Mercado busca decifrar os sinais do Fed

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19/08/2013

A semana passada foi de forte alta dos Treasuries, os títulos do Tesouro americano, em reação a indicadores econômicos que, na leitura do mercado, solidificaram as apostas para a redução do “quantitative easing” (afrouxamento monetário quantitativo) do país em setembro, o que impactou os preços de ativos mundo afora.

Parece que, a despeito dessa possibilidade estar sobre a mesa desde maio, quando o Federal Reserve (Fed) deu o primeiro sinal de suas intenções, há espaço para mais volatilidade até que, de fato, a desaceleração do programa aconteça. Nesse ambiente, a divulgação da ata da última reunião do comitê de política monetária (Fomc) na próxima quarta-feira tem potencial de mexer ainda mais com os ânimos dos agentes. Isso porque o texto pode sinalizar mais claramente os próximos passos do BC americano, já que o comunicado da reunião anterior não deu pistas.

Alguns analistas, inclusive, chamaram atenção justamente à falta de indicações de mudanças da política no comunicado – algo inusual quando o Fed está às vésperas de um evento dessa importância.

A ata deve explanar as discussões delineadas no comunicado. As grandes diferenças da comunicação do Fed na reunião de julho em comparação com junho foram a sutil revisão a respeito do estado da atividade econômica, o alerta para os efeitos contracionistas da alta das taxas das hipotecas e a preocupação com o baixo nível da inflação. O ritmo da atividade foi descrito como “modesto” em vez de “moderado” na reunião anterior.

Chama atenção porque desde então alguns indicadores se mostraram mais positivos – como o mercado de trabalho – embora, no cômputo geral, permaneçam emitindo sinais mistos. Será interessante conhecer a visão do Fomc que predominava naquele momento para a que mudança sutil na linguagem demonstrasse mais cautela do BC com o ritmo da recuperação econômica – o que, em tese, joga as expectativas da redução da compra de ativos pelo Fed para frente.

O mesmo vale para os outros pontos acima (riscos ao setor imobiliário proporcionados pela alta nas taxas hipotecárias e o risco causado pela inflação persistentemente abaixo da meta), além da questão fiscal.

O UBS lembra que na ata da reunião de junho “diversos” membros do Fomc avaliavam que uma redução em breve do programa de compras de ativos “seria apropriada”, enquanto “muitos” indicaram que uma recuperação adicional nas perspectivas para o mercado de trabalho seria necessária antes que isso acontecesse. O banco acredita que a ata de julho pode mostrar se o equilíbrio nas opiniões no comitê mudou e se a redução das compras é mais provável em setembro ou em dezembro.

Para o Nomura, a ata deve revelar a avaliação do Fomc dos progressos realizados no mercado de trabalho desde que o programa de compras de ativos foi estabelecido. Também deve fornecer uma visão sobre os planos de redução, uma discussão sobre como tais planos dependem do desempenho do mercado de trabalho e da economia de forma mais ampla. A instituição também vê como possível que o Fomc evidencie debates em torno de opções para mudanças na “orientação futura” (“forward guidance”) para as taxas de juros. Essas opções incluem a redução do limite para a taxa de desemprego (hoje em 6,5%), estabelecendo um limite inferior para a inflação alvo (até 2,5%), ou uma combinação de ambos.

Fonte: Valor