Banco Central piora de 1,1% para 2,7% estimativa de contração da economia

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24/09/2015

No auge da turbulência no mercado financeiro — com o dólar maior que R$ 4 por causa do cenário político — o Banco Central admitiu nesta quinta-feira que a recessão econômica de 2015 será bem maior do que esperava antes. A projeção para a queda na atividade econômica passou de 1,1% para 2,7% neste ano. O BC culpou o envio ao Congresso Nacional de um orçamento para o ano que vem com despesas maiores que receitas pela aprofundamento da crise. E alertou que, se não houver mudanças, o governo comprometerá ainda mais a situação econômica do país.

Na visão da autoridade monetária, o orçamento no vermelho desorganizou a economia e atrapalhou o trabalho de controlar a inflação. Assim, a perspectiva é de mais aumento de preços. A estimativa para a inflação oficial também será maior: a estimativa subiu de 9% para 9,5%, segundo o relatório trimestral de inflação, a publicação mais importante da autoridade monetária.

“Os impactos das medidas de ajuste fiscal adotadas desde o início do ano foram bastante relevantes e, inicialmente,contribuíram para fortalecer a consistência da políticaeconômica. A degradação excessiva das expectativas de cumprimento das metas fiscais em 2015, associada, em grande parte, ao recuo na arrecadação decorrente da retração — mais acentuada do que projetada inicialmente — na atividade econômica, exerceu desdobramentos negativos sobre os prêmios de riscos de ativos domésticos. A piora das contas públicas, em relação ao observado no relatório de inflação anterior, e a deterioração da percepção de risco desencadearam a redução da nota de risco soberano, por importante agência de avaliação de risco, para patamar inferior ao grau de investimento, no início de setembro. Nesse contexto, medidas que concorram tempestivamente para o reequilíbrio das contas públicas mostram-se fundamentais para a estabilidade macroeconômica e para a retomada da confiança e do nível de atividade”.

Com a mudança, o BC se alinha às estimativas do mercado financeiro, que também espera contração de 2,7% neste ano e inflação de 9,34%, segundo a última pesquisa feita pela própria autoridade monetária. Já o governo trabalha com retração do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano de 2,44%, ante o recuo de 1,49% previsto no terceiro bimestre, segundo relatório de avaliação de receitas e despesas primárias divulgado nesta terça-feira pelo Ministério do Planejamento. O documento mostrou também um aumento de 9% para 9,29% na previsão de inflação.

“A perspectiva de nova mudança de trajetória para as variáveis fiscais, implícita na proposta orçamentária para 2016, afetou as expectativas e, de forma significativa, os preços de ativos. Nesse sentido, o Comitê nota que alterações significativas na trajetória de geração de superávit primários impactam não apenas as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação, mas também a precificação de ativos e a percepção de risco da economia, contribuindo, se não ocorrer mudança de direção, para uma avaliação negativa sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo”, alerta o BC.

PRIMEIRO RELATÓRIO DESDE REBAIXAMENTO

O Banco Central diz que o ajuste fiscal é urgente:

“Considerando que o ajuste fiscal também possui suas próprias defasagens entre a discussão e a adoção das medidas e seus resultados, quanto mais tempestiva for a implementação do processo em curso, mais rápida será a retomada de uma trajetória favorável para a dívida pública e para a confiança de famílias e empresas. Especificamente sobre o combate à inflação, o Comitê destaca que a literatura e as melhores práticasinternacionais recomendam um desenho de política fiscalconsistente e sustentável, de modo a permitir que as ações depolítica monetária sejam plenamente transmitidas aos preços”, diz o BC.

No relatório, o BC alertou que se o governo não resolver a questão fiscal, o dólar continuará a subir. E a volatilidade e aversão a risco podem contaminar os preços internos de uma forma mais rápida por causa da percepção de que a economia brasileira não vai bem:

“O Copom ressalta que, desde o Relatório anterior, os preços de ativos domésticos evoluíram de acordo com a aversão ao risco nos mercados financeiros internacionais, mas, principalmente, refletindo mudanças na percepção de risco da economia brasileira. (…) fatores domésticos, em especial nos campos do atual processo decisório da política fiscal, influenciaram e continuarão a influenciar, se não forem tempestivamente endereçados, os preços desses ativos financeiros. Importa destacar, mais uma vez, que eventuais aumentos de volatilidade e de aversão ao risco nos mercados internacionais tendem a ser transmitidos aos ativos domésticos, de maneira discreta e incremental, mas que pode ser amplificada em função da percepção da solidez macroeconômica e financeira doméstica”.

Apesar de dizer que o repasse da alta do dólar para os preços internos possa ter diminuído por causa da crise econômica, a percepção dos agentes a respeito da “perenidade” desse aumento pode acelerar o repasse para a economia doméstica. Mesmo assim, o BC acha que a melhor política é manter os juros estáveis.

“O Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016”.

Esse é o primeiro documento oficial do Banco Central divulgado após o rebaixamento da nota de classificação de risco da agência Standard & Poor’s. Há duas semanas, a S&P retirou o grau de investimento do Brasil, o selo de bom pagador de sua dívida.

No relatório, o BC mostra a influência do quatro fiscal do país no controle da inflação. O envio de um orçamento deficitário para o ano que vem pelo governo dificulta a credibilidade do país e atrapalha o controle da inflação.

Até então, o documento mais recente do BC era a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Ela já dizia que o fato de o governo ter mandado o orçamento com déficit para o Congresso Nacional e a explosão da cotação do dólar aumentam o risco de a inflação não ir para a meta de 4,5% no ano que vem, nem mesmo com recessão econômica e aceleração do desemprego.

Ainda previa que a crise econômica deve ser mais longa que o previsto até agora. Mesmo sem levar oficialmente em consideração a mudança no rating do país, o Copom divulgou uma ata muito diferente do tom do comunicado da semana passada, quando os diretores do BC previam que a recessão da economia seria suficiente para conter os preços. Agora, dizem que há mais riscos para que a meta de inflação não seja cumprida.

Fonte: O Globo.