Justiça aceita denúncia e mulher se torna ré por injúria racial, lesão e homofobia contra clientes e funcionários de padaria em SP

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03/12/2020

A Justiça aceitou nesta semana a denúncia do Ministério Público (MP) e tornou ré a mulher que aparece em vídeos nas redes sociais ofendendo e agredindo funcionários e clientes de uma padaria na Zona Oeste de São Paulo, no dia 20 de novembro.

Lidiane Brandão Biezok, de 45 anos, é acusada pela promotora Martha de Camargo Duarte Dias de ter cometido injúria racial, lesão corporal e homofobia contra as vítimas. Em entrevista à TV Globo, a mulher, que está em prisão domiciliar, pediu desculpas e alegou que sofre de bipolaridade e depressão.

Mesmo assim, em sua decisão, a juíza Carla de Oliveira Pinto Ferrari, da 20ª Vara Criminal, no Fórum da Barra Funda, determinou na terça-feira (1º) que Lidiane continue respondendo aos três crimes presa em casa. A mulher teve a prisão em flagrante convertida por decisão judicial, após alegar que possui “problemas psiquiátricos”. Desde então está detida preventivamente dentro do apartamento onde mora com os pais.

A magistrada também negou o pedido da defesa da acusada para autorizar a instauração de um incidente de insanidade mental em Lidiane. De acordo com seu advogado Victor Martinelli Paladino, a mulher pode ter tido um surto psicótico no dia que foi filmada xingando e batendo em clientes e empregados da padaria Dona Deôla, em Perdizes, bairro nobre da capital.

“Quanto à alegada insanidade mental da ré em fase de inquérito, reputa-se prematura a instauração do respectivo incidente, na medida em que a maior parte dos documentos trazidos pela defesa da ré aos autos refere-se a receituários cujo conteúdo está ininteligível, sendo que alguns sequer estão datados”, discordou a juíza Carla Ferrari na sentença na qual aceitou a acusação contra Lidiane.

A juíza marcará uma data para ouvir Lidiane, seu advogado, a promotora e as vítimas numa audiência. Posteriormente, a magistrada decidirá se tem elementos para julgar a mulher pelos crimes e dará uma sentença: a condenando, absolvendo ou arquivando o caso.

‘Advogada internacional’ e insanidade

Quando foi presa pela Polícia Militar no dia 20 na padaria, a mulher se identificou como “advogada internacional”, conforme a filmagem que circula na web (veja no vídeo acima). Entretanto, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou que ela não tem registro para advogar

Segundo sua defesa, a família de Lidiane informou que ela cursou a faculdade de direito na Universidade Mackenzie, na capital, em 2003, quando se tornou bacharel. Mas não fez o concurso da OAB.

O advogado de Lidiane defende que ela seja liberada da prisão domiciliar, e alega que sua cliente precisa de tratamento psiquiátrico. Por esse motivo, ele quer sua cliente seja submetida a um exame de insanidade mental.

“Para apurar se nos momentos dos fatos Lidiane tinha ou não ciência ou capacidade dos atos dela”, falou Victor, na terça-feira (1º).

Pedido de desculpas

No último dia 23 de novembro, quando falou com a reportagem, Lidiane se identificou como advogada e pediu desculpas às vítimas pelo que fez. Também disse sofrer de bipolaridade e depressão.

“Esse problema de depressão é genético, é grave, não é uma depressãozinha, entendeu? É uma depressão para o resto da vida, é bipolaridade. É uma coisa complicada, é complexo”, disse a mulher por telefone.

“Eu gostaria muito, muito mesmo de dar um abraço neles e falar: ‘Desculpa, cara. Desculpa, perdão'”, declarou Lidiane, que se disse arrependida e não quis ofender e agredir ninguém.

Essa não é a primeira vez que ela é acusada por xingar e bater em alguém. Em 2005, Lidiane havia sido acusada de calúnia, injúria e difamação. E, em 2007, respondeu por lesão corporal. Também há outros boletins de ocorrência contra ela por crimes parecidos.

Os dois processos, no entanto, foram suspensos na Justiça. O motivo seria o fato de a ré ter depressão, o que a impediria também de exercer a advocacia, segundo policiais ouvidos pelo G1.

Os vídeos gravados no dia 20 do mês passado na padaria Dona Deôla mostram Lidiane ofendendo e agredindo as pessoas. A confusão começou depois que clientes começaram a filmar a mulher humilhando uma atendente da padaria. Ela ainda atirou objetos nos funcionários e quebrou uma TV, segundo testemunhas.

Na filmagem, Lidiane aparece jogando guardanapos na direção da funcionária Luane da Silva Lopes, a quem ofende enquanto reclama do lanche. Segundo o MP, se a vítima quiser pode fazer uma representação contra a mulher por crime contra a honra. Em entrevista à reportagem, e empregada chorou e disse que “isso dói para todo mundo”.

Em seguida, a gravação mostra o artista Kelton Campos Fausto, de 24 anos, se aproximar de Lidiane e falar: “Ela não está aqui para te servir, amore. Ela não vai te servir”. Ele alega que a mulher o ofendeu com palavras racistas.

As imagens também mostram o artista Ricardo Boni Gattai Siffert, de 24 anos, sendo xingado por Lidiane com ofensas homofóbicas.

“Eu não tô falando mais de p* nenhuma. Então aqui é uma padaria gay?. Eu não tô falando p* nenhuma. Seu f* da p*. Você quer me atacar seu f* da p*”, diz Lidiane nas imagens, quando agride Ricardo, que não reagiu.
Os vídeos foram analisados pelo 91º Distrito Policial (DP), Ceasa, que registrou o caso. A investigação é feita pelo 23º DP, em Perdizes.

Os vídeos foram analisados pelo 91º Distrito Policial (DP), Ceasa, que registrou o caso. A investigação é feita pelo 23º DP, em Perdizes.

Fonte: G1