Eleições 2014: Partidos em busca de mulheres

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20/01/2014

Procuram-se mulheres. Não precisam ser bonitas, mas é imprescindível que tenham espírito de liderança. Se tiverem o dom da oratória, melhor. O mais importante é que se façam ouvir. Casadas, solteiras, divorciadas, brancas, negras, não importa. Ricas, remediadas ou pobres. Letradas pelos livros ou pela vida. Não foi feito anúncio, só que, ao longo do ano passado, a busca se deu em templos religiosos, nas associações de moradores, nas ruas empoeiradas das comunidades carentes e nos protestos que sacudiram Brasília e o país em 2013.

Olheiros de todos partidos se lançaram à procura de potenciais candidatas a um cargo público nas eleições. A missão: engrossar o quadro de filiadas e, principalmente, convencê-las a disputar um pleito. Por lei, cada legenda deve fechar a lista com, no mínimo, 30% de mulheres. Uma exigência que, segundo especialistas, é atendida de forma protocolar em várias siglas partidárias. Por idealismo ou somente para fazer o que manda a lei, o sucesso da empreitada será medido pelas urnas, em outubro.

Até lá, as potenciais deputadas, senadoras e presidente enfrentam o desafio de destrinchar os enredos da política. E o beabá de uma campanha vitoriosa tem muitos meandros. Um projeto sólido, dinheiro para financiar o corpo a corpo com os eleitores e carisma para cair nas graças do povo. Nos bastidores, a busca dos partidos por mulheres animadas a disputar uma eleição começou há mais de um ano. E, mesmo as siglas com militância feminina, relatam dificuldades de encontrar quem queira largar tudo e mergulhar em uma campanha. Os motivos são os mais variados. Desde a descrença com a política, passando por questões familiares e de ordem financeira.

Entre as estratégias dos dirigentes, está a criação de núcleos voltados para a mulher, como fizeram o PMDB, o PSL, o PT, entre outros. No caso do PTC, o braço feminino do partido se desmembra em unidades regionais, como o PTC Mulher, de São Sebastião. Cada uma dessas unidades foca as ações em questões relacionadas ao universo feminino e leva a discussão a todo o Distrito Federal.

Após quatro convites para ingressar na vida política, a servidora federal aposentada Fátima Mosquera aceitou sair como pré-candidata a uma vaga à Câmara Legislativa. Filiada a partido político há 14 anos, o último deles no PMDB Mulher do DF, ela acha que chegou a hora de ir para a linha de frente. “Naquela época, eu queria trabalhar com políticos. Eu rodava o país à frente de lideranças femininas do partido. Agora, estou em uma outra fase da vida”, conta.

A presidente do PMDB Mulher do DF, Ericka Filippelli, conta que o núcleo feminino é resultado de um trabalho desenvolvido desde 2011. “Resgatamos lideranças e conquistamos nomes. Conseguimos preencher o quadro com um grupo de muita qualidade”, alega. Sobre as resistências, Ericka cita que a mulher ainda tem dificuldade de se ver como uma representante do povo. “O período eleitoral é muito puxado. Elas têm filhos, trabalho e casa. Isso pesa. Política é uma atividade que não tem hora nem local. Mas tentamos mostrar que é preciso ter representante feminina na Câmara (Legislativa) se quisermos mudanças”, finaliza.

Corrente O PSL Mulher aposta na tendência de que o eleitor quer renovação nos quadros. Criado no fim de 2012, o braço feminino da legenda é comandando por Joacinara Jansen. Ela adotou uma espécie de corrente para atrair mulheres a reuniões: cada convidada tinha de levar cinco amigas ao próximo encontro. “Mostrei a importância de participarem do processo decisório. Elas desenvolvem um trabalho político. Só não se colocam como candidatas porque, primeiro, acham que é caro, e isso é uma concepção equivocada”, explica Joacinara.

O presidente regional do PSL/DF, Newton Lins, garante ter cumprido a cota dos 30% e planeja para maio uma pré-convenção a fim de medir o potencial. Ele reconhece a dificuldade para cumprir a meta legal e atribui a resistência feminina a fatores históricos. “A mulher ficou fora do processo eleitoral por muito tempo e ainda não compreende o funcionamento dos partidos. Também tem mais dificuldade para obter financiamento de campanha”, elenca Newton.

A pastora evangélica Maria Ferreira Bezerra Dias Silva, 50 anos, a Socorrinha Dias, recebeu com receio o convite para se candidatar pelo PSL. “Como toda a população, estou saturada, nem tenho muita paciência para ouvir falar de política por conta da roubalheira. Mas pensei bem e decidi enfrentar. Ainda estou procurando me informar sobre como funciona uma campanha”, reconhece.

O que diz a lei

A Lei nº 12.034/2009 obriga o partido político a reservar 30% das vagas e, no máximo, 70% para candidaturas de cada sexo. Na Câmara Legislativa, há 24 cadeiras. Cada partido pode lançar até 36 concorrentes, sendo 11 mulheres. No caso das coligações, independentemente do número de siglas, poderão ser registrados candidatos até o dobro do número de lugares a preencher. Ou seja, 48, sendo que 14 mulheres.

 Fonte: Correio Braziliense