Dilma ensaia discurso para sair da defensiva na pauta das ruas

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18/07/2013

A presidente Dilma Rousseff considera as manifestações populares ocorridas em junho como consequências da melhoria na qualidade de vida do brasileiro nos últimos anos. Em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Presidência da República, ontem, Dilma procurou construir um discurso em que a política social do governo, com redução da pobreza e aumento da classe média, teria como resultado “novos anseios, novas exigências”.

A presidente se colocou como uma liderança capaz de responder a essas demandas. Dilma insistiu na realização de um plebiscito sobre a reforma política como uma solução ao pedido, durante os protestos, de “mais ética, mais democracia, mais oportunidade de ser ouvido”.

Os manifestantes queriam avanços e, na avaliação da presidente, “tudo o que ocorreu floresceu no meio de processo de mudanças que estavam em andamento no Brasil há uma década, quando ocorreu a maior redução da desigualdade dos últimos 50 anos”.

Há hoje no governo uma avaliação de que as manifestações populares não questionam o legado do governo Dilma ou Lula, que seria visto como positivo, mas exigem sinais de que haverá melhoras no futuro. Foi com base nesse diagnóstico que discursou a presidente, ao celebrar os 10 anos do Conselhão.

Tornar a política mais transparente e melhorar a representatividade política são, talvez, as respostas mais evidentes “às ruas”, segundo Dilma. Nos protestos, “era cobrado mais ética, mais democracia, mais oportunidade de ser ouvido. […] E isso tudo passa, eu acredito, por uma reforma política”, completou.

Para fazer isso, o governo considera fundamental ter uma consulta popular, insistiu a presidente.

“Plebiscito, referendo ou projeto de iniciativa popular. Essas três formas de consulta são previstas na Constituição”, listou a presidente Dilma Rousseff, abrindo possibilidade de alternativas ao plebiscito e lembrando que, nessa parte dos pactos anunciados em junho, o governo optou pelo plebiscito, ideia que foi descartada pela própria base do governo no Congresso Nacional. Deputados e senadores vão elaborar um projeto de reforma em 90 dias que depois de aprovado seria submetido a um referendo da população.

Num esforço para evitar que a outra proposta do governo, o programa Mais Médicos, que seria a resposta oficial para as demandas por melhora na saúde tenha o mesmo destino do plebiscito e da constituinte exclusiva, também abandonada por inconstitucionalidade, os ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Aloizio Mercadante (Educação) partiram para o ataque.

O programa inclui novas iniciativas, como os dois anos adicionais do curso com prestação de serviço ao SUS (Sistema Único de Saúde). “Não formamos, nos últimos anos, os especialistas que precisávamos formar. Não são só hospitais públicos que estão precisando de médicos”, argumentou Padilha, citando como exemplo a escassez de pediatras, especialistas em câncer e em Terapia Intensiva (UTIs).

Assim, o governo pensou numa “medida transitória”. Primeiro, vai chamar médicos brasileiros para as periferias das grandes cidades e para o interior do país. Caso as vagas não sejam preenchidas, médicos estrangeiros poderão atuar no Brasil. Padilha, então, ressaltou que isso não vai tirar postos de trabalho dos profissionais do país.

Mercadante, em discurso mais forte, insinuou que as críticas aos dois anos extras na formação de médicos no Brasil são elitistas. Algo semelhante foi adotado no Fies, que oferece financiamento estudantil, em que alunos também têm que atuar no SUS para quitar a dívida.

“Não houve uma crítica, uma emenda [a essa exigência do Fies]. E vou te dizer por quê. Porque eles são pobres”, disse o ministro em tom de desafio, ao encerrar a fala na reunião do CDES.

 Fonte: Valor Econômico