O Brasil tem uma taxa de desemprego maior do que a pesquisa mensal do setor mostrava. A nova taxa de desocupação foi de 7,4% no segundo trimestre de 2013, informou nesta sexta-feira o IBGE, acima dos 5,9% registrados no mesmo período pela Pesquisa Mensal de Emprego, que acompanha o mercado de trabalho nas seis maiores metrópoles brasileiras (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Salvador e Porto Alegre). A principal da causa do salto na taxa foi a abrangência geográfica. Agora, todo o Brasil será retratado na pesquisa, com 3.464 municípios incluídos no levantamento. Pela primeira vez, o IBGE começa a apurar a taxa de desemprego para todo o país a cada trimestre. Até então, os dados nacionais só eram pesquisados uma vez ao ano, pela Pnad antiga e a divulgação ocorria com um ano de defasagem. Em 2012, ficou em 6,1%.
– É óbvio que a percepção do que é o mercado de trabalho brasileiro vai ter que ser revista a partir dessas informações. As pesquisas não são comparáveis. A Pnad contínua é nacional, enquanto a PME representa seis regiões metropolitanas. São as seis regiões com os maiores mercados de trabalho, as maiores e melhores ofertas, uma estrutura produtiva completa, com indústria e serviços, por exemplo, e com uma força de trabalho mais educada. Esses mercados tendem a ser extremamente dinâmicos – afirmou a presidente do IBGE, Wasmália Bivar.
Índice de formalização está maior
Ao todo, o Brasil tinha 90,6 milhões de pessoas ocupadas no segundo trimestre de 2013, enquanto 7,3 milhões estavam desocupados. Mais de dois terços (69,7%) dos ocupados eram empregados, enquanto quase um quarto (23%) trabalhava por conta própria. A qualidade do mercado de trabalho pode ser percebida pela formalização: 76,4% dos trabalhadores do setor privado tinham carteira assinada, um avanço frente aos 75,5% do segundo trimestre de 2012.
– Já esperávamos uma taxa maior porque agora todos os estados são pesquisados, é uma abrangência muito mais completa. A taxa nacional (de 7,4%) faz mais sentido com o nosso crescimento (perto de 2%), é mais coerente com o resto dos indicadores macroeconômicos – afirma o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Projeção da consultoria aponta para uma taxa de desemprego nacional de 7,2% em 2013, enquanto para a da Pesquisa Mensal de Emprego essa taxa deve ficar em 5,4%. A nova pesquisa, diz Vale, é um retrato mais fiel do mercado de trabalho brasileiro e a iniciativa do IBGE deve ser aplaudida, principalmente o aumento da abrangência geográfica.
Foi só a partir da maior cobertura que trabalhadores como o auxiliar técnico brasiliense Brayan Pereira Marques, de 18 anos, puderam ser incluídos na pesquisa. Ele acaba de conseguir seu segundo emprego, numa empresa no Distrito Federal, por indicação da escola técnica onde estudava, triplicou o salário e já faz planos:
– No meio do ano, vou começar a faculdade de engenharia de redes – disse.
Mais distantes do pleno emprego
O economista João Saboia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também não viu surpresa no aumento da taxa de desemprego. Segundo ele, foi consequência do fato de a pesquisa passar a captar a realidade do mercado de trabalho em regiões menores e menos dinâmicas. Para o especialista, que já não via pleno emprego no Brasil pela PME, a nova taxa deixou isso patente.
– Já não falava em pleno emprego antes porque há muita gente fora do mercado de trabalho disponível para trabalhar e que pode entrar na força de trabalho a qualquer momento. Não estamos no pleno emprego, ainda mais agora com essa taxa em 7,4% – afirma Saboia.
Para José Marcio Camargo, da PUC-Rio e da gestora Opus, a discussão de pleno emprego fica comprometida com a falta de dados sobre rendimentos na Pnad Contínua. A renda do trabalho só deve ser divulgada no fim deste ano. Até lá, o dado salarial ficará ainda restrito às seis regiões metropolitanas da PME.
– O pleno emprego tem a ver com o fato de que os salários reais sobem acima da produtividade.
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse que a pesquisa ajudará na formulação de políticas públicas no futuro.
– O mercado de trabalho continua aquecido, independentemente do crescimento do PIB que, para alguns, é muito baixo. A redução da participação de jovens é um indicador importante de que eles estão ficando mais tempo na escola.
A Pesquisa Mensal de Emprego continuará existindo até dezembro. E a Pnad antiga também vai deixar de existir. Os indicadores da Pnad revelam taxa nacional de desemprego em 8% no primeiro trimestre de 2013, ante 5,6% pela PME.
Fonte: O Globo