‘Bancos chineses têm que se internacionalizar’

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17/07/2013

Lausanne, Suíça – Especialista em regulação financeira e governança corporativa, Arturo Bris, professor do IMD, escolas de negócio da Europa, afirma que o maior perigo às finanças globais hoje está no mercado chinês. “O risco de colapso do tipo Enron ou Lehman Brothers, nos próximos anos, vem da China”, diz Bris, referindo-se à fraude contábil descoberta após o estouro da bolha tecnológica, em 2000, e ao estopim da crise mundial de 2008. Segundo ele, os bancos chineses cresceram rapidamente, sem a regulação adequada. O financiamento nas sombras (crédito informal, feito à margem do setor bancário oficial) é usado por pessoas comuns e uma ruptura, alerta Bris, teria enorme impacto social.

A China tem discutido uma reforma financeira. Teria alguma recomendação?

Atualmente, o capitalismo puro e a democracia pura não podem conviver. Se você quiser ter um “capitalismo perfeito” tem que abrir mão da democracia. E se preservar uma “democracia perfeita” tem que abrir mão de um pouco de capitalismo. Na China, a regulação que atraia capitais e fortaleça o setor financeiro pode ser construída da noite para o dia, de cima para baixo. Mas é necessário alertar que a China precisa criar instituições que protejam o sistema financeiro. É preciso ter transparência, regras, respeito aos contratos, regulação para vazamento de informações.

 E como lidar com o financiamento nas sombras?

Os bancos chineses cresceram muito e muito rapidamente. Não é razoável que, entre os dez maiores bancos do mundo, três ou quatro sejam da China. Apesar de a economia chinesa ser grande, o setor financeiro não é tão grande, ainda. Quando há um crescimento maciço, há problemas, porque a regulação não avança no mesmo ritmo e não está preparada para o tamanho desses bancos. É perigoso. O risco de um colapso do tipo Enron ou Lehman Brothers, nos próximos anos, vem da China. A vantagem da China é que não é os EUA. O BC chinês não é o Fed. Pode tomar decisões drásticas de forma imediata. Temos discutido nos EUA e na Europa os riscos sistêmicos ou os bancos grandes demais para quebrar. Não é uma preocupação na China. Talvez tenhamos problemas com o financiamento nas sombras, mas se o BC chinês decidir que é preciso desmembrar bancos problemáticos em várias instituições menores, pode fazer isso.

Mas uma crise do tipo Enron ou Lehman Brother não teria forte impacto na economia mundial?

Sim, porque a economia chinesa é muito importante, qualquer choque tem impacto no resto do mundo. E o financiamento nas sombras tem fornecido crédito a pessoas comuns. O problema social que uma implosão ou ruptura no sistema financeiro provocaria seria gigantesco. Os volumes de créditos problemáticos são grandes para padrões internacionais. Haveria impacto em todo o mundo. A raiz dos problemas no sistema bancário é que há muito dinheiro e os bancos não encontram maneira saudável de emprestar.

 Qual seria a alternativa para os bancos chineses?

Os bancos chineses têm crescido muito no mercado doméstico. E uma das razões é que ele é fechado, protegido da competição externa. O setor bancário chinês precisa se internacionalizar. Na indústria, as companhias têm feito grandes aquisições no exterior. Mas não vemos isso no setor bancário. Uma investida seria bem vista em instituições europeias. Muitos bancos europeus estão desesperados por capital.

 A jornalista viajou a convite do IMD

 Fonte: O Globo