Grandes cidades perdem vagas de trabalho pelo terceiro mês seguido

Imprimir    A-    A    A+

02/09/2014

São as grandes cidades – e as que concentram maior número de indústrias – as mais atingidas pela redução dos empregos formais no Rio Grande do Sul. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostraram, em julho, o terceiro mês consecutivo com fechamento de postos de trabalho com carteira assinada. Embora o saldo do ano ainda seja positivo, 15.382 empregos foram extintos entre maio e julho, com retração acentuada na indústria, atingindo também setores como construção civil, comércio e serviços.

Para especialistas, a crise internacional e o desaquecimento econômico se somam ao clima de pessimismo empresarial e às eleições, fatores que fazem os investidores retardarem decisões. Somente em julho, foram 6.390 empregos extintos, o pior resultado para o período desde 2005.

– A crise é um componente, mas não é só isso que explica. Existe uma grande parcela de responsabilidade do Brasil, que não oferece um ambiente de negócios adequado. Se a gente olhar o PIB, veremos que o país entrou em recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de crescimento negativo. O nível de emprego não resiste a isso – analisa Patrícia Palermo, economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado (Fecomércio-RS).

Diante do cenário, empresas de cidades industrializadas do Estado, sobretudo na Região Metropolitana e em Caxias do Sul, estão tomando medidas para reduzir custos. Em Gravataí, a Dana, fabricante de peças para caminhões e ônibus, parou a metade dos seus 1,5 mil funcionários por duas semanas em julho, recorrendo a férias coletivas. Agora, estuda adotar o chamado layoff – suspensão temporária dos contratos, com redução no pagamento de encargos trabalhistas.

– O decréscimo da atividade industrial se concretizou, a queda nas vendas atingiu dois dígitos, estamos em situação delicada – explica Luís Pedro Ferreira, do setor de relações institucionais da Dana.

Em Caxias do Sul, a Randon, do ramo de implementos rodoviários, acertou com 8 mil funcionários a flexibilização da jornada de trabalho com o objetivo de evitar demissões. Entre agosto e outubro, os empregados deixam de trabalhar às sextas-feiras, e metade dessas horas são descontadas. O Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias chegou a resistir ao acordo, mas os trabalhadores, receosos, pressionaram pela aprovação. A Taurus, nas unidades de Porto Alegre e São Leopoldo, promoveu demissões. Procurada, a empresa informou que não se pronunciaria sobre o assunto.

Analista aponta resultados díspares

Apesar do momento negativo, há levantamentos que atenuam o cenário. Na semana passada, o Dieese divulgou resultados de pesquisa que apontou queda de um ponto percentual na taxa de desemprego da Região Metropolitana. O indicador caiu de 6,7% em julho de 2013, para 5,7% em igual mês deste ano.

– A economia apresenta resultados desencontrados. A indústria, em parte exportadora, sofre reflexos pelo desaquecimento da economia mundial. Já o comércio e os serviços, mobilizados por quem faz compras, ainda são geradores de emprego porque a remuneração é crescente devido à política de valorização do salário mínimo, gerando capacidade de consumo interno – avalia Lucia Garcia, economista do Dieese. A indústria nacional precisa se reposicionar e atender prioritariamente ao mercado nacional, pondera a economista, tornando-se menos dependente das encomendas dos clientes externos.

Entre as demissões e a busca de alternativas

Das cidades industrializadas no Estado, Canoas é a mais atingida pela retração nos empregos formais, liderando o ranking de cortes de postos de trabalho. De janeiro a julho de 2014, o município perdeu 1.367 vagas com carteira assinada, conforme dados do Caged. No balanço do ano, municípios como Porto Alegre e Caxias do Sul também registraram redução de postos de trabalho na indústria, mas conseguiram manter saldo positivo no acumulado do ano devido a contratações em setores como comércio e serviços.

Na última sexta-feira, 71 trabalhadores da MWM, fabricante de motores, foram até o Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas para assinar a rescisão de contrato. A empresa os demitiu depois de ter desligado 117 empregados que aderiram a um Plano de Demissão Voluntária. A justificativa da MWM, que também já havia reduzido jornada, foi a queda no volume de negócios.

– Sempre é traumático, abala o emocional, mas sabíamos que, em algum momento, haveria corte. Eu tinha um salário bom, não sei se vou conseguir manter o padrão daqui por diante – preocupa-se o técnico de recursos humanos Jackson Fabiano da Silveira, 38 anos, técnico em recursos humanos, um dos que assinaram a rescisão.

Na negociação com o sindicato da categoria, a MWM concordou em garantir plano de saúde aos demitidos por mais três meses. Um bônus de até dois salários foi pago no ato da rescisão a título de compensação, dependendo do tempo de serviço do funcionário desligado.

– Perdemos pedidos, linhas de produção foram extintas e começou a sobrar pessoal. Era visível, tinha gente se pechando lá dentro, uma hora ia acontecer – lamenta Sérgio Luís de Moura, 52 anos, afiador que permaneceu por quase 16 anos na MWM.

O clima da indústria não é bom em Canoas. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, a Maxiforja, que se apresenta como uma das maiores do Brasil e fornece para a Randon, de Caxias, aderiu à flexibilização de jornada. E a AGCO, de tratores e colheitadeiras, chamou o sindicato para uma reunião hoje. A empresa confirma o encontro, mas não antecipa a pauta.

Embora o desemprego permaneça relativamente estável, os sindicatos começam a se preparar para negociar alternativas que evitem desligamentos pesados.

Fonte: Zero Hora.