Copom mantém Selic e mostra postura mais cautelosa em meio a incertezas

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21/06/2018

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve ontem a taxa básica de juros, a Selic, em 6,5%. A decisão foi unânime e veio em linha com o consenso de mercado. O colegiado, no entanto, deixou de fazer referências sobre seus próximos passos, dizendo apenas que a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente. Em maio, o Copom dizia que “para as próximas reuniões”, via como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente.

Essa mudança na comunicação mostra uma postura mais cautelosa do BC diante de um cenário externo mais desafiador e incertezas de curto prazo trazidas pela greve dos caminhoneiros sobre o comportamento da inflação e da atividade. Essa atitude mais “neutra” do colegiado do BC também reforça a importância da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para a tomada das decisões em cada uma das reuniões. O próximo encontro acontece entre 31 de julho e 1º de agosto.

No balanço dos fatores que podem deixar a inflação acima ou abaixo das metas, o Copom avalia que, desde a reunião de maio, reduziram as chances de a inflação ficar significativamente abaixo da meta no horizonte relevante e que o risco ligado ao cenário externo se intensificou. Esse rearranjo no balanço de riscos já vinha ocorrendo desde a reunião de maio e foi inclusive a justificativa para a manutenção dos juros naquele encontro, quando o Copom comunicou que a alta do dólar reduziu a chance de uma convergência mais lenta da inflação para a meta de 4,5% neste ano e de 4,25% em 2019.

No comunicado, o Copom voltou a enfatizar que não há relação mecânica entre choques recentes de preços e a política monetária. Tal postura vem sendo externada desde o fim de maio e foi reafirmada pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, e diretores depois que parte do mercado chegou a trabalhar com a possibilidade de alta da Selic como forma de conter a forte valorização do dólar.

Segundo o Copom, choques de preços que produzam ajustes de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário, ou seja, quando se espraiam para outros preços da economia. “É por meio desses efeitos secundários que esses choques podem afetar as projeções e expectativas de inflação e alterar o balanço de riscos”, explicou o BC, ponderando que esses efeitos podem ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas de inflação ancoradas nas metas.

O colegiado reiterou a visão de que a atual conjuntura prescreve política monetária estimulativa. Isso quer dizer que, por ora, o BC não vê a necessidade de subir a taxa de juros, que está abaixo do patamar considerado neutro.

O Copom também fez comentário sobre o impacto da greve dos caminhoneiros na inflação e na atividade. No questionário que envia aos participantes do mercado antes das reuniões do Copom, o BC tinha feito perguntas sobre o tema.

No lado dos preços, o Copom acredita que os efeitos altistas serão significativos, mas temporários. E também cita outros ajustes de preços relativos sem especificar. Por outro lado, o BC afirma que as medidas de inflação subjacente ainda seguem em níveis baixos, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. Quando o BC se refere a “níveis baixos” quer dizer que os núcleos de inflação (medições que excluem itens mais voláteis) estão rodando abaixo do piso da meta de 3%. Assim, o colegiado indica que pode esperar para ver se esses impactos terão algum reflexo mais duradouro na inflação corrente e nas expectativas.

As projeções apresentadas considerando Selic constante em 6,5% e câmbio a R$ 3,70 são de IPCA em torno de 4,2% em 2018 e 4,1% em 2019. Em maio, com Selic de 6,5% e dólar a R$ 3,60, a inflação estava em torno de 4% para os dois anos. Considerando a expectativa de mercado, de Selic em 8% em 2019 e dólar a R$ 3,60, a inflação ficaria em 3,7%. Projeções mais detalhadas serão apresentadas na próxima semana, quando será divulgado o Relatório de Inflação (RI). Também na semana que vem o Conselho Monetário Nacional (CMN) define a meta de inflação para 2021. A meta de 2020 é de 4%.

No lado da atividade, o colegiado diz que a paralisação no setor de transporte dificulta a leitura da evolução recente da atividade. Os dados referentes a abril, segundo o BC, sugerem atividade mais consistente. Mas os indicadores referentes a maio e, possivelmente, junho deverão refletir os efeitos da greve. O Copom trabalhava com recuperação gradual da economia.

Para o BC, o cenário externo seguiu mais desafiador e apresentou volatilidade. Os riscos associados à normalização dos juros em economias avançadas, caso dos EUA e em menor grau da zona do euro, produziu ajustes nos mercados internacionais. “Como resultado, houve redução do apetite ao risco em relação a economias emergentes.”

Além disso, foi enfatizado que a continuidade do processo de reformas e ajustes é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia.

Fonte: Valor Econômico.