Um 2014 inesquecível

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01/08/2013

Toda sociedade, países ou regiões do globo passam por ciclos de desenvolvimento e estagnação, eras de prosperidade e crises sistêmicas, apogeu e decadência. O Brasil, neste momento específico de sua história recente, está vivendo o fim de um período determinado, principalmente na seara da ação política-governamental.

É interessante notar que nas eleições presidenciais de 1989, no fervor destas que se constituíam nas primeiras eleições diretas para presidente da República pós-regime militar, o discurso dos muitos candidatos e partidos era de mudança.

E as mudanças definitivamente ocorreram nos últimos vinte e quatro anos no país.

Planos de governos desses candidatos parecem muito próximos em um prisma histórico-ideológico

A retomada definitiva do estado democrático de direito; a convivência diuturna da sociedade brasileira com uma Constituição Federal que defende, definitivamente, o cidadão; o fim da carestia e a volta do planejamento das famílias e dos agentes econômicos, com o Plano Real; a organização de políticas de redistribuição de renda e riqueza; a impressionante mobilidade social, principalmente daqueles mais necessitados; entre outros, se constituíram em movimentos e processos republicanos, estabelecidos em parceria com a sociedade brasileira a partir de disputas eleitorais transparentes, competitivas e cada vez mais inclusivas.

Se o país vive um fim de um período, momento estratégico de reflexão e participação sobre o futuro da ação política no Brasil, a sociedade brasileira tem novamente a oportunidade de participar diretamente deste processo com as eleições de 2014, eleições que podem se configurar como definitivas para um novo desenho da representação política e democrática no Brasil.

E estas próximas eleições não serão triviais. Vejamos.

Um dos cenários prováveis para a eleição presidencial de 2014 é a ocorrência de um primeiro turno com muitos candidatos.

Além da tentativa de reeleição da presidente Dilma, pelo PT, teríamos, com alguma possibilidade, a candidatura de Aécio Neves, pelo PSDB; de Eduardo Campos, pelo PSB; de Marina Silva, pelo REDE, e de José Serra, pelo PPS ou PSD.

Isto seguindo uma gradação de ‘muito provável’ para ‘menos provável’, sendo que a candidatura de Eduardo Campos recebe ‘fogo amigo’ de parte do PSB ligado a Dilma; a aposta em Marina Silva depende de mudanças nas regras eleitorais e a opção por Serra seria muito forte, principalmente por desestruturar o PSDB ‘por dentro’.

Todavia, se consolidadas e apresentadas, estas cinco principais candidaturas fariam do pleito presidencial de 2014 um momento ímpar na historiografia política brasileira. Seriam cinco líderes de muito peso eleitoral, representantes de uma nova safra de políticos com um currículo de peso para o exercício da Presidência da República.

Além disso: seriam cinco candidatos com uma agenda de centro-esquerda. Todos eles líderes que combateram o regime militar quase dentro das mesmas trincheiras.

Agora como adversários, e não inimigos, teríamos um debate de alto nível, mostrando as vicissitudes e as contradições dos respectivos planos de governos que parecem muito próximos em um prisma histórico-ideológico.

Por exemplo: qual o nível ótimo de interferência do Estado na vida nacional? Qual modelo de sociedade civil dever-se-ia construir por estas bandas? Como combater desigualdades a partir da necessidade imperiosa de desregulamentar mercados? Qual é o melhor modelo para uma inserção internacional do País? Entre muitas outras questões de proa que fariam dos debates com esses partidos e candidatos quase uma aula diária de ciência política.

Outra característica interessante deste cenário: além da candidata à reeleição, Dilma Rousseff, cada um dos potenciais candidatos representam uma região específica no quadro eleitoral brasileiro.

O peso de Aécio Neves no tradicional e influente colégio eleitoral das Minas Gerais; o valor simbólico de Marina Silva como representante da grande Amazônia brasileira; a candidatura de Eduardo Campos, percebido como um novo político do Nordeste e com perfil vitorioso; e a opção por José Serra, este como um candidato bem preparado e um ex-administrador da principal cidade e do Estado mais rico da Federação, acabam dando uma conformação mesmo geoestratégica a este potencial desenho de primeiro turno em 2014.

E não nos esqueçamos de que a presidente Dilma Rousseff desenvolveu sua carreira política no Rio Grande do Sul, outro centro irradiador de simbolismos e posturas políticas muito particulares na história da República brasileira.

Este cenário também projeta uma gama de indefinições sobre o futuro da macropolítica brasileira, sendo que um primeiro turno com muitas opções é, basicamente, um contexto de alianças potencialmente mais fluídas, de resultados não esperados e de possibilidades múltiplas.

Um momento, talvez, para se perceber os limites dos desenhos das alianças possíveis e se saber daquelas que não se enquadram nas necessidades de um presidencialismo como o brasileiro, um ‘presidencialismo de coalizão’ muito engessado e que precisa se adequar às novas demandas da sociedade brasileira com relação ao ritmo de implantação de boas políticas públicas e a correta gestão dos recursos do Estado.

Ainda sobre isso: o primeiro turno das eleições de 2014 – sobreposto às eleições dos outros cargos proporcionais e majoritários -, se constituiria em um novo ambiente de discussão política, com maior participação dos eleitores, vide o processo alvissareiro, em seu conjunto, das recentes manifestações no país, outra novidade da seara da política que fortalece o essencial laço entre representantes e representados.

Ainda mais. Vislumbrar-se-ia também um segundo turno inesquecível. Esse número de candidatos no primeiro turno, seu peso eleitoral específico, sua representatividade regional e o clamor da opinião pública por mudanças estruturais, aponta para uma grande possibilidade de segundo turno em 2014.

Muito bom para a alternância e competição na política e fundamental para a consolidação de uma democracia moderna no Brasil.

José Niemeyer é cientista político e professor do Ibmec.

Fonte: Valor Econômico