Década com mais subemprego

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03/10/2013

Mesmo que para a maioria dos economistas o cenário no mercado de trabalho brasileiro seja de pleno emprego, um contingente expressivo, de 3,27 milhões de pessoas, ainda permanece com remuneração mensal inferior a um salário mínimo, de R$ 678,00. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) relativa ao mês de agosto, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que 1,9% de toda população ocupada recebe por hora trabalhada valor inferior ao estipulado como obrigatório para o setor privado formal, de R$ 4,25 por hora.

A pesquisa realizada em seis regiões metropolitanas – São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador – demonstra que o número de subempregados em agosto de 2013 avançou em comparação àquele registrado há dez anos, quando 2,5 milhões de brasileiros viviam sob essa condição. Mas o Coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, relativiza a interpretação dos dados como sendo negativos.

Segundo ele, a estatística tem que ser analisada com cuidado, pois, na última década, o mercado de trabalho sofreu alterações, principalmente, por causa dos consecutivos reajustes do salário mínimo ao longo do período. À medida que os reajustes do mínimo ocorriam, a remuneração de um número maior de pessoas não acompanhava as transformações e, por isso, o número subremunerados aumentava.

“Quem olha para os índices de 2003 pode ter a falsa impressão de que as condições eram melhores, mas não se pode afirmar isso em função dos vários reajustes salariais nesse intervalo de tempo”, afirma Azeredo.

Ele destaca que indicadores da PME, como a taxa de ocupação, crescente ao longo da década são mais importantes para avaliar o comportamento do mercado de trabalho do que a estatística relativa ao contingente de subempregados. “Também não podemos esquecer que o tamanho da população aumentou muito e isso faz toda diferença”, ressalta.

De2003 a 2013, a população brasileira aumentou em cerca de 25 milhões de pessoas, enquanto a população ocupada saltou de 18,5 milhões em agosto de 2003 para 23,2 milhões em igual mês deste ano – o que significa a incorporação de 4,7 milhões ao mercado de trabalho.

Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Gabriel Ulyssea, a maioria dos subempregados presentes no mercado atualmente não tem carteira assinada, ou seja, atua na informalidade, trabalha por conta própria e tem baixa qualificação.Os setores que mais empregam essa fatia de trabalhadores são os de comércio e serviços, justamente os que mais responderam pelo crescimento da economia nos últimos anos.

Os números do IBGE também demonstram que quase um milhão de pessoas que vivem com menos de um salário atuam na região Nordeste do país. “Historicamente, o mercado de trabalho na região é mais informal, ficando à margem da legislação trabalhista”, comenta Ulyssea.

Pelos dados de agosto, a região metropolitana de São Paulo, no entanto, é a que possui o maior número de pessoas com remuneração inferior ao mínimo, porque é também a área que mais ocupa em todo o país. Ao todo, são 947 mil trabalhadores nessa condição.

Em seguida a São Paulo, são relevantes os números do Rio de Janeiro, com 852 mil subempregados, e Salvador (BA), com 519 mil.

Maioria dos subempregados no mercado atualmente não tem carteira assinada, ou seja, atua na informalidade, trabalha por conta própria e tem baixa qualificação

SUBREMUNERADOS

3,2 milhões
de trabalhadores recebem menos do que um salário mínimo por mês, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME).

4,7 milhões
Foram incorporados ao mercado de trabalho na última década. O crescimento da população ocupada ajuda a explicar o aumento da informalidade e crescimento do subemprego.

Fonte: Brasil Econômico