Casino fica com Monoprix, mas venderá lojas

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11/07/2013

Jean-Charles Naouri, presidente e acionista majoritário do grupo francês Casino, tem motivos de sobra para comemorar. Apenas um ano após ter assumido o controle do Pão de Açúcar, maior companhia de varejo do Brasil, o Casino obteve ontem o aval das autoridades de concorrência da França para deter 100% do capital do Monoprix, rede sofisticada de supermercados de bairro, com faturamento de € 4,2 bilhões, e elemento-chave na estratégia do grupo de reforçar suas atividades nesse segmento de lojas “de proximidade” no mercado francês.

Em junho do ano passado, na mesma época em que assumiu o controle do Pão de Açúcar, o Casino, que até então detinha 50% do capital do Monoprix, havia conseguido fechar um acordo para comprar, por € 1,2 bilhão, a fatia restante de 50% que pertencia ao grupo Galeries Lafayette. A quantia foi acertada após inúmeras discussões acaloradas com a família proprietária da famosa loja de departamentos da capital francesa, que chegaram a resultar em ações no tribunal de comércio de Paris.

Naouri pode agora respirar aliviado após o sinal verde dado pela Autoridade de Concorrência (equivalente ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica brasileiro) para o controle de 100% do Monoprix. Mas a decisão favorável tem contrapartidas: o Casino, quarto maior grupo de varejo francês, deverá ceder 58 lojas no país, sendo 55 em Paris e 3 em outros locais (uma em Saint-Tropez e duas outras na ilha da Córsega). A decisão também prevê que o Casino não poderá, durante dez anos, adquirir – direta ou indiretamente – os ativos cedidos.

As autoridades francesas consideram que a soma de cerca de uma centena de lojas Monoprix e Monop’ (de conveniência) em Paris ao total de quase 400 outras lojas do Casino na capital (com as bandeiras Franprix, Leader Price, supermercados Casino ou Petit Casino) permitiria ao grupo captar fatias de mercado superiores a 50% em 47 áreas da cidade.

O Casino informou, em um comunicado, que a cessão das 58 lojas – nenhuma com a bandeira Monoprix – representa uma área de vendas de 21 mil m² e menos de 1% do faturamento na França do grupo (€ 18,5 bilhões em 2012). Os supermercados vendidos serão de pequeno porte, disse uma fonte do Casino ao Valor, e principalmente das redes Franprix e Monop’.

“É uma bela operação para o Casino. Estamos muito contentes”, afirmou a fonte do grupo. Também pudera: o Monoprix é considerado “uma pepita de ouro” no setor supermercadista francês. É o único a vender roupas e acessórios em Paris e atrai, em geral, uma clientela de maior poder aquisitivo. Sua margem operacional é de 6,1%, bem superior à dos demais supermercados do grupo, de 3,7% e também à da concorrência.

O total de lojas que serão vendidas foi acertado após negociações com o xerife francês da concorrência, iniciadas em janeiro. A autoridade havia estimado no início do ano que o Casino teria uma fatia de mercado de quase 62% em termos de área de vendas em Paris, mais do que o triplo de seu rival Carrefour, e solicitou, em março, uma análise mais detalhada da operação de compra do Monoprix. O grupo de Naouri contestou os números, afirmando que outros tipos de lojas não haviam sido levadas em conta no cálculo global do mercado de produtos alimentares em Paris.

Com a compra do Monoprix aprovada, o grupo Casino passa a ter 9,4 mil lojas na França, sendo mais de 500 em Paris. “Em apenas um ano, conseguimos realizar dois grandes projetos. Ter o controle do Pão de Açúcar e do Monoprix”, diz a fonte do grupo. Por outro lado, a venda dos supermercados em Paris poderá permitir a outras grandes redes, como Leclerc, Système U e Intermarché entrar no mercado parisiense.

 Fonte: Valor Econômico