Reforma Tributária pressiona setor contábil e expõe jornada exaustiva de trabalhadores

Para a FEAAC, setor patronal cobra qualificação, mas impõe jornadas extensas e pouco investe na capacitação dos profissionais.

Com a aproximação da Reforma Tributária, prevista para implementação entre 2026 e 2033, o setor de contabilidade já antecipa um aumento significativo na demanda por mão de obra qualificada no país. Segundo levantamento da consultoria Robert Half, publicado nessa segunda-feira (16), 53% das empresas do segmento planejam contratar ao menos três novos profissionais para enfrentar os desafios da transição.

No entanto, essa expectativa esbarra em uma contradição: donos de escritórios reclamam da falta de profissionais capacitados, mas impõem jornadas exaustivas que dificultam o próprio desenvolvimento dos trabalhadores.

“Querem que o trabalhador estude e se qualifique, mas como, se ele já passa mais de 10 horas no trabalho, soma mais 3 ou 4 horas no transporte e mal sobra tempo para descanso? Isso é desumano”, afirma Lourival Figueiredo Melo, presidente da FEAAC (Federação dos Empregados de Agentes Autônomos do Comércio no Estado de São Paulo), entidade que representa mais de 100 mil trabalhadores no comércio e serviços no estado paulista.

Banco de horas

A FEAAC se posiciona contrária a propostas que transferem para os trabalhadores a responsabilidade pela qualificação, especialmente por meio de banco de horas, jornadas estendidas ou acordos que mascaram a sobrecarga.

“O discurso dos empresários é que faltam profissionais, mas, na prática, querem mão de obra qualificada sem investir em qualificação, explorando os trabalhadores. Essa conta não fecha”, reforça Lourival Melo.

O presidente da FEAAC destaca que cursos de especialização em contabilidade podem custar mais de R$ 2 mil por mês, valor incompatível com os salários médios do setor. Além disso, o tempo necessário para os estudos se soma à rotina já desgastante dos trabalhadores.

“Não é justo penalizar o trabalhador pela falta de planejamento das empresas. Se querem profissionais capacitados, precisam oferecer condições reais: salários dignos, jornadas compatíveis e acesso à educação custeada, seja diretamente ou por convênios”, defende.

Risco de colapso durante transição

Durante a transição para o novo sistema tributário, que exigirá a operação simultânea do modelo atual e do novo, a complexidade aumenta e a demanda por mão de obra qualificada nas áreas Fiscal, Contábil, Jurídica e de Tecnologia será ainda maior.

Sem um compromisso conjunto entre o setor patronal e a classe trabalhadora para valorizar e proteger quem executa essas funções, o setor pode enfrentar colapsos nas rotinas, alta rotatividade, adoecimento da categoria e maior precarização.

“A FEAAC não vai aceitar que o trabalhador pague essa conta. Estamos vigilantes e vamos combater qualquer tentativa de impor jornadas abusivas, banco de horas fraudulentos ou práticas que prejudiquem a saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores”, conclui o presidente da entidade, Lourival Figueiredo Melo.