Sem qualificação, trabalhadores não conseguem novos empregos

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19/08/2013

A alternativa para empregar quem deixa o corte de cana é a requalificação, e a Prefeitura de Guariba tenta ainda atrair empresas de outras áreas para diversificar a oferta de vagas. O principal entrave é a baixa escolaridade dos cortadores, que não conseguem acompanhar os cursos, nem atender às exigências dos novos empregadores ou das usinas, que agora precisam de operadores de máquinas.

Todos os dias, às 5h, dez ônibus partem com 600 moradoras de Guariba que trabalham em Ribeirão Preto, a 60 quilômetros. A maioria é doméstica, como Benedita Mares Gomes, de 42 anos, mãe de quatro filhos. Ao lado do marido, ela deixou Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha (MG), para tentar a sorte na região no início dos anos 90.

— Não tem mais corte. Se tivesse serviço, eu voltaria — diz Benedita, que ainda não teve a carteira de trabalho assinada na casa onde trabalha há três anos.

Quem consegue estudar vira o jogo. Solange Borges Machado, 42 anos, nascida em Guariba, começou a cortar cana com 12. Casou aos 14. O marido foi cortador por 22 anos. Solange , que não tinha estudo, fez o EJA (Educação de Jovens e Adultos) e tirou carteira de motorista. Há poucos meses, dirige um dos ônibus que seguem para Ribeirão Preto.

— Naquela época não tinha isso de menor não trabalhar. Não tinha ônibus para levar para a lavoura. Era caminhão. A gente levava marmita e água de casa. Se acabasse, não tinha.

Os migrantes não veem perspectivas. Jovenildo Lima de Souza, de 20 anos, veio do Maranhão pelo segundo ano consecutivo. Em sua cidade natal, Timbiras, ganhava R$ 300 por mês. No canavial, ganha R$ 1.500. Mas, e quando o corte de cana acabar?

— Não sei — diz o rapaz, que só foi à escola por dois anos.

Paulo César Azevedo, de 27 anos, pai de dois filhos, chegou do Maranhão no fim de 2010. Trouxe mulher e dois filhos. Acanha-se quando fala de estudo:

— Na leitura é muito pouco. Nem lembro quanto estudei.

Além de ver minguar o trabalho nos canaviais, Guariba sofre com a concentração das usinas. As menores estão sendo vendidas a grupos maiores. No fim do ano passado, 400 empregos ocupados por moradores de Guariba desapareceram de uma só vez com o fechamento da Usina São Carlos, em Jaboticabal, vendida ao Grupo São Martinho.

Fonte: O Globo