Triste coincidência: 24 horas após uma mulher, Dilma Rousseff, ter sido reeleita para a Presidência do Brasil, sai o ranking de “Abismo de Gênero”, compilado pelo Fórum Econômico Mundial, e o Brasil cai nove posições em relação ao ano anterior.
O país ocupa agora a 71ª colocação, na exata metade de uma tabela de 142 países.
O ranking busca avaliar como esses 142 países estão distribuindo os recursos e oportunidades entre homens e mulheres.
Cobre quatro grandes áreas: participação e oportunidades econômicas, o que inclui salários e liderança; educação (acesso aos níveis básico e superior de educação); “empoderamento” político (representação de homens e mulheres nas estruturas de decisão); e saúde e expectativa de vida.
Uma segunda triste ironia: o Brasil vai mal exatamente no campo em que Dilma se destacou, a política. Se, no ranking geral, o Brasil é o 71º colocado, na participação política da mulher ocupa apenas a 74ª colocação.
Em pontos: no geral, a pontuação do Brasil é 0,694, em que 1 é a igualdade total homem/mulher, e 0, obviamente, a total desigualdade.
Na política, a pontuação brasileira é de apenas 0,148.
Pior ainda é o abismo de gênero no campo da economia, em que Dilma também é ativa, como economista: o seu país cai para o 81º lugar.
Nas duas outras áreas (educação e saúde), no entanto, o Brasil vai muito bem, com absoluta igualdade entre homens e mulheres tanto em expectativa de vida como em alfabetização e matrículas nos três níveis de ensino.
81 ANOS
Se serve de consolo, o progresso global em fechar a brecha homens/mulheres foi muito pequeno desde 2006, o ano em que o Fórum Econômico Mundial iniciou a compilação do ranking.
Nesse período todo, “o mundo viu apenas pequena melhoria na igualdade para as mulheres nos locais de trabalho”, diz o relatório final.
De fato, em 2006, o primeiro ano, a brecha havia sido 56% fechada, porcentagem que subiu para 60% agora.
O relatório informa que, se se mantiver essa trajetória, a igualdade entre homens e mulheres só será alcançada dentro de 81 anos.
Nenhum país fechou a brecha, mas, sem surpresas, são os países nórdicos que ocupam todas as cinco primeiras colocações. Pela ordem: Islândia, Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca, que subiu do 8º para o 5º lugar.
Surpresas, sim, há nas posições seguintes, até a décima: a pobre Nicarágua está em sexto lugar (e, portanto, em primeiro entre os latino-americanos), e Ruanda entra pela primeira vez no ranking, ocupando de saída a sétima colocação.
Há um segundo dado que pode servir de consolo para o Brasil: o país é o segundo colocado entre os integrantes dos Brics, perdendo apenas para a África do Sul, 18ª colocada no ranking geral.
Supera, portanto, a Rússia (75ª), a China (87ª) e a Índia (114ª colocada).
Fonte: Folha de S. Paulo.