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Diretor: José Francisco de Jesus Pantoja Pereira
Gerente de Relações Institucionais: Sheila Tussi da Cunha Barbosa
Analistas de Relações Institucionais: Renan Bonilha Klein
Tamiris Clóvis de Almeida
Victor Velú Fonseca Zaiden Soares
Assistente Administrativa: Quênia Adriana Camargo
Estagiária: Letícia Tegoni Goedert

Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilio

No final do mês passado uma fila de 3 mil desempregados se formou nos portões de uma construtora na Zona Norte do Rio de Janeiro para concorrer a 200 vagas, o que causou tumulto e um portão derrubado.

Cenas como esta retratam o quadro de crise econômica no país.

A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio elaborada pelo IBGE, a PNAD Contínua, confirmou mais uma alta na taxa de desemprego no país. A taxa, que na pesquisa anterior estava a 8,3%, passou para 8,6% no trimestre móvel finalizado em julho, sendo este o maior resultado desde quando a pesquisa começou a ser formulada. A gravidade do cenário de desemprego é verificada ao observar o nível de desemprego estimado no mesmo período do ano passado, quando a taxa se encontrava em 6,9%.
A massa de trabalhadores penalizada pelo fraco desempenho da atividade econômica do Brasil atinge o número de 8,6 milhões de pessoas a procura de um emprego. O expressivo crescimento no contingente de desempregados pode ser atribuído ao corte nos postos de trabalho com carteira assinada no setor privado. A redução corresponde a 337 mil trabalhadores neste setor.

Se por um lado a crise prejudica milhões de trabalhadores, por outro lado este momento de adversidade está forçando os trabalhadores a se reinventarem. O percentual de empregadores apresentou crescimento de 8,1% frente ao trimestre de maio a julho de 2014. Já os trabalhadores por conta própria registraram crescimento de 4,2%.
O rendimento médio real do trabalhador brasileiro não denotou variação significativa neste ano. A pesquisa estimou o rendimento de R$ 1.881 no trimestre de maio a julho de 2015 contra os R$ 1.897 no trimestre móvel de fevereiro a abril. Na comparação com o mesmo período do ano imediatamente anterior, houve aumento de 2% no poder de compra do trabalhador brasileiro (R$ 1.844), em especial os empregados da iniciativa privada tiveram seus rendimentos acrescidos em 2,9%.  Em contrapartida os trabalhadores domésticos e os empregados no setor público apresentaram variação negativa em seus rendimentos, reduções de 1,6% e 1,8%, respectivamente.

Volume de vendas no Comércio

As vendas no Comércio Varejista caíram no mês de agosto em 0,9% na comparação com o mês anterior ajustado sazonalmente. A receita nominal das empresas do setor acompanhou a variação negativa no volume de vendas com retração de 0,2%. No ano já é o sétimo resultado negativo consecutivo, correspondendo à perda acumulada de 6,4% no volume de vendas.

No caso do Comércio Varejista Ampliado, que inclui as atividades ligadas à venda de Veículos, motos, partes e peças e Material de Construção, a queda foi mais agressiva. No mês, a retração frente a julho foi de 2% para o volume de vendas e, 0,9% para a receita nominal na série com ajuste sazonal. Se comparado a agosto de 2014, o varejo ampliado apresentou recuo de 9,6% no volume de vendas e 2,5% na receita nominal. O resultado disso é reflexo do baixo desempenho do setor automotivo, em virtude da elevação do crédito e, principalmente, pelo endividamento das famílias.

A Gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Isabella Nunes, classificou a queda nas vendas comparadas a 2014 como um dos piores resultados já registrados.

“Esses sinais de menor ritmo da atividade das vendas no Varejo também são expressos na comparação com 2014, quando você tem uma queda de 6,9% disseminada na maior parte das atividades, sendo esta taxa a quinta taxa consecutiva nessa comparação e a maior queda desde março de 2003” disse Nunes.

Apesar das vendas terem assumido trajetória descendente desde dezembro de 2014, os varejistas apostam na Black Friday, que contribui para o crescimento das vendas no Natal. No Brasil a Black Friday vai para sua sexta edição neste ano. Na sua última edição chegou a impulsionar mais de 2,2 milhões de vendas.

Apenas duas atividades avaliadas pela Pesquisa Mensal do Comércio demonstraram variação positiva nas vendas, sendo elas: Artigos farmaceuticos, médicos, ortopedia e de perfurmaria (0,6%) e de equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação (1%). Os piores resultados foram registrados nas vendas de Veículos e motos (-5,2%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-2,6%) e Material de construção (-2,3%).

Renan

Saldo do Emprego no Comércio e Serviços

A crise volta a prejudicar os comerciários brasileiros. Em agosto o Comércio realizou mais de 331 mil admissões contra 344 mil demissões. O setor registrou o corte de quase 13 mil postos de trabalho. Somente o Comércio Varejista é responsável por mais de 10 mil cortes. Mesmo com a data comemorativa de Dia dos Pais não foi o bastante para impulsionar as vendas no mês, repercutindo diretamente na demanda de trabalhadores no setor.

No ano o Comércio acumula a perda de 224 mil postos de trabalho, figurando o segundo pior resultado do ano, perdendo apenas para a Indústria de Transformação. O resultado indica a contração de 2,38% do emprego no setor.

A justificativa para o péssimo resultado do mercado de trabalho se resume pela diminuição da renda disponível das famílias brasileiras e a elevada taxa de juros, o que afeta o consumo.

Sob outra perspectiva, o setor de Serviços verificou saldo positivo com a criação de quase 5 mil postos de trabalho.

Inflação

Poupança

O Banco Central do Brasil registrou no último mês a retirada de R$ 163,47 bilhões da poupança, o que proporcionou uma captação líquida negativa de R$ 5,29 bilhões. Somente neste ano o ativo acumula saldo negativo de R$ 53,79 bilhões.

Fatores como o aumento da taxa Selic, o avanço da inflação, a menor disponilidade financeira do trabalhador para a formação de poupança e o desemprego contribuem para o aumento nos saques da poupança. Pela nova regra aplicada ao investimento, que é de 0,5% a.m. mais a T.R., a poupança se tornou pouco atrativa para os investidores, visto que outros investimentos proporcionam retornos superiores a da poupança.

O patrimômio total da poupança caiu de R$ 645,11 bilhões em agosto para R$ 644,04 bilhões no mês de setembro. A queda dos rescursos disponíveis no investimento penalizam os programas de crédito habitacional, pois é a principal fonte de recursos do Sistema Financeiro de Habitação.

Cesta Básica

O valor médio da cesta básica diminui em 13 das 18 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatísiticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no mês de setembro. As maiores quedas podem ser observadas em Belém (-4,56%), Fortaleza (-3,88%) e Recife (-3,50%). Se nessas capitais os itens da cesta básica sofreram retração, em Florianópolis subiu 2,77% seguido por Vitória (0,99%) e Rio de Janeiro (0,74%).

A cesta básica mais cara para o trabalhador foi encontrada em Porto Alegre (R$ 385,70) e a mais barata em Aracaju (R$ 280,26). De acordo com o instituto de pesquisa, para que o trabalhador e sua família possam custear todas as despesas básicas estabelecidas na Constituição Federal com moradia, alimentação, transporte, educação e outras, o salário mínimo deveria estar em R$ 3.240,27, ou 4,11 vezes o salário mínimo vigente (R$ 788).

Os itens da cesta que ficaram mais caros foram: pão francês, café em pó, manteiga, carne bovina e batata. A alta registrada no pão francês é explicada pela desvalorização do real em relação ao dólar, o que encareceu a importação do trigo. O café teve variação positiva no preço em razão da diminuição da sua oferta, também motivado pela desvalorização do câmbio, pois estimulou as exportações do grão. Outros fatores como as chuvas no mês de julho e o menor desenvolvimento do grão contribuíram para a elevação do preço do café.

Assumindo direção oposta, o tomate, óleo de soja e a mandioca demonstraram redução nos preços pesquisados na maioria das regiões metropolitanas avaliadas.
De acordo com os dados coletados pela Food and Agriculture Organization (FAO) da ONU, o índice de preço dos alimentos no mundo conferiu alta em setembro frente a agosto. O índice registrava quedas desde março do ano passado. A alta foi motivada pela subida nos preços do leite e seus derivados e do açúcar.

Endividamento Familiar

O nível de brasileiros endividados apontou variação positiva no mês de setembro segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No mês anterior, o percentual de famílias endividadas estava em 62,7%. Já em setembro 63,5% das famílias consultadas pela pesquisa declarou possuir dívidas com cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro, ou seja, avanço de 0,8 p.p. em apenas um mês. Outro indicador que merece preocupação é o de famílias com dívidas ou contas em atraso. No mesmo período de 2014, a relação era de 19,2% e agora o percentual subiu para 23,1%.

E o aperto nas contas do lar é refletido na dificuldade de pagar as contas no final do mês e muitas famílias já estão deixando de honrar com algumas despesas. Quando em setembro do ano passado 5,9% das famílias entrevistadas na época declararam não possuir condições financeiras de pagar suas dívidas, a situação se agrava agora e sobe para 8,6%. A alta foi influenciada principalmente pelas famílias de baixa renda. Na faixa de renda até 10 salários mínimos o percentual apresentou elevação de 10%, em agosto, para 10,2% em setembro. No entanto a situação das famílias com renda superior a 10 salários mínimos é favorável, se mantendo estável ao observado no ano passado, em 2,7%.

O período das dívidas e contas em atraso também aumentou. Antes o tempo médio de atraso era de 58,4 dias e agora é de 61,2 dias. As dívidas com cartão de crédito aparecem em primeiro lugar no endividamento das famílias, seguida pelas dívidas com carnês e financiamento de carro.

A diminuição da renda real média dos trabalhadores e o encarecimento do crédito favoreceram o aperto no orçamento familiar. Caso o desempenho da atividade econômica do país não sofra uma forte mudança nos próximos meses, é provável que esta situação de endividamento das famílias permaneça.

Selic

As perspectivas do mercado se confirmaram na reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) que aconteceu nos dias 20 e 21 deste mês. O COPOM decidiu manter por unanimidade a taxa Selic em 14,25% a.a. A decisão não surpreendeu o mercado já que o Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, havia confirmado na semana passada em um evento do Fundo Monetário Internacional realizado no Peru a intenção de segurar a taxa básica de juros. Na ocasião Tombini afirmou que “o BCB entende que manter o nível atual da política de taxa de juros, por um período prolongado, é necessário para convergir a inflação para a meta até o final de 2016”.
No comunicado divulgado pelo Banco Central, a meta de convergir a inflação para 4,5% até o fim de 2016 foi abandonada e passou aceitar esta possibilidade somente para o final de 2017. O comportamento adotado pela autoridade monetária sugere que os juros devem se manter neste patamar por “período suficientemente prolongado”.
A atual política monetária adotada pelo Banco Central visa controlar o avanço da inflação por meio da inibição do consumo. Por outro lado, juros altos não estimulam a atividade econômica, o que compromete a geração de emprego.

A última reunião do ano está marcada para os dias 24 e 25 de novembro.

Dívida Pública

O Governo Federal está encabeçando medidas para conter o endividamento público, apesar dos esforços, não foram suficientes para limitar o avanço da dívida. Em agosto a Dívida Pública Federal (interna e externa) registrou elevação de 3,16%. O estoque da dívida alcançou a quantia de R$ 2,68 trilhões, sendo a maior parte pertencente à Dívida Pública Mobiliária Interna (95% do total da dívida).

No mês as emissões corresponderam a R$ 66,11 bilhões e os resgastes atingiram o valor de R$ 20,67 bilhões, resultando nas emissões líquidas (emissões – resgastes) de R$ 45,44 bilhões.

No final do ano passado a Dívida Pública Federal estava avaliada em R$ 2,29 trilhões, o que confere aumento de 13,28% só neste ano. A elevação de títulos da dívida interna e a desvalorização do real frente ao dólar contribuíram para essa situação. Isso indica que o Governo não está se esforçando suficientemente para reverter este quadro.
Os maiores detentores da dívida brasileira são as instituições financeiras (25,48%) seguidas pelos fundos de investimentos (20,53%) e pela Previdência (20,11%).

Indicadores de Mercado

Brasília, 23 de outubro de 2015.

Renan Bonilha Klein
Analista Econômico