passou a ser de 8,0%. Na comparação com o mesmo trimestre de 2014, a taxa calculada era de 7,1%.

Segundo o IBGE, por trimestre são investigados 211.344 domicílios dispersos em 3.500 municípios.

Nos últimos três anos as maiores taxas de desocupação são conferidas nos dois primeiros trimestres móveis do ano. Contudo o comportamento do indicador no início de 2015 indica excepcionalidade para o mercado de trabalho.

O total de pessoas ocupadas estimado pela PNAD foi de 92,2 milhões de trabalhadores. Constata-se a redução de 511 mil pessoas quando comparado ao último trimestre (de novembro a janeiro de 2015).

Volume de vendas no Comércio

A recente Pesquisa Mensal do Comércio divulgada pelo IBGE confirmou a queda nas vendas no Comércio Varejista. Em abril, o volume de vendas registrou variação negativa de 0,4 p.p., enquanto que a receita nominal avançou positivamente em 0,3%. É o terceiro mês consecutivo de queda nas vendas do setor e o pior resultado para o mês desde 2003. O encarecimento do crédito, a inflação e o crescimento do endividamento do brasileiro são fatores que influenciam no comportamento do consumidor. Apenas duas atividades apresentarem crescimento nas vendas frente a março.

O segmento de hiper e supermercados teve variação positiva de 1,9%, entretanto não foi o suficiente para inverter a taxa negativa de 1,4% no ano. O segmento de artigos farmacêuticos e médicos manteve o ciclo de crescimento nas vendas durante todo o trimestre e já acumula crescimento de 5,9% no volume de vendas.

Ao adicionar as vendas de veículos, motos, partes e peças e de material de construção ao Comércio Varejista, o indicador de vendas finalizou abril com retração de 0,3%. A receita nominal para o Comércio Varejista Ampliado voltou a ser positiva após dois meses de queda, apresentando variação de 0,3%. A atividade ligada à venda de veículos e motos registrou crescimento de 4,4% frente a março.

A pesquisa indica que a Páscoa não conseguiu estimular o Comércio. Tendo em vista que a data comemorativa ocorreu no ínicio de abril, entretanto as vendas foram concentradas em março.

Inflação

inflacao

Selic

No início de junho o Comitê de Política Monetária (Copom) se reuniu para estabelecer o rumo da política monetária do país. Por decisão unânime, os membros do Copom elevaram a taxa básica de juros, Selic, em 0,50 p.p. Com a decisão a Selic atingiu 13,75%, reassumindo o patamar observado em dezembro de 2008.

O aumento é justificado pelo compromisso assumido pelo Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de convergir a inflação para o centro da meta de 4,5% em 2016. Nos últimos 12 meses, a inflação registrada pelo IPCA foi de 8,47%. O mercado projeta a taxa de inflação até o final do ano em 8,79% e de 5,50% para 2016.

De acordo com a ata do Copom, o patamar elevado da taxa de inflação é reflexo de dois processos de ajustes de preços na economia, sendo estes o realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e o realinhamento dos preços administrados em relação aos livres. O Comitê justifica que esses ajustes tendem a manter a inflação elevada no curto prazo.

As recentes decisões adotadas pelo Copom sugerem que o ciclo de aperto não se encerrou. As próximas reuniões estão marcadas para os dias 28 e 29 de julho.

Poupança

A poupança registrou o quinto mês consecutivo de saldo negativo na captação líquida (depósitos – retiradas). O Banco Central informa que no ano os depósitos na caderneta de poupança acumulam R$ 746,78 bilhões, por outro lado as retiradas foram superiores e chegaram a R$ 779,06 bilhões. De janeiro a maio deste ano a captação líquida soma perdas de R$ 32,28 bilhões.

Mesmo com perdas registradas em maio, foi o mês com o melhor resultado no ano. Perdas significativas ocorreram nos meses de fevereiro e março quando o investimento conferiu saldo negativo de R$ 17,70 bilhões para a captação líquida em apenas dois meses.

O ativo perdeu o interesse dos investidores após os seguidos aumentos na taxa básica de juros. Hoje a poupança remunera o equivalente a 0,5% a.m. mais a Taxa Referencial (TR). Até maio o rendimento do investimento foi de 2,99%, sendo que a inflação acumulada atingiu 5,34%. Ou seja, o trabalhador brasileiro com recursos investidos na caderneta de poupança teve seu poder de compra reduzido em 2,35%.

Por exemplo, um investimento de R$ 5 mil aplicado na poupança no início de janeiro resultaria em maio no montante de R$ 5.149,5. Porém se o mesmo valor fosse corrigido de acordo com a inflação seria de R$ 5.267. Resultando em uma perda de R$ 117,5 no poder de compra.

No mercado existem investimentos tão seguros quanto a poupança e com rendimentos superiores. Aplicações no Tesouro Direto possibilitam rendimentos superior a 6% a.a. mais a variação do IPCA. Outra opção é o Certificado de Depósito Bancário (CDB) indexado ao CDI. A rentabilidade do CDI é muito próxima a Selic. As taxas variam, mas podem chegar até 110% do CDI.

Cesta Básica

O preço do conjunto dos bens alimentícios que compõem a cesta básica manifestou aumento em 17 das 18 cidades avaliadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Salvador (10,69%), Fortaleza (8,89%) e Recife (7,73%) registraram as maiores altas. Apenas Aracaju (-1,58%) demonstrou redução nos valores dos itens que compõem a cesta básica.

O maior valor apurado pode ser observado em São Paulo (R$ 402,5) e o menor em Aracaju (R$ 277,16). Itens como o tomate contribuíram para o resultado, variando entre 3,02% em Aracaju e 108,97% em Salvador. O aumento pode ser justificado pela queda na oferta do alimento, em função de incidência de pragas e a maturação lenta do fruto no frio. Outros alimentos básicos na alimentação do brasileiro, como o pão francês, a carne bovina, o leite e o óleo de soja, auferiram também elevação nos preços.

De acordo com estimativas do Dieese, o salário mínimo ideal para custear as despesas básicas do trabalhador brasileiro em maio seria de R$ 3.377,62, ou 4,29 vezes o salário mínimo vigente no país. Para o mesmo período do ano passado o Dieese havia estimado o salário mínimo em R$ 3.079,31, ou 4,25 vezes o salário mínimo vigente em 2014. O cenário de instabilidade econômica reflete a diminuição do poder de compra do brasileiro.

cesta basica

Endividamento Familiar

A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) confirma a quarta alta consecutiva na relação de famílias com dívidas em atraso. A Peic é apurada mensalmente e conta com a coleta de dados de 18 mil consumidores distribuídos em todas as capitais metropolitanas e no Distrito Federal.

Em abril a pesquisa indicava para 19,7% das famílias com dívidas ou contas em atraso, já em maio esse percentual saltou para 21,1% (elevação de 1,4 p.p.). O total de endividados no país também sofreu aumento no período, chegando a 62,4% das famílias entrevistadas. Grande parte das dívidas está concentrada entre cartão de crédito, carnês e financiamento de veículos.

A alta aconteceu em ambas as faixas de renda. Especificamente no grupo com renda familiar inferior a 10 salários mínimos subiu 1 p.p. em comparação a maio. O resultado sugere que o avanço da inflação nos últimos meses em conjunto com a elevação da taxa de desemprego contribuiu para o comprometimento do orçamento das famílias.

O percentual de famílias que declararam não ter condição para pagar as dívidas cresceu de 6,9% para 7,4%.

Dívida Pública

De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional a dívida pública federal (interna e externa) atingiu R$ 2,451 trilhões no mês de abril. O estoque da dívida avançou, em termos nominais, 0,42% frente a março quando a dívida se encontrava a R$ 2,441 trilhões.

Apesar da retração de 5,64% do estoque da dívida pública federal externa, a dívida interna auferiu elevação de 0,75% em virtude da apropriação positiva de R$ 20,7 bilhões referente a juros da dívida. Hoje a composição da dívida pública é de 95,20% de dívida interna e de 4,80% de externa.

Os dados demonstram a tentativa do Governo em diminuir a dívida. As emissões de dívida somam R$ 102,213 bilhões contra os resgates de R$ 112,643 bilhões, logo o Governo pagou mais dívidas do que emitiu.

Indicadores de Mercado

indicadores de mercado

 

Brasília, 19 de junho de 2015.

Renan Bonilha Klein

25/06/2014
População Economicamente Ativa (PEA)

Baseado nos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o mês de abril registrou mais de 24 milhões de pessoas nesse grupo, o IBGE considera como PEA todas as pessoas, entre 10 e 60 anos, que estão inseridas no mercado de trabalho ou que estão procurando emprego. Desse total 65% são do sexo masculino e 35% do sexo feminino. Mais de 80% se incluem na faixa etária entre 25 e 49 anos.

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