Taxa alternativa eleva total de desempregados

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09/09/2013

Quase um milhão e meio de desempregados no Brasil está fora do radar das estatísticas oficiais – eles são principalmente aqueles que respondem aos pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que não estão procurando emprego, mas estão disponíveis e gostariam de trabalhar. Como não procuram, não são considerados parte da População Economicamente Ativa (PEA).

Um estudo apresentado no último boletim regional do Banco Central trouxe medidas “alternativas” de desocupação, que incorporavam parte desse contingente ao total de desempregados. Pelos cálculos do BC, a taxa de desemprego poderia ser quase três pontos percentuais superior àquela calculada pelo IBGE, o que poderia trazer um alívio na pressão que o mercado de trabalho exerce sobre a economia, especialmente sobre os salários.

Alguns especialistas avaliam que o volume de pessoas em desemprego oculto, como se diz, é grande demais para ser desprezado – afinal, eles representam um grupo de tamanho semelhante ao dos desempregados “assumidos”. Outros relativizam seu impacto na atividade por conta da baixa qualificação do grupo e afirmam que seriam necessárias políticas públicas de longo prazo para que essas pessoas que, em uma definição grosseira, desistiram de procurar emprego, tivessem chance de se inserir ou voltar ao mercado.

Os cálculos alternativos do BC levam em conta parcelas da população que não são contabilizadas entre os desocupados na Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do IBGE. Os “desalentados”, que não procuraram emprego até um mês antes da semana da pesquisa, e os “marginalmente ligados à população economicamente ativa” fazem parte, de acordo com a divisão do IBGE, da População Não Economicamente Ativa (PNEA).

Levando em consideração os dois grupos, a taxa de desocupação no mês de maio, segundo o banco, teria sido de 8%, 2,6 pontos percentuais a mais do que registrou a PME no período. Dados do próprio IBGE mostram que, dentro da PNEA, nesse mesmo mês, 1,5 milhão de pessoas declararam que gostariam de trabalhar e estavam disponíveis para aceitar uma vaga no mercado de trabalho. Pela metologia – que segue normas internacionais -, como essas pessoas não estavam, efetivamente, procurando emprego, elas não foram incorporadas à lista de desempregados do país.

Nem os economistas, nem o trabalho do Banco Central sugerem que o IBGE está subavaliando o desemprego. Ele ressalvam, inclusive, que o instituto segue metodologias internacionais. A questão é a influência desse contingente sobre o mercado de trabalho.

Para Gabriel Ulyssea, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), esse contingente seria mais facilmente absorvido há cerca de um ano, quando o mercado de trabalho estava mais aquecido. Caso ingressasse agora na População Economicamente Ativa (PEA), ou seja, se saísse do estado de desalento e passasse a procurar emprego de forma sistemática, o grupo surtiria efeito diferente na atividade. “Haveria aumento do desemprego em um primeiro momento e, posteriormente, redução dos salários. No estado em que a economia se encontra agora, não é certo que todos conseguiriam se posicionar no mercado”, diz ele.

Ainda assim, o economista acredita que há espaço para ampliar no Brasil a taxa de participação – a proporção de pessoas em idade ativa que está de fato ocupada ou à procura de emprego. Para ele, seria possível elevar em até quatro pontos percentuais a relação, que chegou a 57,2% em julho, de acordo com os últimos dados da pesquisa do IBGE.

Para Lúcia Garcia, coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (PED-Dieese), a parcela de brasileiros em desalento ou marginalmente ligados à PEA tem um “volume razoável” e por isso ñão pode ser desprezada. A pesquisa de emprego da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e do Dieese, que observa esses grupos através do cálculo do desemprego oculto, mostrou que eles responderam por 2,3 pontos percentuais da taxa total de desemprego apurado pela instituição em julho, de 10,9% para op conjunto das regiões pesquisadas.

“Houve uma recuperação expressiva do mercado de trabalho entre 2004 e 2010, mas percebemos que o desemprego aberto reduziu em velocidade maior que o oculto”, conta Lucia.

O Dieese desagregou, a pedido do Valor, os dados do desemprego oculto no conjunto das seis regiões analisadas pela pesquisa. Os números mostram que, do total, 33,9% são chefes de família e 36,9% são filhos; 64,4% têm entre 18 e 39 anos e 26,2% têm mais de 40 anos. Ainda, 28,1% não terminaram o ensino fundamental, 26,5% têm ensino médio incompleto e 39% têm ensino médio completo ou ensino superior.

Fonte: Valor Econômico