Queda do comércio em julho mostra que consumo das famílias se mantém fraco no terceiro trimestre

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16/09/2015

O resultado de queda de 1% nas vendas do comércio varejista em julho mostra que o terceiro trimestre começou com desempenho fraco do consumo das famílias, de acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE nesta quarta-feira. Com isso, especialistas acreditam que os gastos dos consumidores continuarão a puxar para baixo os dados do PIB. Relatório do banco Bradesco reforçou a projeção de queda do consumo para o período, que deve ficar entre 1,0% e 1,5%.

No resultado do PIB do segundo trimestre, divulgado pelo IBGE em agosto, o consumo das famílias teve queda de 2,1% em relação ao primeiro trimestre, o pior desempenho desde o terceiro trimestre de 2001, quando recuara 3,2%. Na comparação com o mesmo período de 2014, o recuo foi de 2,7%, o segundo trimestre seguido de queda. Antes disso, o consumo das famílias tinha subido por quase 11 anos: 45 trimestres seguidos, ou desde o último trimestre de 2003. Os dados oficiais do terceiro trimestre saem em 1 de dezembro.

Segundo Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o cenário econômico leva a crer que as quedas nas vendas comércio não vão parar. Ele afirma que, mesmo com o Dia da Criança, em outubro, e a proximidade do Natal, o resultado será desfavóravel para o setor. Após o resultado da pesquisa do IBGE nesta quarta-feira, a CNC revisou para baixo a projeção para o balanço do varejo em 2015, com queda de 4% ante estimativa prévia de 3%.

— Uma série de variáveis estão coincidindo: a alta do dólar afeta bens de consumo duráveis, alimentos, importados em geral; a renda real tem caído substancialmente com aumento dos preços. E outra, o desemprego começou a aumentar muito rápido e vai continuar. Então, a indústria foi muito fraca e agora o comércio sente na ponta. A indústria está estocada e, com o comércio fraco, vai continuar assim — avalia Freitas.

Até mesmo o resultado positivo no varejo ampliado (que inclui a venda de veículos e materiais de construção), com alta de 0,6% no mês, não representa pode ser considerado uma recuperação do comército. Freitas afirma que foi um “ponto fora curva”.

— Os preços devem ter sido oferecidos em condições favoráveis, com juros zero praticamente, então há maior facilidade comprar um carro. A dúvida é saber que o consumidor vai conseguir honrar os pagamentos, se foi financiado — questiona o economista.

Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, afirma que o consumidor tende a se adaptar, principalmente nos períodos em que os índices de confiança estão baixos.

— É normal o consumidor ser mais cauteloso. No caso de móveis e eletrodomésticos, são produtos de valor unitário mais alto, de prestações longas e que consomem boa parte da renda. A redução e o encarecimento do crédito e o próprio mercado de trabalho menos aquecido gera uma insegurança a tomar atitudes de compra. Os consumidores vão adiando os gastos mais supérfluos por uma questão de segurança — explica Isabella.

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O economista da CNC explica que alguns setores sofrem menos do que outros de acordo com a demanda. Os setores de hipermercados, alimentos e produtos farmacêuticos, por exemplo, são alguns dos que sempre vão manter o consumo, mesmo com as vendas caindo, pois Freitas afirma que têm “demanda inelástica”, ou seja, são bens essenciais. No entanto, ele explica que se o desemprego continuar aumentando, tais segmentos vão sentir bastante, ainda que menos do que outras áreas.

No entanto, ele destaca que, em razão da produção industrial em queda, os estoques acumulados e os juros altos, este ano será um ano de descontos para bens de consumo duráveis. Para escoar a produção, Freitas afirma que será necessário reduzir os preços e, por isso, vê um segundo semestre menos pior do que o primeiro para o setor.

— Com essa fraqueza toda (nas vendas), é possível que você tenha liquidações contínuas e constantes para ver uma melhora marginal do comércio — observa o economista da CNC.

Fonte: O Globo.