Queda na concessão de empréstimos se acelera

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30/07/2013

Com o ritmo fraco da economia e incertezas em relação a seu desempenho futuro, a concessão de crédito desacelerou fortemente em junho, especialmente nos bancos privados nacionais. Foram os bancos públicos os principais protagonistas no mercado – eles desbancaram os bancos privados (na soma dos nacionais e estrangeiros) como principal fonte de empréstimos, passando a deter 50,3% do saldo total de todo o sistema financeiro. A menor oferta de empréstimos tende a sancionar um crescimento menor da economia mais à frente, um dos efeitos previstos do ciclo de aperto monetário realizado pelo Banco Central.

A cautela na oferta de crédito por parte dos bancos nacionais privados explica parte do baque no crédito e ocorre simultaneamente à queda da demanda, já impulsionada pelo aumento da taxa de juros. A concessão total de novos empréstimos com recursos livres levou um tombo no mês passado, com recuo de 2,5% para empresas e de 5,2% para os consumidores. O resultado coloca o ritmo de empréstimos feitos a uma velocidade de 10% nos doze meses encerrados em junho, com tendência a arrefecer para um dígito. Já os saldos, dado o esforço notável dos bancos públicos, evoluíram 1,8% no mês e 16,4% em doze meses.

A evolução das concessões com recursos livres, que retira um pouco do peso dos bancos públicos, bem mais ativos no crédito direcionado, mostra um quadro de maior enfraquecimento. Novos créditos para pessoas júrídicas diminuíram 7,9% no mês em relação a maio, com avanço de 4,3% no ano encerrado em junho. O declínio no mês foi maior para as pessoas físicas – -8,2% -, mas o ritmo anual ainda é positivo, de 8,8%. No total das concessões, houve queda de 8% no mês e expansão anual, cadente, de 6,5%. Para comparação, o total de créditos direcionados aumentou 22% no mês e 37,5% em doze meses, com avanços de 26,6% para empresas e de 15,6% para consumidores no mês.

Assim, dependendo da fonte credora, o mundo do crédito evolui a duas velocidades. Os empréstimos com crédito direcionado estão explodindo, enquanto que os demais encolheram em relação ao mês anterior. No caso dos bancos públicos, tanto as concessões de crédito direcionado (onde têm peso forte o crédito agrícola e os financiamentos habitacionais) como os saldos de empréstimos crescem vertiginosamente. O estoque de crédito dessas instituições cresceu 29,3% em doze meses e 3,5% em junho. Nos bancos privados nacionais, a história é outra. Houve recuo do estoque de 0,3% em junho e avanço ainda razoável de 5,3% em doze meses. Os bancos estrangeiros exibem números maiores, com aumento de 0,9% e 6,7%, respectivamente.

O saldo de crédito dos bancos públicos, dessa forma, cresceu em R$ 43,1 bilhões no mês passado em relação a maio e o dos bancos estrangeiros, R$ 3,6 bilhões, enquanto que o dos bancos nacionais encolheu R$ 2,7 bilhões. Em resumo, o estoque de crédito privado (bancos nacionais e estrangeiros) quase parou de crescer, com avanço de R$ 900 milhões.

Nem mesmo os bancos públicos contribuíram com a expansão do crédito no segmento livre, onde encontram-se as modalidades mais relevantes, como crédito pessoal, consignado e de aquisição de veículos, linhas de capital de giro, financiamento ao comércio exterior. As concessões diminuíram expressivos R$ 21,6 bilhões. O dinamismo do crédito ficou por conta do dinheiro direcionado, cujas concessões injetaram recursos de R$ 9,7 bilhões.

O crédito para as pessoas físicas com recursos livres teve encolhimento generalizado. O crédito pessoal não consignado teve freada forte, com queda de 10,8% no mês passado, enquanto que o resultado em doze meses já é negativo em 1,3%. Mesmo o crédito consignado, que exibe robusta expansão de 18,2% em doze meses, caiu 5,6% em junho. Um dos filões mais disputados do mercado no passado recente, o de aquisição de veículos, recuou 6,5% em junho e um pouco menos do que isso em um ano. Menor uso do cheque especial e do cartão de crédito completam o quadro. Para as pessoas jurídicas, as retrações mais importantes foram sentidas no capital de giro (-17,5%), especialmente naqueles com prazos superiores a um ano (-32,9%), na conta garantida (-3.5%) e adiantamento dos contratos de câmbio (-19,9%). Ainda que as manifestações de junho possam ter tido alguma influência, a tendência do mercado de crédito, com os juros em alta, é de baixa.

Fonte: Valor