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Anuário Legislativo – 17 de janeiro de 2017

Anuário Legislativo

Este Informe sintetiza os acontecimentos no legislativo de 2016

Diretor: José Francisco Jesus Pantoja Pereira
Gerente de Relações Institucionais: Sheila Tussi da Cunha Barbosa
Analistas de Relações Institucionais: Letícia Goedert, Renan Klein e
Victor Zaiden
Assistente Administrativa: Quênia Adriana Camargo

Anuário Legislativo – 2016 

Assessoria de Relações Institucionais

 

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Apresentação


A Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio – CNTC, apresenta o Anuário Legislativo – 2016, contendo dados relativos às atividades da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, incluindo as normas jurídicas geradas no ano e os principais fatores que compuseram o cenário político ao longo dos trabalhos.

O longo 2016 foi o ano em que tivemos troca no comando do país e, com isso, a reorganização das forças políticas em torno de Michel Temer. Dilma Rousseff deixou a Presidência da República em 12 de maio, sendo confirmado seu impedimento em 31 de agosto. O Partido dos Trabalhadores (PT) deixou o Palácio do Planalto após 13 anos no poder e um dramático processo de impeachment que se arrastou por nove meses e interferiu diretamente na condução das políticas de recuperação da economia.

Os brasileiros que assistiram ao desenrolar da crise política conviveram de perto com a crise na economia. O desemprego chegou a 11,8% no trimestre encerrado em outubro, segundo dados pelo IBGE, por meio da pesquisa Pnad Contínua. Estima-se que no país ao menos 12 milhões de pessoas encontram-se desocupadas. A ociosidade de mão-de-obra e o reduzido poder de compra eleva a insatisfação dos trabalhadores, muitos com dívidas contraídas em período de bonança na economia. Michel Temer sabe que o fortalecimento econômico do país é sua missão como Presidente da República, e também o que garante seu respaldo no cargo que ocupa. Infelizmente, a opção tomada por Temer e sua equipe foi mandar a conta para o lado mais fraco da relação de trabalho, que é o trabalhador.

A reforma trabalhista e a reforma da previdência – ambas encaminhadas pelo governo Temer em 2016 – são assuntos que dão legitimidade aos parlamentares da bancada patronal a levarem adiante também toda sorte de matérias prejudicam os empregados e a representação sindical. Exemplo disso, foi a tentativa de extinção da contribuição sindical compulsória, por meio do Projeto de Lei do Senado (PLS) 385/2016; a terceirização da atividade-fim, contratos de trabalho temporário (PL 4302/1998) e a permissão do contrato de trabalho intermitente (PLS 218/2016).

Felizmente, nenhum desses projetos chegou a ser deliberado de fato no Congresso ao final de 2016. Por outro lado, foi intenso o acompanhamento e a articulação da diretoria da CNTC no sentido de impedir votações tão impactantes na vida do trabalhador comum.

O anuário, além de reunir dados quantitativos sobre a produção legislativa do ano, busca apresentar uma análise da intensa mobilização política que permeou os trabalhos ao longo de 2016.

Boa leitura!

Matérias transformadas em normas jurídicas


O conturbado ano de 2016 foi marcado por três variáveis complexas, que têm em comum a capacidade de impacto na vida pessoal de cada cidadão brasileiro. De um lado temos uma crise política sem precedentes, envolvendo um longo processo de impeachment, em paralelo ao macarrônico processo contra o agora ex-deputado Eduardo Cunha, que, após idas e vindas no Conselho de Ética da Câmara, teve seu mandato caçado por esmagadora maioria. A tríade da situação brasileira é completada pela grave crise econômica, com expansão do desemprego e da inflação, junto ao endividamento das famílias e perda da massa salarial. Por fim e não menos importante, a Operação Lava-Jato foi um fator determinante no humor de políticos e investidores. A atuação de procuradores e do juiz Sérgio Moro mostrou que a operação está comprometida em desvendar irregularidades que vão de PT a PSDB.

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A seguir, serão listados os dados que reúnem os resultados dos trabalhos legislativos de 2016. Parte-se da análise dos quatro principais tipos de matérias legislativas deliberadas pela Câmara e pelo Senado (projetos de lei ordinária – PL; medidas provisórias – MP, projetos de lei complementar – PLP; e propostas de emenda à Constituição – PEC) desde a apresentação, deliberação até a fase de sanção ou veto.

Leis Ordinárias

Foram sancionadas 170 leis ordinárias fruto de projetos de lei e medidas provisórias, das quais se destacam por ser de interesse geral do cidadão, bem como relacionada à área temática social sobre trabalho e emprego:

  • Lei 13.271/16, que dispõe sobre a proibição de revista íntima de funcionárias nos locais de trabalho e trata da revista íntima em ambientes prisionais;
  • Lei 13.287/16, que altera a CLT para proibir o trabalho da gestante ou lactante em atividades, operações ou locais insalubres;
  • Lei 13.365/16, que faculta à Petrobras o direito de preferência para atuar como operador e possuir participação mínima de 30% nos consórcios formados para exploração de blocos licitados no regime de partilha de produção.

Leis Complementares

Foram sancionadas quatro leis complementares com destaque para a Lei Complementar 155/2016 que reorganizou e simplificou a metodologia de apuração do imposto devido por optantes pelo Simples Nacional.

Emendas à Constituição

Foram promulgadas cinco Emendas à Constituição em 2016, com especial destaque para a Emenda à Constituição 95, matéria polêmica que instituiu novo regime fiscal ao dispor sobre o congelamento dos gastos públicos por 20 anos. De acordo com a Emenda, a partir de 2018 as despesas federais só poderão aumentar de acordo com a inflação acumulada conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O regime valerá para os orçamentos fiscal e da seguridade social e para todos os órgãos e Poderes. A partir do décimo ano, o presidente da República poderá rever o critério uma vez a cada mandato presidencial.

Leis do ano

A autoria das 170 leis sancionadas em 2016 distribui-se da seguinte forma:

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Entre as quatro Leis Complementares criadas este ano, duas são de autoria da Câmara dos Deputados, uma do Senado Federal e uma é oriunda do Poder Executivo. Esta última se destaca por ter sido o polêmico projeto da renegociação das dívidas dos Estados (PLP 257/16), matéria enviada ainda no governo de Dilma Rousseff e que passou por idas e vindas na questão da prestação de contrapartidas dos Estados devedores. A Câmara dos Deputados, rendida ao lobby de funcionários públicos estaduais, retirou a maior parte das exigências impostas pelo Senado aos Estados. O Presidente Michel Temer vetou parcialmente a matéria, que está longe de ser um ponto final na situação de penúria das unidades da federação.

Poder Legislativo


O Poder Legislativo Federal, fundamental para a democracia brasileira é organizado em um sistema bicameral, exercido pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara dos Deputados, constituída de 513 representantes do povo, e pelo Senado Federal, integrado por 81 senadores, que representam as 27 unidades da Federação.

Ao Congresso Nacional compete representar o povo e os estados, mediar conflitos, fiscalizar a aplicação de recursos públicos e a formulação e aprovação das matérias de competência da União: projetos de caráter regulatório, que criam ou aumentam impostos, taxas e contribuições, e que ampliam ou restringem direitos sociais.

Propostas de Emenda à Constituição

A proposta de Emenda à Constituição (PEC), destinada a modificar a Constituição Federal, pode ser iniciada pelo Presidente da República, por um terço (171) dos deputados; um terço (27) dos senadores ou de mais de metade (14) das assembleias legislativas dos estados.

Para ser aprovada, a matéria necessita de três quintos dos votos (308) dos deputados e dos (49) dos senadores, em dois turnos de votações na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Após a aprovação nas duas Casas, a proposta é promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A PEC não demanda a sanção do chefe do Poder Executivo Federal.

Projetos de Lei Complementar

O projeto de lei complementar (PLP na Câmara dos Deputados e PLS – Complementar ou PLC – Complementar no Senado Federal), destinado a regulamentar norma prevista na Constituição Federal, cabe a qualquer membro ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos tribunais superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos na Constituição.

Sua aprovação depende da maioria absoluta dos votos (257) dos deputados e dos votos (41) senadores, sempre em Plenário. Após aprovada nas duas Casas, segue para sanção da Presidência da República no prazo de 15 dias úteis.

Projetos de Lei Ordinária

O projeto de lei ordinária (PL na Câmara dos Deputados e PLS ou PLC no Senado Federal), cabe a qualquer membro ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos tribunais superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos na Constituição.

Sua aprovação demanda maioria simples, desde que presente a maioria absoluta dos membros do colegiado, comissão ou Plenário. O projeto pode ser votado tanto de forma conclusiva nas comissões, quanto no Plenário. Após aprovação nas duas Casas segue para sanção da Presidência da República no prazo de 15 dias úteis.

Medidas Provisórias

            As medidas provisórias (MPs), com força de lei desde sua edição, são editadas em situações consideradas como de urgência e relevância e têm validade por 60 dias, prorrogável uma única vez por mais 60. Se não há deliberação da MP no prazo de 120 dias, a matéria perde eficácia. A partir do seu 45º dia de tramitação, a matéria passa a trancar a pauta de votações do Plenário da Casa em que estiver tramitando.

Câmara dos Deputados

Matérias apresentadas

Em 2016, foram apresentadas 2.830 proposições legislativas (nesse número não computando as matérias de natureza orçamentária). O número ficou em torno de 40% menor do que a quantidade de matérias apresentas em 2015 (4.705 proposições). O primeiro ano da legislatura é costumeiramente aquele em que mais projetos são apresentados. 2016 contou com o impeachment da Ex-presidente Dilma, e o longo processo de cassação de Eduardo Cunha, além da realização das Olimpíadas e eleições municipais, variáveis que desviaram o foco da produção legislativa.

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Matérias aprovadas

Acrescentando-se as proposições remanescentes dos anos anteriores tem-se o total de 20.568 matérias tramitando na Câmara, com 118 aprovadas pelo Plenário da Casa em 2016, e 191 conclusivamente nas Comissões.

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Todavia, vale ressaltar que toda matéria aprovada no Plenário ou nas comissões da Câmara dos Deputados deve ainda ser encaminhada ao Senado Federal para apreciação e somente após aprovação nas duas Casas segue para a sanção ou veto do Poder Executivo.

Propostas contrárias ao interesse da classe trabalhadora que foram pauta na Câmara dos Deputados em 2016


Os projetos listados abaixo chamaram a atenção da CNTC em 2016 e estiveram em pauta na Câmara dos Deputados. Em 2017 não será diferente, as mesmas matérias deverão ser objeto de acompanhamento estreito por parte do movimento sindical, o que exigirá também a expansão da rede de aliados em prol da classe trabalhadora. Diálogo e mobilização prometem ser as palavras de ordem do ano legislativo que se iniciará em fevereiro.

Reforma da previdência (PEC 287/2016)

A proposta: Encaminhada ao Congresso em dezembro, a matéria é tida como a grande prioridade do governo Temer, essencial para o “êxito” da Emenda Constitucional 95, que instituiu o teto nos gastos públicos. A PEC 287/2016 reforma a seguridade social para, entre outros assuntos, instituir a idade mínima de 65 anos para homens e mulheres, com o mínimo de 25 anos de contribuição. O valor da previdência é o resultado de 51% da média dos salários de contribuição somado 1% para cada ano de contribuição.

Situação: Aguarda criação de Comissão Especial (CESP) destinada a analisar o mérito da matéria, ocasião em que poderão ser apresentadas emendas subscritas por 1/3 dos deputados (171). Em seguida passará à análise do Plenário da Câmara em dois turnos de discussão e votação.

Jornada de trabalho de até dez horas diárias (PEC 300/2016)

A proposta: a PEC tem como primeiro subscritor o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG), que é próximo de Temer, e propõe jornada de trabalho de até 10 horas diárias, aviso prévio de 30 dias, prevalência das disposições previstas em convenções ou acordos coletivos e prazo prescricional de 2 anos até o limite de 3 meses para ações ajuizadas após a extinção do contrato de trabalho, obrigatoriamente submetidas à Comissão de Conciliação Prévia.

Situação: a PEC foi apresentada no apagar das luzes do ano legislativo de 2016. Deverá ser analisada sua admissibilidade na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara para, em seguida, ir à discussão em Comissão Especial.

Financiamento da contribuição sindical (PL 5795/2016)

O projeto: fruto da Comissão Especial sobre o Financiamento da Atividade Sindical, o projeto propõe uma reforma sindical que, entre outros pontos, dispõe sobre o rateio da contribuição assistencial, juntamente com a manutenção da contribuição sindical compulsória.

Situação: O PL 6706/2009 reúne outras 25 propostas que buscam modificar a estrutura sindical. É, portanto, o projeto que poderá dar cabo à reforma sindical. A matéria encontra-se na Comissão de Trabalho da Câmara (CTASP), onde é relatada pelo deputado Lucas Vergilio (SD-GO). O deputado ainda não apresentou seu parecer, porém deverá se manifestar sobre todas as  26 propostas que tramitam juntas. É possível que ele elabore substitutivo. A matéria deverá tramitar também pelas Comissões de Finanças e Tributação (CFT); e Constituição e Justiça (CCJC), por fim caberá ao Plenário da Câmara ultimar a votação

Terceirização e trabalho temporário (PL 4302/1998)

O projeto: a matéria é de autoria do Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, porém muito de seu texto foi alterado pelo substitutivo do relator na Comissão de Constituição Justiça (CCJC), deputado Laercio Oliveira (SD-SE), que permite a terceirização para atividades-fim e responsabilização subsidiária da empresa contratante, caso a contratada seja omissa quanto as obrigações trabalhistas e previdenciárias dos terceirizados.

Situação: O projeto tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados desde dezembro do ano 2000, portanto desde antes de ser encaminhado ao Senado. Isso significa que a proposta poderá ser incluída na Ordem do Dia, a qualquer momento, mediante acordo de líderes. O substitutivo do Senado Federal deve ser analisado ainda pelas Comissões de Trabalho (CTASP). Entretanto, os pareceres podem ser apresentados durante a apreciação da matéria no Plenário da Câmara.

Jornada móvel a comerciários (PL 1851/2015)

O projeto: permite que empresas atuantes no setor de comércio varejista possam firmar contratos de trabalho com base em uma quantidade específica de horas de trabalho por mês para cada empregado, as quais poderão ser distribuídas entre os dias do mês, respeitando o limite máximo de oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais.

Situação: aguarda votação de substitutivo na Comissão de Trabalho (CTASP) apresentado pelo deputado Fábio Mitidieri (PSD-SE). A matéria deverá ainda tramitar nas Comissões de Finanças e Tributação (CFT); e de Constituição e Justiça (CCJC).

Senado Federal

Matérias apresentadas

Em 2016 foram apresentadas ou enviadas para revisão 672 matérias legislativas, nesse número não computando as matérias de natureza orçamentária, projetos de resoluções e projetos de decretos legislativos. Seguindo o padrão da Câmara, o número é 45% inferior ao volume de novas propostas enviadas em 2015 (1226), sendo:

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Matérias aprovadas

Ao todo tramitaram pela Casa 3.734 matérias legislativas com o acréscimo das proposições não apreciadas nos anos anteriores, com aprovação de 151 proposições pelo Plenário da Casa, enquanto 83 projetos de lei foram aprovados terminativamente nas comissões.

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Cabe esclarecer que quanto às Medidas Provisórias, 33 foram apreciadas, com quatro aprovadas na íntegra e 29 foram aprovadas na forma de Projeto de Lei de Conversão (PLV).

Propostas contrárias ao interesse da classe trabalhadora que foram pauta no Senado Federal em 2016


Terceirização (PLC 30/15)

O projeto: matéria já aprovada na Câmara dos Deputados, o PLC 30/2015 permite a terceirização das atividades-fim das empresas, admitindo inclusive a quarteirização.

Situação: o projeto encontra-se no Plenário do Senado Federal, onde aguarda a votação de requerimentos. Antes, porém, deveria ser apreciado pela Comissão do Desenvolvimento Nacional (CEDN), mas a tendência é que em 2017 haja requerimento de líderes solicitando urgência à matéria e votação direto pelo Plenário. O relator da proposta, senador Paulo Paim (PT-RS), ainda não apresentou oficialmente seu parecer.

Contribuição Sindical facultativa (PLS 385/2016)

O projeto: de autoria do senador Sérgio Petecão (PSD-AC), o projeto estabelece que a contribuição sindical será devida somente pelos filiados aos sindicatos, em benefício de seus entes representativos.

Situação: a matéria encontra-se na Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS), onde o relator, senador Wilder Morais (PP-GO), apresentou parecer pela aprovação do projeto, com emenda. À CAS cabe apreciar o projeto terminativamente, ou seja, caso aprovado pela Comissão, a matéria segue à Câmara dos Deputados. Somente recurso subscrito por 1/10 dos senadores poderia solicitar apreciação do Plenário da Casa.

Contrato de Trabalho Intermitente (PLS 218/2016)

O Projeto: de autoria do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), o projeto altera a CLT para instituir o contrato de trabalho intermitente, em que determina que o valor da hora de trabalho dos empregados a ele submetidos não poderá ser inferior àquela devida aos empregados da empresa que exerçam a mesma função do trabalhador intermitente e que não estejam submetidos a contrato de trabalho intermitente.

Situação: o projeto encontra-se na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), onde o senador Armando Monteiro (PTB-PE), apresentou parecer pela aprovação do projeto, com substitutivo. À CAS cabe apreciar o projeto terminativamente, ou seja, caso aprovado pela Comissão, a matéria segue à Câmara dos Deputados. Somente recurso subscrito por 1/10 dos senadores poderia solicitar apreciação do Plenário da Casa.

Sustação da NR-12 (PDS 43/2015)

O projeto: de autoria do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), susta a aplicação da Norma Regulamentadora NR-12, do Ministério do Trabalho e Emprego, que trata da Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos.

Situação: encontra-se na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), onde o senador Armando Monteiro (PTB-PE), favorável ao projeto, com substitutivo. Após análise da CCJ, a matéria deverá ser apreciada também pelo Plenário do Senado.

O Governo


O comando do Poder Executivo reúne importantes recursos para viabilizar sua agenda no Poder Legislativo. Além da prerrogativa de apresentação de matérias legislativas privativas sobre a administração pública federal ou sobre a questão orçamentária, detém instrumentos estratégicos que facilitam sua interferência no processo legislativo. Tem ele a prerrogativa de editar medida provisória, a faculdade de pedir urgência para seus projetos de lei complementar ou ordinária, a facilidade de contar com líderes na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e no Congresso Nacional, além de ter a competência privativa de vetar projetos que considere inconstitucionais ou contrários ao interesse público e, principalmente, de sancionar e publicar as leis, assim como expedir os decretos e regulamentos para sua fiel execução.

Em 2016, a heterodoxia causada pelo impeachment da Ex-presidente Dilma requer análise diferenciada do contexto político em que atuou o Poder Executivo. Saiu-se de um governo com enormes dificuldades de angariar apoio congressual para votações de matérias com quórum qualificado, para uma administração que consegue a aprovação de emendas à Constituição. Em seu segundo mandato, Dilma Rousseff enviou quatro Propostas de Emendas à Constituição (PECs), porém nenhuma chegou a passar sequer da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

Já Temer, que começou seu governo em maio de 2016, conseguiu concluir a tramitação da PEC do teto dos gastos públicos e encaminhou o projeto de reforma da previdência, que requer também mudança na Constituição.

Produção Legislativa Dilma vs. Temer

Em 2016, o Poder Executivo apresentou o total de 87 matérias legislativas. Entre as proposições encaminhadas, pode-se destacar duas propostas de emenda à constituição, 56 medidas provisórias e 26 projetos de lei. Logo, para as análises a seguir, excluem-se proposições apresentadas e deliberadas sobre orçamento (lei de diretrizes orçamentárias, plano plurianual, projeto de lei orçamentária anual e projetos de decretos legislativos).

Foram separadas as propostas encaminhadas no governo Dilma das do governo Temer para que se compreenda melhor o perfil da atual administração.

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Tendo como premissa que em 2016 Dilma governou o país de 1º de janeiro a 12 de maio e Temer de 12 de maio a 31 de dezembro, podemos depreender que:

  • Temer governa por medidas provisórias. Ainda que tenha tido mais tempo de governo no ano do que Dilma, a média de Temer é de 5,5 MPs por mês, enquanto Dilma ficou com 3,6;
  • Verifica-se que no governo Temer mais de 77% da produção legislativa do Executivo no período em questão é constituída pela edição de medidas provisórias;
  • Temer enviou duas Propostas de Emendas à Constituição (PECs), sendo que uma já foi aprovada, enquanto Dilma não tinha maioria para se expor a tamanho desgaste político;
  • Temer evita se utilizar de Projetos de Lei (PLs) ou Projeto de Lei Complementar. Em ambos os casos ficou atrás de Dilma.

Medidas Provisórias

Em 2016 foram editadas 56 medidas provisórias.

9Entre as oito MPs que perderam eficácia, quatro foram encaminhadas ainda no governo Dilma e quatro no governo Temer.

Se o Parlamento não aprovar a medida provisória até o final de 120 dias, a MP perde validade desde a edição e o presidente da República não pode mais reeditar a proposta na mesma sessão legislativa. De acordo com a Constituição, as relações jurídicas decorrentes de atos praticados durante sua vigência ficam mantidas.

Vetos

O veto pode ser total ou parcial e traduz o poder de desaprovação exercido pelo Poder Executivo sobre o projeto de lei, medida provisória modificada ou projeto de lei complementar deliberado pelo Poder Legislativo.

Em 2016 foram apostos pelos Presidentes da República 52 vetos, conforme detalhados no quadro a seguir:

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Em 2015 a então presidente Dilma Rousseff vetou totalmente 19 propostas, de 64 vetos. Já em 2016, durante o período em que governou o país, Dilma vetou apenas parcialmente 16 leis e nenhum veto total. Michel Temer vetou totalmente apenas 3 leis. As outras 33 foram vetadas parcialmente. Esse comparativo mostra a maior sintonia entre governo e Congresso a partir da posse de Michel Temer.

Quanto à origem dos vetos, cabe destacar:

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O veto, no entanto, não é absoluto e poderá será ser derrubado se obtiver maioria absoluta de votos de cada Casa (41 dos senadores e 257 dos deputados federais).

Foram derrubados 3 vetos em 2016:

  1. Ao projeto que buscava aumentar o acesso das pequenas e médias empresas ao Supersimples (PLP 25/2007);
  2. Ao Projeto de Lei de Conversão que autorizou a liquidação e a renegociação de dívidas de crédito rural (MP 733/2016); e
  • Ao projeto do deputado André Moura (PSC-SE), que dispõe sobre a formação profissional e sobre benefícios trabalhistas e previdenciários dos Agentes Comunitários de Saúde e dos Agentes de Combate às Endemias (PLS 274/15).

Todavia, estão pendentes de deliberação 6 vetos, sendo que 43 foram mantidos dentre os remanescentes do ano anterior e os de 2016, demonstrando o poder de influência do Poder Executivo sobre o Legislativo.

A base de apoio no governo Temer

Michel Temer assumiu a Presidência da República interinamente no dia 12 de maio de 2016, sendo confirmado no cargo em 31 de agosto. Desde o princípio de sua gestão, a equipe de governo caracteriza-se pela extensa presença de Ministros oriundos do parlamento. É o que ocorre na pasta da Agricultura, comandada pelo senador Blairo Maggi (PR-MT); Relações Exteriores com o senador José Serra (PSDB-SP); no Ministério das Cidades com o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE); no Ministério da Cultura, chefiado agora pelo deputado Roberto Freire (PPS-SP); o Ministério da Defesa, a cargo do deputado Raul Jungmann (PPS-PE), entre outros.

O loteamento de cargos no primeiro escalão entre os partidos da base aliada é uma questão fundamental para que Temer continue com êxitos legislativos tão almejados por Dilma. Ademais, o apoio Congressual é de suma importância para que Temer consiga se manter na Presidência até dezembro de 2018. Ocorre que desde o primeiro mandato de Dilma Rousseff uma particularidade na base aliada tem requerido maior cautela por parte do Poder Executivo quanto ao poder de barganha desse grupo, que chamado de Centrão.

A principal característica do Centrão, até mesmo pelo nome que recebe, é quanto à volatilidade de suas posições, que mudam conforme o tamanho de espaço que ganham no governo, aqui se lê o acesso a indicações de cargos comissionados e liberação de emendas parlamentares. Partidos que ocupavam ministérios no governo Dilma desembarcaram de sua base aliada, para aproximarem-se de Michel Temer com o fito de garantir presença na esplanada.

Seu maior articulador foi o deputado-caçado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que comandou o Centrão a partir de 2012 e concretizou sua base de apoio em torno dele nas eleições de 2014. Sinal da força a que o Centrão chegou foi o episódio da escolha de André Moura (PSC-SE) como líder do governo Temer na Câmara. Moura era um estreito aliado de Cunha e foi escolhido por Temer depois de ter recebido o apoio dos partidos do Centrão, à época bastante fortalecido, e de parte do PMDB. A reprovação de PSDB, DEM, PPS e PSB não foi suficiente para deter a ascensão de André Moura ao posto. Michel Temer sabia de onde vieram os votos que afastaram Dilma e evitou se arriscar.

Com a saída de cena de Eduardo Cunha o Centrão começa a lentamente se desarticular, apesar de ainda causar temor no governo, especialmente com a proximidade da eleição à presidência da Câmara.

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De acordo com o Basômetro, ferramenta do jornal O Estado de S. Paulo que mede o nível de disciplina nas votações nominais nos Plenários:

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  • 81% é a média de parlamentares que votaram com o governo desde o início do governo Temer;
  • Em 154 votações nominais, 436 deputados votaram com o governo em 50% das vezes ou mais; e 105 deputados acompanharam o governo menos de 50%;
  • O alto índice de acompanhamento da orientação com o governo é fruto do esforço empreendido no sentido de se firmar acordos. Dilma terminou seu segundo mandato com uma média de 66% de acompanhamento na Câmara dos Deputados.

A oposição é claramente formada por PT, PCdoB, Rede, PSOL e PDT, sendo que esse último possibilita alguma margem de manobra, vez que acompanhou o governo em 44% das votações, o que não é pouco. Entre os partidos do Centrão, o mais rebelde é o PROS, que acompanhou o governo em 87% das votações. Disso depreendemos que Temer esteve em posição confortável com o Congresso, a chamada lua de mel de início de gestão. Com a chegada das eleições gerais de 2018 a tendência é que o governo tenha maiores dificuldades em manter esse alto índice de apoio legislativo.

1 Disponível em <http://estadaodados.com/basometro/> (consulta em 10 jan 2017)

No Senado Federal2 o basômetro registrou somente uma votação nominal. Dessa forma, para ilustrar a situação do governo na Casa foi escolhida a votação da PEC 55, sobre o teto dos gastos. No primeiro turno o governo conseguiu apoio de 75% do Senado, distribuído da seguinte forma:

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Como se percebe, no Senado o governo também dispõe de margem confortável para apreciar suas propostas. Na Casa não há o chamado Centrão, ao passo que o diálogo entre as bancadas dos senadores é facilitado pelo número reduzido em relação à Câmara.

2 Disponível em <http://estadaodados.com/basometro/> (consulta em 10 jan 2017)

Votações de interesse da classe trabalhadora

2016 foi caracterizado por intensa mobilização no Congresso no sentido de barrar o andamento de matérias prejudiciais à classe trabalhadora. Desse modo, o ano não teve a mesma quantidade de votações de peso com temas diretamente afeitos ao mundo do trabalho e ao movimento sindical, como foi verificado em 2015. Os governos que atravessaram o ano estiveram ocupados com outras medidas. Dilma Rousseff empenhada em vencer o processo de impeachment e mais tarde Michel Temer ocupado em dar cabo a medidas econômicas emergenciais, até mesmo para consolidar o apoio do setor produtivo.

Com isso, 2017 será o ano das batalhas legislativas em torno da reforma de temas do mundo do trabalho. A reforma da previdência já tramita na Câmara (PEC 287/2016), a reforma trabalhista foi enviada ao Congresso na antevéspera de natal (PL 6787/2016), além disso, a terceirização está no gatilho para ser votada, tanto no Senado (PLC 30/2015), quanto na Câmara dos Deputados PL 4302/1998).

Com base nesse cenário, vejamos as seguintes votações que ocorreram em 2016 e darão o tom da correlação de forças entre governo em oposição em 2017.

Reforma da previdência (PEC 287/2016)

Em 2016 a proposta de reforma da previdência (PEC 287/2016) teve sua admissibilidade aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) por 31 votos favoráveis e somente 20 contrários. A orientação das bancadas ficou da seguinte maneira:

  • PT, PDT, PTB, PSB, PCdoB, Rede, Psol e PHS orientaram o voto contrário à proposta;
  • PMDB, PSDB, DEM, PP, PR, PSD, PROS, SD, PEN, PTN, PSC, PPS e PV encaminharam o voto sim.

Se transpuséssemos essa proporção ao Plenário da Câmara, a reforma da previdência poderia ser aprovada por 314 votos favoráveis e 158 contrários. A pequena margem de segurança na aprovação da matéria obrigará o governo a ceder em alguns pontos da proposta. Entretanto, esse é o cenário em que Temer sabe que poderá contar com apoio.

Revisão de auxílios da Previdência Social

Em 2016 o presidente Michel Temer enviou ao Congresso a Medida Provisória 739, que propunha a realização de uma força tarefa no INSS no intuito de revisar a concessão de benefícios como auxílio-doença e aposentadoria por invalidez que haviam sendo concedidos há mais de dois anos. Matéria polêmica, não foi apreciada a tempo e acabou por perder a eficácia.

No mesmo ano, Temer enviou a mesma proposta, porém no formato de projeto de Lei (PL 6427/2016). Foi votada a urgência da matéria, que foi facilmente aprovada nos seguintes termos:

  • A urgência recebeu 300 votos favoráveis. Acompanharam a orientação do governo: PMDB, PSDB, PP, PTB, PSC, PR, PSD, PSB, DEM, PRB, PTN, PTdoB, PSL, SD, PPS, PHS, PROS e PV.
  • Tentaram obstruir a votação: PT, PDT, PCdoB, PSOL, e Rede. Mesmo assim, a obstrução somou somente 77 deputados, outros 16 de outros partidos discordaram com a orientação dos respectivos líderes e votaram contrários à urgência.

Considerações finais

Como percebido, 2016 foi um ano de números reduzidos em termos de produção legislativa, porém de intenso trabalho nos bastidores do Congresso no sentido de impedir o andamento de propostas maléficas ao trabalhador. Em momentos cruciais, a CNTC contou com a colaboração das Federações filiadas, que auxiliaram enormemente no diálogo com parlamentares dos respectivos Estados.

Ademais, a CNTC, por meio de sua equipe de relações institucionais, esteve sempre presente nas Casas Legislativas acompanhando as matérias de interesse da classe comerciária, tendo atuado também em defesa de pontos estratégicos para o movimento sindical, como o repúdio à proposta que torna facultativa a contribuição sindical (PLS 385/2016).

Além da presença constante nas reuniões e audiências públicas, foram organizados encontros entre parlamentares e os Diretores da CNTC.

Foi intenso o trabalho de convencimento dos parlamentares para que proposições negativas ao setor não fossem aprovadas, preservando assim os direitos conquistados e que são ameaçados sempre ao primeiro sinal de crise econômica. Entretanto, essas pautas iniciarão 2017 com toda força, o que exigirá bastante atenção e capacidade de mobilização do movimento sindical.

A luta continua e a CNTC objetiva continuar participando do processo decisório sobre os temas de sua área de atuação, desenvolvendo ações preventivas e antecipatórias, a fim de viabilizar uma maior participação da entidade no processo legislativo na defesa do movimento sindical e do avanço nas conquistas de direitos para os trabalhadores comerciários.

Em 2017 o cenário é de aprofundamento da agenda de desmonte do sistema de proteção social ao trabalhador. Ninguém é nada sozinho. E se queremos fazer algo grande, importante e que nos traga orgulho, precisamos fazer unidos. Alcançar o sucesso com um esforço coletivo é muito mais gratificante.

Estamos sempre dispostos a apresentar nossa visão e enriquecer o debate.

Cliquei aqui e baixe o Anuário Legislativo – 2016 em PDF

Brasília, 17 de janeiro de 2017.



Victor Zaiden - Relações institucionais da CNTC
José Francisco J. Pantoja Pereira - Diretor de Assuntos Legislativos